Além, é claro, dos exercícios preferencialmente diários. E, para quem diz não ter tempo, aviso que dá sim, para espremer uma meia horinha todo dia para se dedicar ao corpo que nos carrega. Pois é melhor fazer um esforço e encontrar esse tempinho, do que no médio prazo gastar dias para se recuperar de uma doença ou mesmo acabar no hospital perdendo tempo precioso para tratar de alguma enfermidade mais grave, decorrente da péssima forma física.

Até resfriados são menos frequentes em quem se exercita regularmente. Está comprovado que exercício físico fortalece o corpo e, ouso dizer, também o espírito. Sem exagero nem obsessão. Com calma e persistência. E, sobretudo, com respeito a si própria. Se nós mesmas não nos valorizarmos e encontrarmos meios de realizar nossos projetos, quem o fará por nós?

Já se foi o tempo em que os pais e depois os maridos resolviam tudo e supriam nossas necessidades. Não que agora seja cada um por si. Mas se não tomarmos nas mãos as rédeas de nossas existências, dificilmente a vida andará para frente. Por isso proponho pequenas mudanças para começar a dar a volta por cima. Arejar o mofo, deixar o sol iluminar pontos obscuros. É impressionante como funciona.

Mudança é uma coisa boa que deve ser bem-vinda em qualquer estágio da existência. Outro dia, numa palestra de recursos humanos em uma instituição que enfrentava grandes transformações no seu quadro funcional, ouvi um especialista dizer que todo mundo tem medo de alterações no cotidiano. Causa apreensões e provoca desconforto.

Exige modificações na nossa rotina, com reflexos na nossa agenda. Mas isso só ocorre porque, em certa medida, não conseguimos alterar nossa percepção das coisas. Ficamos presos à noção da estabilidade, quando de fato nem o planeta está fixo no universo. Ele se move o tempo todo, a terra pode tremer sob nossos pés a qualquer momento, nada garante que um asteróide não detectado pelas agências espaciais despenque em nossas cabeças.

É claro que exagero e decerto jamais veremos as catástrofes naturais, salvo nos filmes de Hollywood. Mas recorro a tais figuras de linguagem para enfatizar que nada é estável, estamos fadados a mudar. Assim sendo, por que temer algo inerente à vida? Por que em vez de pulsar de acordo com as leis cósmicas, procuramos nos agarrar com unhas e dentes à pretensa segurança?

Se as condições se alteram irreversivelmente contra a nossa vontade, o mais sábio é tirar partido delas e aproveitar para rever os próprios conceitos. Quando os filhos saem de casa, deixando o famoso "ninho vazio", não seria uma boa oportunidade para dar uma virada? Por que manter um casarão repleto de espaços semiabandonados, se é possível recomeçar em um ambiente renovado, arejado, mais de acordo com nossas necessidades?

Conheço gente que defende o direito de manter a casa do jeito que estava. Prossegue o casal sozinho na amplidão da qual pouco usufrui. Prefere manter a mesmice, incluindo as lembranças colecionadas ao longo da jornada. Eu já penso diferente.

Aproveitaria o pretexto para dar um giro de 180 graus. Trocaria de móveis e de lugar, criando para mim um espaço moderno, colorido, talvez minimalista. Dou fim àqueles souvenires dos momentos inesquecíveis, pois prescindo deles para lembrar. Estão dentro de mim, fazem parte do meu ser, integram meu jeito de ver o mundo e desenvolver meu trabalho.

Com as salas brancas, paredes nuas e a decoração clean, sinto-me rejuvenescida, enriquecida pelo que ficou para trás, mas vivendo no presente, de olho no futuro. A memória incorporada contribui para que eu continue crescendo, sem representar uma carga a diminuir meu ritmo. Porque manter o vestuário, móveis e a residência sempre igual por décadas seguidas influi e reflete no estado de espírito, que fica parado no tempo.

Se meu corpo se transforma, se meu rosto muda e meu talento também, por que não deixar isso aparente no quarto, na sala e na cozinha? Não significa seguir modismos, só implica não se aferrar aos testemunhos do passado como se deles dependêssemos para nos reconhecermos. A certa altura da vida nossa identidade já está consolidada, nosso repertório abrange áreas imensas como um oceano que foi se expandindo.

Continuo a mesma, mudando sempre, porque eu me transformo junto com o mundo. Permaneço e prossigo, invento ções e quebro tabus. Deixo o fortuito enveredar pela minha vida sem receio dos novos caminhos que se abrem. Aliás, vou à procura das novas veredas que se escondem atrás da montanha das minhas certezas inabaláveis.

Outra boa pedida é viajar. Economizo para a passagem. Hospedo-me em um lugar simples, mas confortável, de acordo com meu bolso. As possibilidades, hoje em dia, são quase infinitas e cabem em qualquer orçamento.

Se estivermos com outras pessoas, compensa alugar um carro e se aventurar pelas estradinhas menores, atravessando lugarejos que não se conhece de outra forma. Um bom mapa em mãos, banco o navegador enquanto o outro fica ao volante. Perco-me pelas ruelas e entro em contato com os habitantes locais. Sem pressa nem aquela típica ânsia de visitar absolutamente todos os museus e monumentos.

Comprar um pacote do tipo "Visite a Europa em 20 dias" equivale a folhear uma revista ilustrada. Quando começamos a apreender uma imagem, ela já passou, substituída pela seguinte até a exaustão dos sentidos. Você olha e não vê. Pensa que conheceu, mas o cérebro não consegue fixar o que a retina mal registra numa fração de segundo. E fica a sensação de um vazio esquisito, como quando se come além da conta sem conseguir digerir aquela quantidade de alimentos tão diversos e conflitantes.

Portanto, encare uma expedição pessoal. É fascinante descobrir cantos e recantos, outros jeitos de enfrentar o dia a dia. E observamos como nos transformamos se mantivermos os sentidos atentos quando saímos de casa, da rotina, da modorra do cotidiano. Não faltam autores que se referem aos viajantes.

Palavra que prefiro a "turista", muito batida e identificada com o norte-americano típico, de camisa florida, máquina a tiracolo e o ar abobalhado de quem nunca olhou para fora de si mesmo. Em Histórias de Cronópios e Famas, um dos contos que, se não me engano, dá título ao livro de Julio Cortázar, ele divide-os em dois tipos.

Os "famas" são exigentes, mandam antes uma espécie de tropa de choque experimentar as camas dos hotéis, examinar a limpeza do local, checar cada detalhe e fazer todas as reservas com antecedência, pois nada pode sair errado.

Os outros vão com a cara e a coragem, enfrentam filas, pagam caro por quartos em pensões de quinta categoria, são explorados por vendedores gananciosos, sofrem justo a temporada chuvosa e o tempo feio, mas voltam contentes da vida, dizendo como sua viagem foi maravilhosa. Já Albert Camus registrou minha frase predileta sobre o tema: "O que dá valor à viagem é o medo, e o fato de que, num certo momento, quando estamos tão longe de nosso país, somos tomados por um vago receio e pelo desejo instintivo de voltar à proteção dos velhos hábitos. Mas nesse momento atravessamos uma cascata de luz e ali está a eternidade". Precisa dizer mais?


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