11 - O Passar dos Anos

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— Uau, obrigado tia, isso vai ajudar bastante.

— Liguem-me quando acabarem, sim? Um grande beijo.

— Adeus tia, beijinhos.

Quinta-feira, 16 de novembro de 1972

— Obrigada, meus queridos — beijo ambos os meus sobrinhos na cara pela sua simpática atitude de virem à Terra apenas para me entregar a minha nave.

Os meus sobrinhos contactaram um homem de nome terrestre Michael Brown, um dos Intrusos mais bem premiados de Veramer.

O Sr. Brown vivia no meu antigo bairro, e viu-me muitas vezes a discordar dos objetivos do governo em relação às missões.

O homem estava a fazer as mudanças para uma nova casa no nosso bairro quando me viu a mim e à minha irmã a brincar no nosso Jardim. Achou por bem cumprimentar os seus novos vizinhos.

— Pow! — grita a minha irmã atirando para mim um raio imaginário saindo das suas mãos — Agora obedece às minhas ordens, escrava!

— Mana, já te disse que não gosto de brincar aos Intrusos — declaro, frustrada.

— Mas porquê? É aquilo que vamos fazer no futuro. E para além disso é tão fixe! Imagina teres um escravo só para ti.

— Isso é uma estupidez. Que falta de Direitos Extraterrestres.

Aparentemente, Michael Brown estaria a ouvir essa conversa no plano de fundo. Apareceu uns segundos depois da minha declaração e ajoelhou-se para me oferecer uma flor do jardim da casa que ficava entre as nossas.

Desde esse momento que soube que tinha alguém com quem podia contar, mesmo sendo ele um Intruso.

Com isto, Sr. Brown ajudou os meus sobrinhos a arranjarem peças para a minha nave.

Até me admira, com a sua idade, ainda ser capaz de ajudar os meus familiares.


Quem sabe se ele também não se enganou na fabricação da poção?

Para testar a minha velha amiga nave, vou fazer uma grande viagem, talvez à Europa. Nunca fui a Paris, por isso acho que será um destino interessante.

Sexta-feira, 2 de fevereiro de 1990

Durante todos estes anos, tenho sido empregada de uma mulher muito simpática, de nome Claire Johnson.

Trabalha numa cafetaria de donos franceses no Central Park.

A casa em que está a viver é simplicíssima, e eu sou apenas sua empegada de limpeza, por não ter dinheiro para suportar uma empregada a tempo inteiro.

— Até para a semana senhora Johnson — digo a pegar no balde que contém os meus equipamentos de limpeza.

— Espere Elizabeth — detém-me a linda mulher magra de cabelo preto e olhos azuis.

— Diga.

— Oiça, eu... tenho um namorado, e vou viver com ele.

— Ora, senhora Johnson, isso são ótimas notícias.

— Eu sei, mas... esta casa ficará sozinha, e... — baixa a cabeça.

— Oh, quer que eu ponha a casa à venda? — pergunto, praticamente rezando para que não diga que sim.

— Quero dizer, sabe que mais? Pode ficar com a casa.

— A sério? — espanto-me totalmente.

A mulher diz-me que o seu trabalho na cafetaria está a correr lindamente, e que dali uns tempos ela receberia o cargo de gerente, e a partir daí o seu salário iria aumentar. Para além disso o seu namorado tem um maravilhoso emprego capaz de os suportar a ambos, logo não precisaria do dinheiro da simples casa.

Quinta-feira, 14 de junho de 1990

Apareceu recentemente à minha porta um corretor de bolsa, que andava à procura de uma habitação perto do local onde trabalha.

O homem é um doce de pessoa. Parece ter muito azar com o amor, mas é bastante jeitoso.

Gostaria de encontrar o herdeiro dos meus poderes rapidamente, pois estou cansada de viver com pessoas diferentes desde há tanto tempo.

Transformei a casa numa gigante propriedade, mesmo perfeita para alguém com tanto dinheiro como um corretor de bolsa. Eu seria uma empregada de tempo inteiro, por entre cozinheiros, jardineiros, funcionários para a manutenção da piscina e seguranças.

Durante estes tempos, eu tenho sido praticamente a melhor amiga deste homem, que sempre que chega a casa pede-me que nos faça um chá que me sente à mesa com ele para me contar como correu o seu dia.

Richard era o nome deste novo rico.

Na verdade, o seu coração, fortuna, e forma de ver o mundo fazem-me lembrar do Phillip. Quem sabe, se ele não reencarnou no corpo deste homem?

Não seria engraçado, o facto de um homem viver numa casa e na sua seguinte vida viver na mesma casa? Acho que seria uma coincidência improvável.

— Elizabeth, vou jantar com uns colegas a Manhattan, provavelmente chegarei tarde.

— Não se incomode comigo, senhor. Oh, uma coisa: já não há ovos.

— Ah, antes de chegar ao restaurante passo pelo supermercado ou assim.

— Faz bem, senhor. Por favor divirta-se.

— Farei o que puder — sorri ele.

Não ter carro é uma chatice. Bom, não com este patrão, pois alguns colegas meus poderão fazer o trabalho de compras, mas tenho a certeza que no futuro será imprescindível.

Segunda-feira, 16 de março de 2009

O meu patrão saiu para trabalhar como é costume, por isso poderei deixar o papel extenuante que tenho de fazer para dar a impressão que sou uma velhinha à beira da reforma, pois parece que cada ano que passa me sinto mais enérgica.

Os meus sobrinhos já têm os seus filhos, segundo me informaram na semana passada. Convidaram-me para a Cerimónia de Iniciação num Novo Mundo, uma espécie de festividade em que se saúda os recém-nascidos no mundo nojento que estão prestes a viver.

Não se fazia esta cerimónia com muita frequência no meu mundo, apenas com a influencia que eu tive na mente dos habitantes é que novos costumes começaram a ser adotados por eles, por exemplo escolher qual a profissão que querem seguir no futuro, algo que antes não era permitido; apenas quando já não havia espaços para a recruta de mais Intrusos.

Decido ligar um pouco a televisão enquanto tomo o meu pequeno almoço.

Interrompemos esta emissão para informar a morte de Richard Bowman — o meu queixo cai, e a minha atenção dirige-se para a notícia, ignorando a minha refeição — O famoso corretor de bolsa morreu esta manhã ao atravessar a Ponte de Brooklyn, devido à colisão frontal com um camião de transporte de frutos que misticamente, se dirigia para Manhattan pelo sentido contrário. As autoridades ainda estão a tentar apurar se este misterioso acidente foi de facto um acidente, ou se foi propositado, devido a toda a inveja que era sofrida por este homem tão bem-sucedido — retomam a amissão de um programa infantil que não costuma estar a dar. Parece que muitas coisas estão a acontecer neste dia.

— Elizabeth! — oiço a empregada da limpeza a chamar o meu nome.

— Sim, Patricia? — faço neste momento uma cara de velha, que é aquela que tenho usado para o meu disfarce mais recente.

— Já soubeste da morte do patrão? — pergunta ela.

— Já. Coitadinho do senhor. Vou rezar pela sua alma — levanto-me custosamente da cadeira, e dirijo-me para o meu pequeno quarto, para pensar no que vou fazer a seguir. 

A Empregada Extraterrestre حيث تعيش القصص. اكتشف الآن