《 Desconhecido 》

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Estou colocando as roupas no varal para secar e observo o céu nublado. Adoro esse tempo. Poderia tê-lo por todos os dias do ano...

Recolho as roupas já secas do varal e volto para dentro de casa.

Hoje é um dia considerado importante, pois é o meu aniversário. Completo 17 anos de idade e por fim, decidi sair de casa. Sei que posso ser discriminada pelas ruas -não é normal em pleno séc. XIX uma menina andar sozinha por aí- .

Minha mãe não é a melhor mãe do mundo, mas não culpo ela. Ela é mais conhecida como "mulher da vida", e segundo ela, "foi a única forma de ter um bom sustento para nós duas".

Chego em meu quarto, pego uma pequena mala e coloco vestidos e roupas íntimas. Saio do meu quarto e desço as escadas para ir a cozinha. Chego lá e olho o relógio de parede, o mesmo marca 3 a.m. . Bebo um copo de leite e ouço barulhos de gemidos e o ranger da cama. Não me surpreendo mais com esse som, desde pequena ouço ele e minha mãe sempre dizia: "Esse som é o trabalho da mamãe, é normal. Assim eu compro todas as coisas que você quiser."

Termino meu copo de leite e saio pela porta da frente.

Assim que ponho meus pés na rua, sinto o vento gelado bagunçar meus fios de cabelo. Caminho apertando o casaco contra o meu corpo na tentativa de me aquecer ao máximo. Penso para onde devo ir, já que não tenho amigos. Paro de pensar assim que passo em frente ao meu parque preferido e observo ele na escuridão. O som das árvores se movimentando é esquecido quando ouço pedidos de socorro vindos do parque. Resolvo correr, pois se ficasse ali não poderia ajudar em nada e também estaria correndo risco.

Corri de verdade e parei em um poste para me recompor. Quando olho para frente, avisto uma pessoa vindo em minha direção e logo fico em pé me preparando para o que quer que venha a acontecer.

-"O que uma senhorita como você está fazendo uma hora dessas na rua?" - O senhor todo encapuzado pergunta. O que ele quer dizer com "uma senhorita como você"?

-" Acho que não devo satisfações a um desconhecido, pelo menos não foi isso que minha mãe me ensinou." - Respondo de uma forma grosseira e tendo aliviar no final.

-" Além de bonita, é atrevida! Vejamos o que eu encontrei..." - Ele fala de uma forma sarcástica e maliciosa.

-" Se me der licença, tenho que ir." - Falo e tento passar por ele, mas o mesmo me puxa pelo braço calmamente. Vejo que o mesmo usa luvas pretas de couro. Me solto imediatamente.

-" A senhorita pretende ir aonde numa hora dessas? Me parece ser bem perigoso sair sozinha por essas ruas escuras desacompanhada. Alguém poderia te fazer algum mal..." - A sua última frase soa como uma ameaça e o encaro bem.

-" Bem, como havia dito antes, "não lhe devo satisfações" e eu sei me cuidar muito bem." - Afirmo e coloco um pouco de desafio no meu tom de voz.

-" Tenho certeza que a senhorita não tem um lugar certo para ficar. Eu moro em um bairro próximo daqui e na minha casa existe um quarto de hóspede, você poderia passar a noite lá. Seria bem mais seguro." - Como ele tem certeza de que não tenho um lugar certo para ficar? Bom, da forma como ele fala e me olha, não acho que seja uma boa ideia eu passar a noite em sua casa.

-" Muito obrigada senhor." - Quis ser educada. "- Mas tenho outros planos para mim esta noite." - Não faço ideia do que eu acabei de dizer.

-" Eu insisto. Não faria mal algum a você. Existem empregados em minha casa, você se sentirá confortável lá. E por favor, será apenas por essa noite." - Ele enfatizou o "essa noite". Se ele tem empregados e é apenas por uma noite, que mal me causaria?

-" Bem senhor, se o senhor insiste, eu aceito. Não quero causar incômodo." - Falo sem jeito.

-" Por favor, me chame de August. E não, não seria incômodo algum. Deixe-me carregar sua mala." - Ele foi bem educado. Acho que fiz um mau julgamento dele, parece ser uma boa pessoa.

》》》》

Estávamos em um bairro rico de Londres. Nunca tinha vindo para esse lado da cidade. Avisto muitas mansões. Paramos em frente a uma. No enorme portão, havia um nome em alemão -imagino eu- escrito "SHULTZ". August pega uma chave enorme e o abre. Subimos alguns degraus e me deparo com uma porta enorme também. August a abre e entramos em sua casa.

A primeira coisa que me chama atenção são as escadas. Cada uma em um canto da parede, se encontrando no andar superior.

August me guia até as mesmas e observo as fotos -nesses tempos, apenas pessoas muito ricas possuíam fotos- . Paro na foto de uma mulher sentada em um balanço sorrindo para a pessoa que estava tirando a foto dela -imagino eu- . Ela se parece bastante comigo, mas é bem mais bonita que eu.

-" Minha falecida esposa." - August diz num tom triste.

-" Oh, me desculpe." - Fico sem graça. Tento imaginar como ela havia morrido.

-" Ela tinha feito uma escolha errada e pagou por isso." - Ele responde a pergunta não feita.

-" Oh, sinto muito. Ela era muito bonita." - Falo analisando a foto. "Escolha errada". Que tipo de escolha faria uma pessoa chegar a morte?

-" Sim, ela era muito bonita. Venha, vou te mostrar onde irá dormir." - Fala cabisbaixo e eu o acompanho.

》》》》

No enorme corredor existem muitas portas. Vejo um homem negro sair de uma delas. Assim que o mesmo me vê, se assusta e balança a cabeça negativamente. Não entendo e a voz de August chama a minha atenção.

-" Este é o quarto que você irá passar a noite. Espero que se sinta bem." - Ele diz, abre a porta e dá espaço para eu passar.

O quarto é o dobro da minha casa inteira. As paredes do quarto são pintadas de um azul claro. Uma cama de casal no meio dele, uma banheira próxima a cama de casal, e do lado aposto, um guarda-roupa.

-" Obrigada August. Fico muito grata por isto tudo." - Olho para ele e aponto para o quarto.

-" Por nada. Se sinta a vontade." - Ele fala isso e sai do quarto.

Vou em direção a cama e me jogo na mesma. _Como é macia_ diz minha consciência.

Apago na cama e sonho com o senhor do corredor.

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Olá

Espero que gostem :)

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