Gata Borralheira

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                                                  2015

    
    O som estridente do despertador me acordou. sentei na cama tentando encontrar coragem para levantar quando tudo oque eu queria era continuar enterrada entre as cobertas.
       Era sábado, um dia nublado e deprimente, o dia de meu trigésimo aniversário. Desliguei o despertador e continuei na cama, me recusando a encarar a vida além das quatro paredes de meu quarto cinza. Acabei pegando no sono de novo, quando acordei muito mais tarde percebi as lágrimas em meu rosto, tinha chorado durante o sono.
Suspirei, ultimamente chorar era tudo oque conseguia fazer. Apesar da certeza de que Fernando não voltaria, a tristeza e o desejo de que tudo fosse como antes me sufocavam. Era difícil acreditar que tudo oque vivemos não tivesse significado nada para ele, e pensar que a apenas uma semana atrás eu fazia planos de um futuro com ele, um futuro nosso. Queria que fosse um pesadelo. De todas as decepções que tivera, aquela era a mais doída, pois eu realmente tinha acreditado em um amor real, mas a meia noite havia chegado levando com ela a magia. Eu era outra vez uma gata borralheira, e teria que sobreviver com isso.
Me levantei.
Olhei meu reflexo no espelho do banheiro, apesar das fundas olheiras e do inchaço que derramar milhares de lágrimas me causou, eu ainda era a mesma.Trinta, a idade do sucesso!
- Feliz aniversário, Ana!
Tomei um banho demorado, esperando que a água fria renovasse meu ânimo perdido. Até ajudou um pouco, já passava do meio dia, fiz um sanduíche e comi sentada enrodilhada no sofá da sala tendo os porta retratos como companhia. Em todos eles, Fernando parecia genuinamente feliz, parecia me amar. Me lembrei de quando nos conhecemos, apesar de termos morado na mesma cidade a vida toda e, de São Pedro do Sul ser uma cidade pequena, nunca tínhamos nos visto até aquele dia, quando ele entrou na biblioteca onde eu trabalhava há duas semanas e me perguntou se havia algum livro detalhado sobre mitologia nórdica.
- Tenho sim.- depois disso Fernando Eich entrou de vez na minha vida.
Tínhamos muito em comun, filmes, músicas, livros, sempre achei que fossemos perfeitos um para o outro.

Tínhamos muito em comun, filmes, músicas, livros, sempre achei que fossemos perfeitos um para o outro

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     Nunca estive tão errada.
Naquela manhã quando Fernando me ligou nervoso e atrapalhado me chamando para almoçar, meu coração palpitou descompassado. Depois de três anos de namoro, nossas escovas de dente combinando, o creme de barbear no meio dos meus perfumes, nossa relação só tinha uma direção, leve, como se andasse nas nuvens caminhei até o restaurante em meu horário de almoço, acreditando que seria pedida em casamento, afinal já morávamos juntos há um ano. Mas a medida em que as palavras foram saindo de sua boca meu ego foi minguando, até que por fim veio o golpe de misericórdia:
— Ana, eu estou terminando com você.

 Mas a medida em que as palavras foram saindo de sua boca meu ego foi minguando, até que por fim veio o golpe de misericórdia:— Ana, eu estou terminando com você

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— Oque?- senti meu mundo girando. Fiquei lá sentada, entorpecida até bem depois dele ter ido embora.
     Triiiin! À insistência da campainha me arrastou até a porta. O sorriso espontâneo em meu rosto, me disse que tudo iria passar, alí paradas na soleira, com uma garrafa de vinho e uma pizza portuguesa, estavam às duas pessoas com quem eu sabia que sempre poderia contar, minhas irmãs.

Meu Conto De FadasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora