Vinte e cinco

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Quando o amor não importa mais, não existe esperanças de um futuro feliz.

- Mas é claro que foi você! Como eu não pensei nisso antes? - Digo, enquanto solto um risada irônica.
- Não sei do que a senhora está falando. - Diz Raven, percebo que ela tenta esconder o nervosismo.
- Não foi ela quem fez isso, Carol. - Diz Thomas. - Raven não tem motivos para se meter em nossa vida.
- Você não percebe os olhares que ela te dá? - Paro, olhando-o. - Você nunca vai acreditar em mim não é? Não importa quem tenha culpa, você nunca vai querer acreditar em mim. Acho que você tem razão... acabou.
Saio do quarto antes que Thomas possa responder, ando pelo corredor de cabeça erguida, mas as lágrimas já enchem meus olhos. Desço as escadas e quando estou abrindo a porta escuto uma risada atrás de mim, viro-me e vejo Raven descendo as escadas, me olhando e rindo, limpo as lágrimas rapidamente.
- É incrível como tudo ocorreu perfeitamente. - Diz ela, andando em minha direção.
Foi ela, eu sabia. Minha burrice foi não ter percebido antes, não deveria ter sido tão precipitada, acusando Carrie Edwards e feito tal crueldade, que ainda me arrependo muito.
- Fico feliz por você. - Digo, sem demonstrar fraqueza, com a raiva viva dentro de mim. - Mas como e por que fez isso?
- Foi fácil de mais, ninguém desconfia da empregada. - Ela da uma risada, vendo-a desse ângulo percebo que Raven é uma mulher muito sensual. - Sou amiga da empregada da casa dos Edwards, eu estava visitando minha amiga no dia em que Carrie chegou com suas amigas, rindo e dizendo que conseguiu tirar uma foto sua beijando uma garota. Por sorte, lembrei disso quando montei meu plano, fiz uma visita à minha amiga e roubei a foto, depois foi só dizer para Thomas que chegou uma carta para ele. Mas na verdade, eu quem fiz a carta, coloquei o endereço dos Edwards e dei para Thomas com os dizeres: Acho que isso prova quem sua namorada é, uma mentirosa. - Ela cita o que estava escrito na carta, sem perceber que Thomas está no topo da escada, escutando tudo. Aproveito para atuar, fingindo que não o vi. - E por fim, quando você ligou para ele, eu imitei a voz de Carrie quando eu estava dando encima dele.
- Mas por que? Por que destruir meu namoro com Thomas e ainda envolver Carrie nisso? Que mal eu te fiz? - Digo como uma pobre coitada.
- Simples - Diz ela chegando mais perto, como se estivesse me ameaçando. - você apenas se meteu na família errada. Eu vou casar com Thomas, eu serei uma Parker, rica e poderosa na cidade.
Percebo que queremos as mesmas coisas, a diferença é que eu amo Thomas e não ligo para ser uma Parker, e a maior diferença: eu não sou burra como ela.
- É uma pena ver que você não conseguirá. - Diz Thomas, já atrás de Raven. Ela se vira assustada, sinto seu corpo estremecer enquanto ele fala. -Eu nunca ficaria com você, você nunca será uma Parker, muito menos rica e poderosa. Você está demitida.
- Você... Você não pode me demitir... Apenas o sr. Parker pode. - Diz ela, vejo o desespero tomar seu corpo.
- Ele vai me dar razão quando souber tudo o que você fez.
- Por favor, Thomas. Se eu for demitida serei deportada, não faz isso comigo. - Ela olha para mim. - Eu juro que não farei mais nada, pede a ele, Carol. - Vejo seu desespero, ela precisa desse emprego. Raven contava com tudo, menos que isso aconteceria a ela.
- Eu não posso fazer nada, isso é coisa de família. - Digo, mesmo podendo fazer algo, essa será minha vingança, por mim e por Carrie, mesmo ela não querendo se vingar de nada. Raven é a culpada de tudo o que aconteceu, culpada pelo que fiz a Carrie, e ela pagará sendo deportada e não podendo fazer nada quanto à isso.
- Arrume suas coisas, Raven. - Diz Thomas, já ligando para seu pai.
Raven corre para seu quarto, chorando. Me viro e vou embora, pois mesmo Raven tendo sido desmascarada, não existe mais nada entre Thomas e eu.

+++

Estou no precipício, sentada, encostada à uma árvore, observo toda cidade daqui. Ainda é de manhã, acabei de vir da prefeitura, hoje é domingo e eu não trabalho, mas acordei com uma ligação do sr. Parker que me pediu para ir até a prefeitura para entregá-lo alguns documentos que ficaram em minha bolsa, eu o entreguei e não quis ir para casa, então vim para cá, para pensar.
Hoje é o dia em que Carrie vai embora, acabei de ligar para ela, para desejá-la uma boa viagem e uma boa vida nova, e claro, para pedir perdão mais uma vez. Carrie ainda estava indo para o aeroporto, mas já está mudada, agora ela é uma pessoa calma, que procura apenas ser feliz. Carrie me perdoou e disse que já mandou reconstruírem a lápide de sua mãe, eu a prometi que iria todos os dias levar rosas brancas para a sra. Edwards e percebi quando ela abafou o choro quando disse: Obrigada. Camila está triste pela ida de sua amiga, elas deveriam ser mesmo próximas.
Fecho os olhos e sinto a grama em meus pés descalços, - tirei os sapatos assim que entrei na mata, não queria quebrar o salto - sinto o sol tocar minha pele pelas brechas das folhas das árvores, escuto o cantar dos pássaros, sinto o ar a minha volta. Lembro de Thomas e dos ótimos momentos que vivemos aqui.
Sinto algo roçar minha mão, quase pulo pensando ser um animal, olho e vejo a manga de uma blusa saindo de dentro de um arbusto. Puxo e vejo que é a blusa social que Thomas tirou para irmos juntos para a formatura, lembro-me de quando ela caiu encostada à árvore. Pego em minhas mãos e a observo, ela é branca, mas agora está suja de terra, possui listras azuis, está com vários botões faltando e rasgada por algum animal. Não me importo com a sujeira, abraço a camisa, de olhos fechados, sentindo-a em meu corpo, como se ela fosse Thomas. Acabo chorando.
- Eu sinto tanto a sua falta. - Sussurro para a camisa.

+++

Um longo tempo se passa e eu ainda estou sentada, abraçando a blusa de Thomas. Resolvo me levantar e ir até a cachoeira, sem tirar a camisa de meus braços.
Quando chego, vejo Thomas sentado de pernas cruzadas em frente água, de costas para mim, fico parada por um minuto sem saber o que fazer, quero correr até ele e abraçá-lo, tocá-lo, beijá-lo, senti-lo... Mas isso acabou, então me viro para ir embora.
- Você não precisa ir só porque estou aqui.
Respiro fundo e me viro, Thomas está de pé me olhando, vejo que tem duas fotos em sua mão esquerda, as fotos que tiramos outro dia, aqui na cachoeira.
- Não estava indo por causa de você... Eu tenho mesmo que ir. - Digo fraca, porque eu realmente estou fraca.
- Carol... O que aconteceu? - Ele olha a camisa em minha mão e anda até mim.
- Nada, só estou indo para casa...
- Não. O que aconteceu entre nós? Parece que tem um muro entre a gente agora. - Diz ele a dois passos a minha frente, tão perto que eu poderia tocá-lo.
- Acho que a confiança é a base de um relacionamento e se você não confia em mim, não tem mais como...
- Eu confio em você, só sou inseguro de mais. - Diz ele olhando para a grama, sinto que ele se culpa pelo fim do nosso namoro.
- Inseguro por quê? Eu te amo. - Um peso sai de minhas costas, era essa a frase eu queria dizer para ele todos esses dias. "Eu te amo".
Ele olha para mim, vejo um brilho em seu olhar, que some tão rápido quanto veio, substituído por uma tristeza. - Eu te amo mais do que... Não existe palavras para descrever o quanto eu te amo.
Me aproximo dele e o beijo, não aguentava mais segurar, ele deixa as fotos caírem para me envolver no beijo e eu deixo sua camisa cair, para fazer o mesmo.
Nosso beijo é intenso, como se tivéssemos sede um do outro, necessidade, como se precisássemos disso para viver. Sinto que era tudo que ele queria desde que terminamos, assim como era tudo que eu mais queria.
Nosso beijo parece não ter fim, estou ofegante, beijando-o a alguns minutos, - mas pareceram apenas segundos - e mesmo assim não estou cansada, não saciei minha sede de beijá-lo, senti-lo.
Ele interrompe o beijo, se afasta, pega as fotos do chão e anda até a beira d'água, se senta com os cotovelos apoiados no joelho e fica de cabeça baixa. Fico parada vendo a cena e sinto que tem algo de errado.
Pego sua camisa do chão e ando até ele, sento ao seu lado alisando seu braço e digo preocupada . - O que aconteceu?
- Aconteceu que eu te amo. - Diz ele levantando a cabeça para me olhar. Seu olhar é triste.
- Eu também te amo, isso não é bom? - Digo procurando entender o que há de tão ruim nisso.
- Isso é maravilhoso, mas nada disso importa agora.
- Por que não? - Digo depois de algum tempo, tenho medo de sua resposta.
Ele me beija, um beijo curto, depois segura minha mão, entrelaçando nossos dedos, e diz. - Eu passei para uma faculdade de medicina em Londres. Acabou, Carol... Acabou.

CarolOù les histoires vivent. Découvrez maintenant