Epílogo

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Observo o movimento na rodoviária enquanto aguardo o horário do meu ônibus. Quase pulo de susto quando uma sombra enorme cobre a minha visão. Respiro fundo tentando manter a calma ao reconhecer a figura tatuada.

— Está perdendo o seu tempo, Caveira. – Ele sorri de lado de um jeito misterioso antes de se sentar ao meu lado no banco, que agora parece pequeno demais para um homem do seu tamanho.

— Pequena, você sabe que assim que eu ligar ele vai chegar aqui em minutos. – Suspiro cansada.

— O que eu sei, é que se fosse para ele estar aqui, já estaria e não você. Também sei que se você não ligou até agora, não irá mais ligar. Só diz logo o que quer e vá embora. – Não sei qual a graça para esse homem sorrir tanto, chega a ser sombrio.

— Uns seis anos atrás ele chegou no meu escritório perdido em pensamentos e me pedindo para mandar os meus melhores homens para cuidar de você. – O olhei espantada, Damon mandou me vigiarem? – Naquele momento, mesmo sem te conhecer ainda, eu sabia que você era um problema dos grandes, bem como sabia que iria o ferrar como nenhuma seria capaz. Aparentemente eu nunca erro. – Ele olha para algum canto qualquer enquanto parece ponderar se continua ou não a falar.

— Como amigo você deveria tê-lo impedido, já que eu sou uma megera sem coração. - Ironizo. –Não venha até aqui me culpar por ferir o ego dele. – Falo irritada. Eu quem tenho que acusar alguém aqui, eu sou praticamente a vítima dessa merda de história.

— Calma gatinha, guarde suas garras para quem precisa. Só acho que você merece saber um pouco do outro lado da situação e sei que não vai ouvi-lo, até porque aquela prostituta não sabe dizer o que sente... Enfim, posso continuar? – Reviro os olhos antes de concordar. – Quando ele te viu pela primeira vez, foi de longe e ainda estava bêbado como um gambá. Você entende que entrou no sistema dele sem que ele pedisse ou esperasse por isso? Coisas desse tipo não acontecem por acaso, pequena Megan.

— Aonde quer chegar com isso, Caveira? – Pergunto tentando ignorar o leve pulo que meu coração deu. Ele sorri outra vez.

— Não me apresse que estou no meu momento filosófico. – Não consigo não sorrir, se eu já não estivesse tão ferrada, com certeza Caveira é um cara que eu iria querer conhecer melhor. – Antes de você, ele não se importava com as mulheres em sua vida, muito menos em como elas ficavam depois, não foi uma fase de se orgulhar. Você conheceu a Lucy, viu como ela estava quando se conheceram, ela parecia sem vida. – O olho desconfiada.

— E como você sabe disso? – Ele abre um sorriso que julgo ser perigoso.

— Eu te disse que eu sempre sei de tudo. – Sinto um arrepio ao imaginar o quanto ele sabe. – Continuando. Com você tudo foi diferente, Damon esperou anos para se aproximar por medo de te machucar. Ele passou a vida inteira acreditando que não era capaz de amar, até o dia em que ele soube do seu casamento. Foi até engraçado de ver, o cara ficou louco, detonou os adversários no ringue em segundos, mas nada o acalmava. Como já esperado, ele teve uma crise das feias, Tony não sabia o que fazer então o dopou com aqueles remédios, quando ele acordou se afundou na luta novamente. Um dia ele não aguentou não saber se você estava bem e me chamou, foi quando eu contei a ele que o casamento não havia acontecido... – O interrompo.

— Então ele sabia. – Caveira nega.

— Eu não disse o motivo, isso poderia o deixar ainda pior, então o protegi. Damon pode ter muitos defeitos, mas ele nunca faria algo que pudesse te machucar intencionalmente. – Por mais que não queira, eu sei que isso é verdade. – Antes de fazer algo que possa se arrepender futuramente, pensa um pouco e converse com ele quando se sentir pronta. Ele é um homem melhor quando está com você, Megan. – É lindo o jeito como os rapazes o protege, mas quem está ferida aqui sou eu.

— Mas e quanto a mim? Quem me protegeu dele? – Respiro fundo sentindo meu corpo e minha mente pedirem descanso. – Eu o amo Caveira, está doendo até agora aqui. – Coloco a mão sobre meu coração. – Mas eu não posso carregar o peso de ter que entender os sentimentos do seu amigo. Eu não conheço o passado ou a história dele porque ele não quis que eu soubesse, mas o que eu sei é que... – Suspiro. – Quando se sofre, se é quebrada o tanto de vezes que eu já fui é cada vez mais difícil recolher os cacos do que restou e se recuperar. Eu não sou forte. – Ele parece pensar no que eu disse. – Eu ainda não entendi o porquê você veio até aqui. Mal nos conhecemos. – Seu olhar parece queimar minha alma através dos meus olhos. Céus, o que esse homem guarda dentro de si?

— Porque você iluminou a vida do meu melhor amigo de um jeito que eu nunca achei ser possível, porque a seis anos quando soube tudo sobre você, entendi o motivo de Damon ter se encantado, mesmo sem te conhecer ele sabia que você era diferente de qualquer outra, tão diferente que é perfeita para ele. E algumas semanas atrás eu finalmente te conheci pessoalmente e ver vocês dois juntos foi uma das coisas mais certas que já presenciei. O que vocês têm é especial, quando é para ser nem o tempo é capaz de mudar o final da história. Alguns chamam de destino, outros de obra divina e tem aqueles que dizem que foi uma conspiração do universo. E claro, você já é da família também. – Ele quebra o contato visual e agradeço mentalmente por isso, senti como se cada palavra estivesse sendo cravada em mim. – Antes que eu me esqueça, você pode se achar qualquer coisa, menos fraca. Eu sei que você não contou tudo pelo que passou a ele e sabemos que pessoas fracas não teriam forças o suficiente para seguir em frente. – Ele completa me deixando saber que ele sabe de absolutamente tudo. Esse homem é humano mesmo?

— Você também não contou. Eu não consigo entender por que você e Tony o defende tanto. – Ele me lança um sorriso que posso jurar ser um pouco triste, o que me deixa um tanto curiosa.

— Eu não contei porque é algo pessoal, é seu, sendo assim você deveria contar a ele quando se sentir segura o suficiente. Além domais, eu não sou fofoqueiro, esse é o papel da prostituta do Tony. – Ele parece pensar outra vez se vai me dizer algo, aparentemente ele faz muito isso. – Todo mundo tem uma história, algumas são mais felizes que outras, mas a do Damon... A dele nem de longe é feliz, pequena Megan. – Engulo em seco e decido mudar de assunto.

— Por que fica me chamando de pequena? Eu nem sou baixa. – Ele ri.

— Eu meio que vi você crescer nesses anos. Nossa me senti um velho esquisitão agora. – Ele faz uma careta. – Seu ônibus chegou. – Me levanto.

— Você vai contar a ele sobre a nossa conversa estranha? – Ele me lança um sorriso misterioso antes de se levantar.

— Não demore para voltar, pequena. Vou ficar com saudades. – Ele me abraça e sorrio. É meio contraditório a sua aparência com a sua fofura. – Quando chegar ao seu destino terá alguém te esperando, também já providenciei onde você vai ficar e é melhor não discutir. – Ele diz sério quando se afasta.

— Não preciso que você tome conta de mim, Caveira. – Pontuo.

— Não perguntei se você precisa, vai ser assim e ponto. Por mim você iria de avião, mas sei do seu medo. Tome seu tempo, descansa sua mente. Acho que está precisando. – Sorrio pela preocupação dele. – E pode me chamar de Allan.

— Até qualquer dia, Allan. – Me despeço e sigo para o ônibus.

[...]

Agora sentada no ônibus percebo que não sei nada sobre o homem com quem me casei de forma imprudente. Não sei o que o levou a fazer tudo isso, ele poderia não ter me comprado ou escolhido qualquer outra para ser sua esposa, mas ele escolheu a mim por algum motivo.

Pelo visto já tenho planos para quando eu voltar, mas por agora preciso me reconectar comigo mesma, juntar os pedaços do meu coração e só então descobrir cada detalhe dessa história, porque algo me diz que faltam coisas importantes e infelizmente as respostas não virão até mim através de um sonho.

Damon é como um vulcão em constante erupção, ele me consumiu. Consumiu todo o meu ser e está sob a minha pele. Talvez eu ainda não esteja pronta para abandoná-lo totalmente.

Quem entende o amor? Ele causa tanta dor e ainda assim insistimos nele. O amor deveria ser considerado uma doença sem cura.

Continua...

O Lutador - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora