04 - Inesperado

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Quarenta minutos depois fui até a biblioteca como combinado. Estava escura e silenciosa, resolvi ir até a minha poltrona acendendo apenas o abajur. Eu estava feliz, mas não conseguia me livrar de uma estranha sensação que circulava pelo meu corpo.

Diogo não demorou, logo estava ajoelhado na minha frente, colocou um pacote verde em meu colo.

—Encomendei especialmente pra você.

—Encomendou?

Ele assentiu.

—Abre, estou curioso pela sua reação.

Fiz o que ele pediu e me deparei com um lindo e grosso caderno de desenhos de capa de couro marrom, com meu nome gravado. Além de um estojo dos mais caros lápis de carvão perfeitos para meus desenhos. Não consegui impedir que as lágrimas rolassem pelo meu rosto, eu estava feliz e tão emocionada pelo cuidado daquele presente!

—Eu... Não sei o que dizer...

—Isso quer dizer que gostou?

—Se gostei? Esse é o presente mais perfeito que já ganhei na vida!

Dei um abraço bem apertado nele e evitei beijá-lo, já que estávamos na biblioteca e qualquer um poderia entrar.

—Você é o homem mais maravilhoso do mundo!

—Faço meu melhor. — E piscou. — Você nunca me deixou ver seus desenhos, mas pela sua concentração, sei que devem ser lindos.

—Agora então é a minha vez de te surpreender.

—Oba! Gosto disso.

Peguei o envelope e entreguei a ele. Claro que Diogo não demorou a abrir, ansioso como sempre. Quando pegou a folha que estava dentro seus olhos pararam, ele quase não piscava e eu comecei a suar frio. Será que estava tão ruim assim?

—Letícia...

Meu coração acelerou tão forte e rápido que parecia que meu peito ia explodir de tanto pavor. Era a primeira vez que eu me sentia tão exposta e o medo beirava o pânico de que ele odiasse o que eu tinha feito.

—É tão ruim assim? — arrisquei perguntar.

—Ruim?

Ele me fitou com os olhos arregalados.

—Isso é maravilhoso! Você é uma artista!

Segurou o papel em que eu tinha feito um desenho do rosto dele. Eu vinha trabalhando naquilo durante todo o ano, queria que ficasse perfeito, como se fosse ele me olhando e deu certo. Diogo pareceu realmente impressionado.

—Meu amor, você é genial!!! Precisa ir em frente com isso, precisa fazer sua faculdade de artes, mostrar esse talento todo pra o mundo!

Ele me fez ficar em pé e me girou no ar.

—Você acredita tanto em mim — falei ainda surpresa pela reação dele.

—Eu apenas vejo quem você realmente é.

—Será?

Diogo fez uma expressão confusa e alisou meus cabelos.

—O que está acontecendo?

Voltei a sentar na poltrona, segurando meu presente tão lindo.

—Você é sempre tão seguro de tudo, tão firme, disposto. É como se eu sempre deixasse você me guiar, com você eu me sinto segura, em paz — confessei. — Mas quando estou sozinha me sinto realmente apavorada com todas as possibilidades da minha vida. Tenho medo de não conseguir fazer o que quero. Tenho medo de fracassar diante da nossa família. Tenho medo de não ficar com você.

Três Verões (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora