Ela ficou calada por alguns segundos.

— Do que você me chamou?

— Eu? De nada.

— "Char". Você me chamou de "Char".

Encarei seus olhos grandes e emotivos. Havia mesmo chamado ela de Char. Não sei por que as lembranças haviam voltado naquele momento. Mas havia a chamado pelo nome da única pessoa que amara até aquele momento.

Char.

— O que é "Char"? — Ela perguntou, esquecendo da história do filme.

— É um nome. — Eu disse, em voz baixa.

— É um bom nome. De onde você o tirou?

— Não importa.

— Quem sabe eu possa usá-lo — ela falou em voz alta, mais para si mesma do que para mim. — É um nome diferente. Combina comigo.

— Acho que você não deveria usar esse nome.

— Por quê?

— Não é bom nome.

— Claro que é! Se não, porque me chamou disso? A partir de agora, meu nome vai ser Char. Apenas Char!

— É um nome velho. Você não vai querer usar um nome velho.

— É novo para mim.

— As outras pessoas vão estranhar.

— Até parece que as outras pessoas me importam. Ouvi dizer que a moda é dar nomes com consoantes no final para bebês. Nada melhor do que Char — ela parecia orgulhosa por ter encontrado um nome. — O que há de errado nele? Traz más lembranças a você, quem sabe de um passado de quinhentos anos atrás?

— Não quero falar a respeito.

— Quem sabe seja sua mulher, morta muito tempo atrás? — Ela falou, num tom estranho.

— Foi.

Ela fechou a cara.

— Desculpe.

— Está bem — apoiei os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos, olhando para baixo — Pode usar o nome, se quiser. Não me importo.

— Não... acho que é melhor não.

— Faço questão.

— Está bem.

Foi um momento de tensão, no qual achei que ela levantaria e iria embora, com medo de mim. Logo depois, porém, apenas pegou sua xícara e bebeu seu conteúdo, sorrindo.

— Char. — Testou a palavra,satisfeita. 


***


— Você tem alguém no mundo?

Simplesmente fiz uma careta irônica.

— Ah, claro. Desculpe pela pergunta. Eu também não tenho ninguém. Quem sabe pudéssemos ter um ao outro.

Engoli em seco. A proposta era extremamente ingênua. Por alguns segundos acreditei que estava falando de companheiros sexuais, ou coisa parecida. Logo em seguida, entendi que estava apenas se referindo a ter alguém consigo. Literalmente.

— Eu... não sei...

— A decisão é sua — ela disse. — Não quero forçá-lo a nada. Afinal de contas, o que você faz diz respeito apenas a você mesmo... e acho que não devo me meter nas suas escolhas. Mas também acho que seria maravilhoso ter alguém com quem compartilhar tudo. Tudo, digo, as situações do dia-a-dia, comida, água... o que você quiser.

Agora eu MorroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora