01 - Descobrir o coração

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O coração serve para bombear o sangue para todo o nosso corpo, é o nosso órgão vital, aquele sem o qual não podemos viver e caso ele pare, pronto, a nossa vida também parou e não importa se ainda não tenhamos vivido tudo que queríamos, acabou, é o fim. Essa é a função do coração, bombear, bater, nos mostrar que estamos vivos e que ainda existe chance de encontrar o amor, de conhecer Veneza ou de ter suas obras expostas da maior galeria de arte do mundo.

O coração é o nosso sinal. E enquanto relembro essa história, sinto que ele se bagunça dentro de mim, ele não está imune ao que lembro, ele sente tanto quanto eu, ou eu sinto por causa dele, porque se tem alguém que foi atingido com toda essa história, foi ele, meu coração. E hoje, tantos anos depois, as memórias daqueles verões continuam tão vivas que quase posso sentir o cheiro de terra molhada depois da chuva repentina. Posso sentir o calor abafado e lembrar o arrepio que percorreu meu corpo quando aquela voz me fez abrir os olhos.

-Lê?

Coração, desculpe por causar esse auê, mas não posso ignorar o chamado daqueles verões, não posso fingir que esqueci. Preciso ir fundo e quem sabe encontrar a paz para nós dois. Vamos lá coração, eu te descobri nessa aventura, eu fiz você sofrer com minhas escolhas, apenas peço que me dê uma pequena chance de talvez encontrar a saída. Está na hora de mergulhar.

-Di?

-Levanta - sussurrou.

Meu coração acelerou e eu não fazia ideia do que ele queria tão tarde.

-Ficou maluco? Se alguém pega a gente?

-Psiu, fala baixo. Só vem logo que ninguém vai saber de nada.

Lutando contra todos os motivos que eu tinha para continuar na cama, tirei a coberta de cima de mim, olhei para Marcela que dormia sem nem imaginar como eu estava ansiosa e repleta de expectativa do que estava por vir. Calcei a sandália e deixei que Diogo me levasse para fora do quarto. Ele fechou a porta com cuidado e me alertou que precisávamos sair pela cozinha, pois a porta de entrada rangia.

-Aonde vai me levar?

-Você é muito curiosa.

Ele parecia se divertir com meu assombro pela aventura noturna. Nesse momento o polegar dele acariciou minha mão provocando uma onda de emoções que eu não sabia definir. Foi nesse momento, coração, que você palpitou novamente feito um louco, você sabia que algo estava prestes a mudar.

A casa parecia bem diferente à noite, tudo silencioso divergia da bagunça matutina quando todos andavam de um lado para o outro buscando tornar o verão mais animado. Sempre tinha alguma atividade em grupo, depois cada um ia para seu lado fazer o que era mais divertido. Eu e Diogo sempre achávamos graça nas mesmas coisas, gostávamos de ar puro, de nadar no lago, ele de tocar violão e eu de ouvi-lo, enquanto rabiscava em meu caderno de desenhos. Éramos uma dupla quase inseparável, mas naquele verão, algo tinha mudado entre nós, havia sempre aquele silêncio com nossos olhares cruzados, durava pouco, alguém sempre interrompia ou eu desviava o olhar, eu sempre perdia o nosso pequeno jogo secreto e ele nunca dizia nada. Diogo que era familiar, tinha de repente se transformado em algo novo e misterioso, que fazia você, coração, bater descompassado nas horas mais estranhas. Como quando estávamos no lago e ele quis me ensinar a plantar bananeira, quando tocou minhas costas eu estremeci, corei e a festa que se formou dentro de mim me deixou absolutamente confusa.

-Em que está pensando? - perguntou andando decidido por um caminho novo que eu nunca tinha ido. - Ficou calada de repente, nem parece a faladeira que é.

Ri.

-Nada... Não estava pensando em nada. - Obviamente menti, não podia confessar meus pensamentos confusos e malucos.

Três Verões (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora