07. Xeque-Mate

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A semana acabou passando rápido, mais do que Arthur gostaria. Pois a proximidade do fim de semana significava ter que encarar a festa de aposentadoria de Ricardo, e Arthur precisava de mais alguns dias para inventar a desculpa perfeita para não comparecer.

Porém, como era de se esperar, Arthur se viu encurralado, e ao perceber que sua única alternativa seria ir àquela maldita festa, apenas pediu aos céus para que aquilo passasse logo. Sua primeira batalha de sábado à noite havia começado no final da tarde, dentro de seu quarto: Arthur estava parado em frente ao seu guarda-roupas, encarando as peças nos cabides como se fossem suas inimigas.

— Deixa eu adivinhar. Não sabe o que vestir. — Samuel disse, com a cabeça para dentro do cômodo.

— Na mosca. Tão previsível assim?

— O quê? O fato de você estar nervoso por ir em um evento fora do trabalho onde vai ter que enfrentar pai e filho que estão te disputando de forma discreta, mas não discreta o suficiente? Não, eu nem  conseguiria imaginar.

Arthur revirou os olhos, e Samuel respondeu com uma careta. O melhor amigo de Arthur estava a caminho do banho, desfilando com uma toalha branca enrolada em sua cintura, e os ombros musculosos eram adornados pelas inúmeras sardas, que combinavam com sua pele levemente bronzeada.

— Me salva? — Arthur pediu, e seus olhos se tornaram tão suplicantes ao ponto de Samuel não ter outra escolha.

— Camisa social preta texturizada, aberta nos três primeiros botões pra dar um ar de "sou despojado o suficiente pra você me querer, mas não muito ao ponto de ser tão fácil", calça de alfaiataria cinza-clara, aquela que valoriza suas pernas, relógio com a pulseira de couro preta e o sapato preto tratorado. — Samuel falou, deixando Arthur espantado pela velocidade com que seu amigo montou a composição sem nem se dar ao trabalho de olhar para as opções do guarda-roupa.

— Preto tratorado? Mas eu n...

— Eu sei, é meu. Vou te emprestar. Se você chegar lá de sapatênis ou de sapato social de trabalho eu vou ter um chilique.

Arthur andou apressado até Samuel com um sorriso de alívio no rosto, segurou o rosto de seu melhor amigo com as duas mãos e beijou-o na bochecha com certo fervor.

— Meu herói!

— Tá, tá. Não é pra tanto. Agora deixa eu ir pro banho, pois não podemos nos atrasar.

Arthur mandou um beijo de longe para Samuel, que desapareceu em direção ao banheiro. Por ora, seu coração se aquietou um bocado, sabendo que precisava guardar toda sua energia para o evento, dali a algumas horas.

Pouco antes das oito, Arthur e Samuel chegavam na região doa Jardins, em frente à mansão em estilo clássico, de três pavimentos, com uma fachada extensa e ostensiva, inúmeras colunas, claraboias e uma sacada ornamentada com balaústres. Esta, que também servia como teto do hall de entrada, abrigava alguns convidados que entravam, seguindo uma fila que se estendia ao longo da escadaria e do jardim, repleto de arbustos podados de maneira metódica. O fluxo de carros de luxo era insano, e os homens que trabalhavam no serviço de vallet não paravam um segundo sequer.

— Essa é a casa dos Lobo? — Arthur perguntou, embasbacado.

— Que eu saiba, mora apenas o Ricardo e o Diego. A Leona mora em um apartamento reformado chiquérrimo no Copan e o Gustavo em uma cobertura na Vila Olímpia, perto da Faria Lima. Pelo menos, é o que dizem os sites de fofoca.

Arthur assentiu, ainda tentando processar a opulência daquele lugar. Ao chegarem, viram seus nomes sendo procurados na extensa lista de convidados, e em seguida, orientados acerca do caminho da festa, que se concentrava no jardim dos fundos da mansão. Ricardo com certeza não economizou para realizar aquela comemoração, disso Arthur tinha certeza: dezenas de garçons rodeavam os convidados, que reabasteciam suas taças com espumantes, uísques e vinhos. A maioria trajava roupas obscenamente caras e sofisticadas, o que, indiretamente (ou não), traçava uma linha bem demarcada entre os convidados; alguns membros do extenso quadro de funcionários sequer apareceu, e Arthur podia perceber o porquê. Aquele era um evento concebido para intimidar, e, como todos os eventos da alta sociedade, reafirmar as posições dos peões e, sobretudo, do rei, em um tabuleiro que Arthur sentia a dificuldade em entender. As jogadas eram turvas, e ele, como uma mera peça, era jogado de um lado para o outro sem muita escolha.

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⏰ Última atualização: Apr 08 ⏰

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