IRONIA DA PORRA DO DESTINO

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A morte não tinha me contemplado com sua glória, mas lábios quentes e macios sobravam oxigênio para meus pulmões, uma sensação maravilhosa. Até eu começar a recobrar meus sentidos, algo parecido com barba roçava meu rosto, aqueles lábios agora me incomodavam junto com o choro de alguém. 

-Ele está acordando! Afastassem. -Era a voz do Ivan, abro os olhos e me assusto com a imagem do homem de barba sebosa vindo de encontro a minha boca, recuo rapidamente, tendo me levantar, sem sucesso. Perco o equilibro e caio voltando para o chão.

-Não... N.... -Tendo falar, mas a rouquidão não deixa. 

-Não se esforce demais. Sua garganta está machuca. Mas não se preocupe vamos cuidar de você assim como o discípulos  de Jesus cuidaram dele.

-Ele acabou morrendo no final -Diz alguém, não sabia quem era, apenas sabia que a voz era masculina. Ignorando a brincadeira de mal gosto feita pelo homem desconhecido Ivan me pego no colo e me leva para dentro da casa.

O relógio fazia tic tac, a coruja em cima da chaminé me encarava enquanto estava deitado sobre o sofá sujo e fedido. A casa antiga gemia parecendo que iria despencar a qualquer momento, os mortos gemiam como sempre estuprando meus ouvidos, a revolta surge novamente ao lembrar que quase estava morta a segundos atrás. "E agora?" pergunta filha da puta sempre surge em momentos errados como esse. Estava sozinho dentro da casa e os tiros do lado de fora, juntamente com a diversão e as mortes. 

-Ore comigo Peter! -Ela me disse uma vez quando os mortos não corriam atrás de nós, quando a vida era apenas sobreviver ao tédio do dia a dia, sofrer bullying e se masturba assistindo alguns leves pornos.

-Não! -A respondo, e logo em seguida justifico minha resposta -Deus não existe.

-Continue pensando assim que quando chamar por ele não receberá resposta. 

-Você acredita e mesmo assim não recebe resposta alguma! -Digo irônico, ajoelhando a beira da minha cama a mulher de trinta e poucos anos sorri para mim e me beija no rosto:

-Você tem a mim para orar por você, mas tem que aprender a orar por si só, pois não estarei aqui para sempre para fazer. 

Então ela orou e eu ri, quando ela morreu eu orei e não obtive resposta, quando humor negro. Como receber resposta de algo que não existe? Bem você não recebe nenhuma resposta idiota de ninguém. Apenas pessoas dizendo para correr o mais rápido que conseguisse para não ser devorado vivo, pelos mortos. Para não ser aberto ao meio e ter suas vísceras arrancada por uma multidão faminta. 

Tanto-me um susto ao abrir a porta com brutalidade Micka entrou na sala e fechou a porta com brutalidade, correu em minha direção e dize assustada:

-As coisas estão feias lá fora. Mas não esquenta vou proteger você. -Um sorriso surgiu em meu rosto, aquela moça que tanto me chamou a atenção em um deposito saqueado e fedorento a quem salvei a vida estava me protegendo, mas aquela revolta de estar vivo ainda queimava em mim. Por que não me deixar morrer logo? Por que não permiti que alguém colocasse uma bala na minha cabeça? Por que morrer parece ser tão maravilhoso assim? 

Essas respostas são infinitas, mas os motivos para continuar a viver essa porra de vida também. Minha irmã era um deles, ainda queria conversar com o Georg pedir desculpa por ter o abandonado no meio da mata. Os mortos começavam a bater a porta esperando que eu a abrisse e realizasse meu sonho de finalmente dormir eternamente e provar para minha mãe morta que Deus não existe, pela janela que estava estilhaçada no chão vejo ela, com os mesmos olhos, mas agora com olhos cinzas não azuis, com pele azulada e vermes rastejando entre a mesma e os músculos, mas continuava sendo ela. A garota que amei, a garota que me deixou e me amo logo em seguida, a garota que planejava viver mais que eu, mas que por ironia da porra do destino morreu primeiro me deixando em um mar de solidão repleto de serpentes que querem me morder.

A CURA  Livro 3 A Praga Do SéculoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora