VLOG#2: O dia em que deu merda.

107 9 7
                                    



Inscrever-se. 1009         Gostei 157       Não gostei 22         1534 visualizações

Olá, gente-que-não-voa, tudo bem? 

Queria agradecer os primeiros mil inscritos. Vocês são tudo de bom, sério mesmo. Por outro lado, teve um monte de hater me xingando nos comentários. Para essa galera só posso dizer uma coisa: ENFIA UM PALMITO NO CU E VAI FAZER SALADA COM OS CABELOS DA SUA BUNDA!

Pronto, desopilei o fígado. Agora vou fazer o que prometi e contar como conheci Mighty Man, mas antes, olha aí a primeira vinheta do canal:

                                                                       ♫♪♫

Poderia trapacear e dizer que o dia estava lindo, o hálito primaveril batendo em meus cabelos, mas na minha idade, as memórias tendem a vir sem romantismo, portanto, vou falar sem rodeios: 

Fazia um calor do caralho em Century City!

Viver nessa cidade é como morar em Bangu, só que sem as outras estações do ano.  Já foi em Bangu, Rio de Janeiro? Meu filho, você não tem noção. Aquilo deveria ser cercado pelo Ibama e transformado em área de preservação para lagartos. Nem os beduínos sobrevivem ali. 

Eu estava acostumada ao frio, a mijar na neve e sentir a periquita encolher. Quando cheguei à cidade grande, vi meninas bronzeadas igual de frango de padaria e me choquei; lá na minha Terra, a mulherada ganhava marca de biquíni arando o campo nas fazendas. Já estavam casadas aos quinze anos, com filhos ordenhando as tetas quatro vezes ao dia.

Os homens ostentavam bigodões. Achavam que John Wayne era caubói de verdade e o imitavam, usando chapéus de vaqueiro, cigarro na orelha e tal. Uma cidade inteira fazendo cosplay num comercial do Marlboro, pode imaginar uma merda dessa?

Cheguei à Costa Oeste e seu verão de fritar ovos. Estávamos no final dos anos 50; depilação brasileira não existia e minha virilha tava tão cabeluda que eu matava a saudade do Palhaço Bozo toda vez que ia ao banheiro. Era sol na cabeça e vapor na perseguida.

Aqui na metrópole, os arranha-céus me impressionaram. Jamais vira tanto aço e concreto, a não ser nos filmes de ficção científica. Imagine eu, uma garota da roça, onde a tecnologia era tão escassa que as pessoas comemoravam o aniversário das obturações?

No ônibus,  testemunhei essa transição do ambiente rural para a civilização. Fiquei maravilhada conforme via mais gente do que vaca ao longo do caminho. O cheiro de esterco foi substituído pela gordura do Mc Ronalds.

Ao meu lado, viajava uma senhora chique: Dona Verônica. Ela tinha tanta plástica no rosto que precisava levantar a perna antes de sorrir. Disse que era proprietária de um jornal e procurava alguém para as fofocas do mundo heróico. Acho ficou com pena de mim e me ofereceu o emprego. Lembre-se: o serviço era mais fácil naquela época. Havia poucos super-heróis aqui em Century City. Os mais famosos eram Mighty Man e O Maluco De Preto. O primeiro voava pelos céus; o outro fugia da imprensa. Vivia nos becos, lamentando a morte dos pais. O cara era tão depressivo, que só de chegar perto meu horóscopo mudava. Cacete, muita gente sofre tragédias,  mas nem por isso veste uma fantasia para dar porrada em maconheiro, né não? Aquele mauricinho poderia ter contratado o melhor terapeuta do mundo, mas preferiu comprar um carro blindado.

Hã? Se ele era pedófilo? Olha, até onde sei, gostava de treinar uns menininhos, mas nunca ficou provado. Acho que curtia sadomasoquismo. Pelo menos explicaria o tesão que sentia quando metia o cacete – opa, olha o trocadilho! – nos prisioneiros do Asilo Lovecraft.

Flame Jenny: barracos de uma super-heroína na internet. Where stories live. Discover now