Acender das Luzes

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Ano de decisão é um saco.

Definitivamente o terceiro ano do ensino médio é a época mais doida e turbulenta que um adolescente pode passar, ano que vem eu faço 18 anos, é isso ai, vou poder dirigir, beber, fumar, ir pra balada (Risos), com certeza essas 3 últimas coisas não vão rolar, bem mais provável que eu prefira ficar em casa comendo sushi e vendo algum filme francês, pra combinar com a minha falta de nexo.

Estudo na escola mais lixo do mundo, sério aquele lugar só tem uma coisa que o torna suportável, a Valentina, minha única e melhor amiga que por sinal não tem nada a ver comigo. Sabe o antônimo? Então é exatamente o que eu sou dela. Valentina já tem 18 e ela é bem.... Aloprada seria uma ótima palavra para descrever, ela sempre grita e faz escândalo, só ri batendo palma e não sabe olhar discretamente pra ninguém. Hoje resolvemos dar uma volta pra comprar umas roupas, mas eu acabei furando porque descobri que estão fazendo um festival do Kubrick em um cinema perto da minha casa, aqui na cidade os cinemas mais antigos não ficam nos shoppings a maior diferença entre eles não é só a "idade" e sim a programação, os mais antigos sempre fazem festivais como filmes russos, ou preto e branco, enquanto nos shoppings só tem lançamentos norte-americanos.

Tive que ligar pra Valentina.


– Val acabei de ver que to sem grana, podemos marcar isso para a semana que vem?

– E onde que você vai arranjar dinheiro até semana que vem? Por que você ta me chamando de Val parece nome de velho, nunca mais fala isso! – Sempre irritada.

Peguei o ônibus e acabei ficando 25 minutos no engarrafamento, dava para ir andando, mas eu não estou nem um pouco afim de ficar andando.

Cheguei na sessão da Laranja Mecânica, sorte minha que eles não pediram identidade. Sentei no fundo da sala com um potão de pipoca. Ir no cinema é tão comum que usava as roupas mais sem noção que se possa imaginar, hoje vim com uma blusa do YODA, uma calça moletom cinza com um all-star e o meu cardigã cor de rosa, nada combinando e eu não to nem aí.

Esse filme me prende tanto que as vezes acabo me perdendo na insanidade do Alex, junto com essa sinfonia do Bethoveen que me deixa mais louca ainda.

– Incrível né?

Meu deus do céu quase me mijei de susto.

Arregalei os olhos e olhei para a cadeira do meu lado.

­– Nossa você tava mesmo focada hein, desculpa. – Um garoto que eu nunca tinha visto na vida fala do nada comigo no meio de uma das cenas mais tensas do filme e não esperava que eu estivesse focada, ta de sacanagem né.

– É eu estava, e sim é incrível. – Dei um sorriso bem sem graça e virei o rosto para a tela.

Essa foi a primeira vez que um estranho puxou assunto comigo no cinema, e prefiro que não puxe mais, eu fico totalmente travada depois que alguém que eu não conheço começa a falar comigo sobre coisas aleatórias e no cinema é pior ainda, já que eu odeio conversar quando vejo filme.

Chorei como sempre, não consigo segurar emoções de frente para a tela do cinema, minha mãe diz que eu não sei chorar em silencio, o que acaba me deixando vergonha por ter alguém do meu lado que provavelmente não choraria vendo um filme como esse.

Sinto o papel tocando a minha mão e é ai que me dou conta que o estranho me deu um lenço de papel. Pelo menos dessa vez ele não disse nada. Pego o lenço e respondo um "valeu" mais baixo da história dos valeus.

O filme terminou a as luzes se acenderam.

– Bela blusa. – Ele não vai parar de falar comigo não?

– Valeu. – Peguei a bolsa e sai andando.

Ele veio atrás, maníaco, psicótico. Não surta. Ele não está te seguindo.

– Meu nome é Enoch e o seu? – Vou mentir, vou mentir que tal Melodi, Lara, Maria. Ai meu deus.

– Olívia– Meu santo anjo protetor se você existe salva essa pobre alma que acabou de falar o nome para um completo estranho.

– Até mais Olívia. – Ele simplesmente saiu andando e me deu um tchauzinho. 

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⏰ Last updated: Jun 22, 2016 ⏰

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