Reféns

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Enquanto éramos mantidas sob a mira do revólver do segundo bandido, aquele que me rendera e que, ao que parece, exercia a liderança, iniciou os procedimentos: recolheu nossos celulares, apagou a imagem que eu havia feito há pouco do veículo lá fora e vasculhou cada canto da casa em busca de câmeras, escutas e quaisquer outros mecanismos de segurança e comunicação. E houve a primeira preleção:

-Sabemos quem a senhora é e onde trabalha. Sabemos muito sobre a senhora. Muito mais do que a senhora imagina. A casa está cercada. Temos pessoas seguindo seus colegas e acompanhando o trabalho da polícia. Sabemos a localização de cada viatura. Não queremos nada da senhora, apenas o dinheiro que está na agência. Sabemos quanto tem lá - Citou uma cifra muito próxima do valor real. E prosseguiu:

- Sua filha será nossa garantia. Ficaremos aqui nesta noite. Amanhã sairemos com ela. A senhora, por sua vez, seguirá a rotina diária: irá para o seu trabalho fazendo o mesmo caminho e usando as mesmas roupas de hoje. Lá chegando receberá novas instruções.

Fomos conduzidas para a sala onde ficamos sentadas no sofá diante da TV ligada. Não tínhamos autorização para nos locomovermos livremente. Se precisávamos ir ao banheiro, pedíamos permissão e alguém nos acompanhava. Se quiséssemos beber ou comer seríamos servidas ali mesmo. Evidentemente não tivemos fome ou sede.

Minha filha agora parecia tranquila. Não chorávamos, não fazíamos questionamentos. Não oferecíamos nenhuma resistência. Nem mesmo fora necessário utilizar as vendas, as mordaças e as algemas descartáveis. Eu disse à minha filha: "não se preocupe, vou entregar o dinheiro. " Teria que contar com a colaboração de meu colega, mas, estava disposta a qualquer coisa para obter seu apoio e comprar a vida de minha filha.

Outros membros da quadrilha começaram a chegar: uma moça de uns vinte e cinco anos, aproximadamente, bem vestida, cabelos bem tratados; um senhor de meia idade usando roupas pelo menos uns dois números maior que o seu.... Tomaram posse da nossa casa.

Entravam, saiam, movimentavam-se em todos os cômodos, abriam a geladeira. E comiam, como comiam! Apenas eu e minha filha não podíamos nos levantar do sofá.

Em todo esse tempo faziam e recebiam ligações em seus celulares. Recebiam informações sobre a movimentação na casa de meus colegas, sobre a posição das viaturas policiais, sobre a situação da nossa rua. Discutiam sua estratégia, davam e recebiam instruções.

Fui levada para a outra sala e obrigada a me sentar em uma cadeira. Então iniciou-se uma sessão de ameaças. Um revólver era constantemente esfregado em meu rosto, enquanto várias fotos me eram mostradas. Nelas, várias situações e locais nos quais eu estivera presente nos últimos noventa dias: o salão de beleza, a festa de despedida de um amigo, a fachada de minha casa em diferentes momentos e datas...

E fui lembrada de momentos e pessoas: "Quem era aquele senhor em cujo carro a senhora entrou em tal data e em tal lugar? ". "O que a senhora fazia em tal ambiente na data tal? ".


Fatos dos quais nem me lembrava mais. Em sua maioria não relacionados ao meu trabalho. Eu tivera minha vida devassada.... Nunca me senti tão vulnerável.

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A Felicidade Não Está A Venda! (para degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora