O Hospício

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"O medo é o maior inimigo do ser humano, ele entorpece os sentidos, nos paralisa, nos transforma em presas fáceis diante do predador."

Quando abri os olhos, soube que não estava mais na floresta. Estava tudo muito escuro e silencioso, tirando o barulho de uma goteira e o eco que ela fazia nas paredes.

Meu braço direito e a perna esquerda doíam demais para eu poder me mexer, mas pelo menos consegui me sentar. O chão abaixo de mim era frio, de concreto. Se houvesse luz no ambiente, sabia que poderia ver o vapor saindo da minha boca enquanto respirava.

Pude ouvir algo se aproximar, e todos os meus músculos enrijeceram. Era lento, e podia perceber que se locomovia usando os quatro membros, como uma alma, mas a presença daquela criatura, a energia dela, era duas vezes pior. Silvei, um gesto típico do demônio dentro de mim quando se sentia encurralado.

Havia uma coluna atrás de mim, e eu pressionava minhas costas contra ela. Podia sentir o cheiro de carne podre cada vez mais forte no ar, e o frio era quase insuportável. O som da aproximação da criatura parou quando estava próximo o suficiente para estar à minha frente. Prendi a respiração, tentando ouvir qualquer coisa.

Só havia a goteira e seu som repetitivo de eco. Fechei os olhos, sabendo que não conseguiria enxergar nem que estivessem abertos. Caçadores enxergavam no escuro, a não ser quando havia uma presença muito forte no local, como a de um demônio.

Engoli em seco. Sentia falta do meu machado, e, pelo lugar em que deveríamos estar, sabia que não me ouviriam se eu gritasse nem em mil anos. Vellem leverte. (Vamos morrer.) Pensei, e não houve resposta. A única coisa que podia ouvir além da goteira agora era o som da minha respiração e das batidas aceleradas do meu coração.

Foi quando eu senti uma corrente de ar em meu rosto, como uma respiração. Gritei, chutando o que quer que fosse para longe e me debatendo, sentindo a agonia de não poder ver o que havia à minha volta sabendo que algo me observava.

Você quer lutar, sabe que há com o que lutar, mas não pode ver. Só há o escuro e o aperto que o medo causa em seu coração. Sua respiração se acelera, e mesmo assim o ar não parece suficiente. Seus pulmões não trabalham direito, seu coração descompassa. O pânico corrói suas veias como ácido. E então uma luz se acende, e você vê uma criatura sob o holofote. Ela está parada de pé, as costas curvadas. Não pode ver seu rosto, pois está virada na direção contrária à sua. Pode ver que ela usa uma roupa parecida com as usadas em um hospício, acinzentado, cheio de sangue.

Seu coração se acelera. Você prende a respiração. Não sente mais seus músculos se movendo, não pode senti-los. Sabe que ela pode vê-lo, mesmo não estando olhando para você. Pode sentir seu olhar pesando em seus ombros. Sabe que ela quer e vai matá-lo.

Então ela começa a virar a cabeça em sua direção, sem mover um músculo além dos do pescoço. Sua cabeça vira 180 graus, e agora ela está olhando para você. Tem cabelos loiros quase brancos que caem em seu rosto, permitindo que você veja apenas os olhos brancos, que o observam arregalados.

Você tenta gritar, mas a voz está presa em sua garganta junto com o ar que tanto precisa e não consegue pegar. E então a luz pisca, e de repente a criatura está mais próxima que antes, ainda mais curvada, com o rosto à frente do seu, e pode sentir sua respiração. Não tem forças para bater, se debater. Sabe que é o fim.

Seus dedos envolvem sua perna, que sangra de um ferimento profundo, e ela o puxa pelo lugar. E finalmente você consegue gritar, fincando as unhas no chão e ouvindo o som agoniante delas arranhando o concreto sem conseguir se agarrar em nada misturado ao dos seus gritos e do arrastar da perna quebrada dela.

Pode ver uma trilha de sangue pelo caminho pelo qual ela te arrasta, e percebe que está em um corredor de paredes de azulejo branco, com várias macas vazias de ferro. Está em um hospício abandonado. Não tem mais saída. E, quando vê que a criatura a arrastou para um quarto, e que a única porta agora presente se fecha, você sabe que vai morrer.


Capítulo exclusivo do livro Caçadores de Almas - Portal para o Inferno , da escritora Ana Beatriz Brandão, que será lançado em 2017

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⏰ Última atualização: May 13, 2016 ⏰

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