Enquanto dure

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– Sabe do que você precisa realmente, minha filha? Amar. Como diz que vai dar conselho a seu irmão, se provavelmente ele entende muito mais de amor com tão pouca idade do que você? Acho tão triste vê-la passear com um monte de rapazes bonitos e não se apegar a nenhum deles.

Touché. Eu sei que não posso discursar sobre amor e essas coisas todas do coração, quando ainda não experimentei esse sentimento com um homem. Contudo, quem disse que a conversa precisa ir por esse caminho?

A maldita imagem de Eros me possuindo com gana, vontade, preenche minha mente de novo. Não posso negar o quanto ele mexe comigo de forma tal como nenhum outro já conseguiu. Eu nunca amaria um bastardo cretino como ele, mas confesso que gosto da adrenalina em meu sangue quando está próximo a mim.

– Um dia eu encontrarei o amor, dona Marlene, e viverei esse sonho cor-de-rosa que a senhora tanto insiste em desenhar. Acontece que no momento preciso me preocupar com assuntos mais práticos, como o pai de Antônia, por exemplo.

Quase derrubo a jarra de leite quando ouço a voz grossa do meu irmão, me questionando.

– O que tem o pai de Antônia?

Eles descem as escadas juntos, minha priminha com ar desconfiado, sem aquele sorriso frouxo tão peculiar dela.

– Sentem-se primeiro e tomem seu café. – eles o fazem, um ao lado do outro, sentindo que o clima está um tanto pesado. – Por que está aqui durante a semana, Antônia? Seu pai permitiu?

Ela olha para Gui, procurando a segurança de que precisa para iniciar a conversa. Ele lhe dá um olhar tranquilizador, acenando positivamente.

– Ele... ele foi agressivo comigo ontem e eu tive que sair de casa.

Meu sangue ferve por saber que ele continua o mesmo crápula de sempre. Deus, o que ele inventou dessa vez?

– Houve algum motivo especial?

Ela respira fundo, olhando para o teto, perdida em pensamentos.

– Meu pai quer que eu conheça o filho de um banqueiro com quem ele está fazendo acordos. Diz que já está na hora de planejar meu futuro antes que me deixe levar pela paixão e acabe nos braços de um perdedor qualquer.

Bato na mesa, raiva me consumindo. Como ele pode ser tão asqueroso? Que tipo de homem ainda vende sua própria filha em pleno século XXI?

– Meu Deus, ele está passando dos limites. E tia Ester não fez nada?

– Você sabe como ela é, Linha. Ela não tem coragem nem forças para brigar com meu pai, então acaba concordando com tudo que ele diz. Eu não quero acabar como ela.

– Nem vai. – Gui me surpreende com sua impulsividade. – Antônia ficará aqui conosco pelo tempo que for preciso até aquele velho baixar a guarda. Se ele decidir que ela não precisa mais voltar, melhor ainda. Ela fica para sempre.

Ah, tudo é tão fácil na mente de dois adolescentes, não? Por que a gente simplesmente não vai passear na floresta, procurar frutas pelo caminho, sem ter medo do lobo mau?

Gui é o extremo contrário do que eu sempre fui. Ele é apaixonado e sonhador. Eu sempre tive meus dois pés presos ao chão desde que me entendo por gente. Talvez Eros tenha ajudado a me dar essa porção de realidade na infância. Desde cedo descobri o quanto as pessoas podem se aproveitar, se você tiver um coração mole.

– Terminem o café de vocês e depois podemos conversar com mais calma.

Eles assentem, mantendo um silêncio incômodo, enquanto comem quase forçadamente. Dona Marlene alisa os cabelos de Gui e ele lhe oferece um sorriso fraternal. Ela senta-se conosco e me desafia com o olhar. Deus, ela mima demais meu irmão a ponto de estragá-lo. Apesar disso, todos nós a amamos como parte da família.

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