A suspeita

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Duas semanas haviam se passado desde a visita do meu pai e o término do meu namoro com Daniel. Duas semanas vivendo no inferno. Eu vivia para a faculdade e para o trabalho. Minhas notas ainda não tinham começado a despencarem, mas estava faltando pouco. Apesar do meu esforço, parecia que nunca era o suficiente.

No trabalho, posso dizer que eu estava tentando o meu melhor. Não estava chegando atrasada, porém também não estava fazendo o meu melhor. Uma vez ou outra, eu acabava trocando o pedido dos clientes, o que deixava Valter ao ponto de arrancar meus cabelos.

Nem Daniel, e nem seus amigos apareciam para almoçarem ou fazer um lanche. O que dei graças a Deus. Já era difícil demais encontrar com ele na faculdade ou em eventuais encontros de amigos.

O que me levou a sair menos. Eu não queria correr o risco de vê-lo com outra garota. Na verdade, eu entrava em pânico só de pensar nessa hipótese. No dia seguinte ao fim do nosso namoro, Decan cuidou para que todos soubessem que não estávamos mais juntos. Por dois dias, eu não conseguia entrar em uma sala de aula sem ouvir os burburinhos.

Minha esperança era que todos se cansassem logo dessa fofoca e fossem falar de outra pessoa. Decan voltou a falar com Daniel, imagino que depois de me ver fora do caminho, ele terá alguma chance com ele.

Ágatha também estava se aproximando aos poucos. Lana soltou sem querer que viu os dois conversando sozinhos. Eu saí de perto antes que ela terminasse a frase. Ainda estava sendo difícil aceitar o fim, mesmo com todas as suas ofensas, meu amor por Daniel continuava o mesmo.

Olhei para o relógio, passava um pouco das quatro. Eu precisava descansar. Há dois dias comecei a me sentir estranha. Um sono incomum e uma fome que eu nunca tive. No primeiro dia não me importei muito, o esforço para estudar para as provas finais poderia ser a causa disso.

Ontem, enquanto estava trocando de roupa, Lana passou um pouco do seu perfume, e o cheiro me fez correr para o vaso e vomitar todo o meu café da manhã. Ela ficou preocupada, entretanto, eu a tranquilizei falando que eu poderia ter comido alguma coisa estragada.

Mas hoje de manhã aconteceu a mesma coisa, só que com o cheiro de café, e olha que eu adoro café. Estella me olhou atravessada, mas não falou nada. Depois me aconselhou que eu deveria procurar um médico por que ultimamente eu estava agindo estranha.

E é claro que eu ignorei sua preocupação e fui para aula, só para meia hora depois sair correndo procurando um banheiro.

Não consegui almoçar, por que de repente todos os cheiros estavam me deixando enjoada. Comprei uma vitamina de banana, tomei pela metade e corri para o trabalho. Cheguei um pouco antes do meu horário e fui tentar descansar um pouco no vestiário.

— Por que não me esperou? Poderíamos ter vindo juntas.

— Nem passou pela minha cabeça.

— Você anda tão distraída nesses últimos dias. Eu sei que você não gosta de falar sobre isso, mas você precisa superar o fim do namoro.

— E você acha que eu não sei? Mas não é assim tão fácil. Estou sempre vendo ele ou ouvindo sobre ele. Eu preciso ficar longe...

Uma onda grande de náuseas me bateu e eu corri para o banheiro. Por pouco eu não sujo o chão com meu vômito. Lana veio logo atrás de mim e ficou passando a mão nas minhas costas enquanto eu colocava tudo para fora.

Recuperada, fui até a pia e lavei minha boca para tirar o amargo e depois lavei meu rosto. Quando me virei, Lana estava me encarando.

— O que foi Lana? Estou verde ou coisa parecida? — Eu sorri.

— Cristal, você está grávida?

— Eu o quê? Não... Claro que não... Que pergunta idiota... — Falei revirando os olhos.

— Qual a data da sua última menstruação?

— Foi... — Fiquei pensando na data, procurando na memória, mas não me veio nada. — Foi... Ai meu Deus... — Falei olhando para Lana.

— Cristo... Cristal, eu não acredito que de todas as garotas espertas...

— Nem termine essa frase...

— Cristal, você está grávida. — disse jogando as mãos na boca.

— Não. Eu não estou grávida. Isso é impossível por que... — Eu parei de falar.

— Por que... — Lana fez um gesto para que eu continuasse a falar.

— Oh meu Deus. — Foi minha vez de jogar minhas mãos na boca.

— Fala logo Cristal.

— Teve uma vez... A gente meio que se descuidou...

Meio que se descuidou?

— É... Só foi uma vez...

— E só bastou essa vez.

— Quer dizer, acho que foram duas...

— Cristal, você... O Daniel... Meu Deus... Eu...

Lana começou a andar de um lado para o outro como se o problema fosse dela.

— Você quer parar de andar assim, estou ficando enjoada.

— Para de falar essa palavra. Vamos à farmácia comprar um teste... Não, na verdade, vamos à clínica fazer um teste de sangue... Isso, sangue...

Lana começou a procurar sua bolsa.

— Onde você pensa que vai? Estamos na metade do dia. Você acha que o Valter vai deixar nós duas sairmos? Ainda mais para fazer um teste de gravidez? Vamos ficar calmas, ok? Eu não estou grávida... Eu não posso estar grávida...

— Só saberemos quando o resultado sair. Vai falar com Valter, diz que está passando mal e que precisa ir ao médico.

— Você está mais preocupada do que eu. — Falei.

— É verdade, não sou eu que estou grávida, não foi meu namorado que terminou comigo e ainda não concluí a faculdade... Tem razão, eu não devo me preocupar. — Disse sendo sarcástica.

— Você está certa, mas eu não posso entrar em pânico antes de fazer o teste.

— Então para de pensar e vai logo.

Falar com Valter foi mais fácil do que eu pensei. Eu deveria estar mal mesmo, por que ele nem questionou minha rápida saída no meio da tarde.

Quando cheguei à clínica, o horário de funcionamento já tinha encerrado. Dei a viagem perdida. Perderia a aula de amanhã e voltaria para fazer o teste. Eu estava fazendo o caminho de volta quando passei em frente a uma farmácia e parei na dúvida se entrava ou não.

Entrei e comecei a passear pelas prateleiras, disfarçando enquanto procurava o teste de gravidez. Quando encontrei, peguei e fui direto para o caixa. Eu tinha certeza que não estava grávida, eu faria isso só pra deixar minha consciência tranquila.

O atendente me olhou desconfiado quando entreguei o produto. Dei meio sorriso e entreguei o dinheiro quando ele me falou o valor. Agradeci e saí apressada da farmácia. Quando voltei, Lana estava terminando de limpar sua mesa e a vi caminhar em minha direção com várias perguntas estampadas no seu rosto.

— E então?

— E então que a clínica estava fechada.

— Merda.

— Mas passei na farmácia e comprei um teste.

— Não é cem por cento garantido, mas é melhor do que nada. Vai fazer agora?

— Não. Não vou fazer isso aqui.

— Ok, você está certa. Vamos fazer na sua casa quando sair daqui.

— Estella vai surtar.

— Eu já surtei horas atrás, por que ela não surtaria também?

Seria engraçado se não fosse trágico. Pensei.

Segunda ChanceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora