Prólogo: A Demanda do Rei (revisado)

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Arluz e seu fiel amigo Saul, seguido pelo anão Serlos entraram primeiro na sala. O mago negro estava conjurando um feitiço sobre um corpo cadavérico. Ao ser surpreendido, ele revidou lançando seu poder descomunal sobre os guerreiros, que desviaram a tempo. O necromante levantou os esqueletos e corpos pútridos que havia na sala, muitos eram dos grandes magos que tinham sucumbido para o mesmo Vorlak anos atrás, quando tinha começado sua sede de poder, que culminou com o massacre do círculo dos magos. Os guerreiros tiveram de se defender contra os cadáveres animados, que mesmo sem vida preservavam uma parte do poder que tinham quando vivos, e usaram de todo esse poder contra os guerreiros.

Enquanto os guerreiros estavam ocupados, Vorlak se voltava novamente ao corpo que estava sobre uma mesa de pedra. O necromante drenou toda a energia transformando o corpo em pó; com dificuldade, Arluz avançou desvencilhando dos conjurados. Enquanto a voz retumbante do necromante ecoava pelas paredes do salão, uma onda de poder circulava pelos guerreiros, e a escuridão os tomava. De repente, tudo ficou em silêncio, e apenas contra toda a escuridão que tomava a sala, a espada do rei brilhava de tanta energia, sendo o único ponto de luz numa batalha particular contra as trevas. O rei de muitas eras atacou, e seu golpe foi certeiro, atingindo o necromante no peito, rasgando a carne e expondo o coração inerte. O mago das trevas caiu, e, assim como seu mestre, os mortos-vivos caíram. Arluz olhou sua espada que estava coberta pelo sangue maldito do necromante, a luz parecia ser consumida pelo sangue pútrido. A sua volta, o rei observou seus companheiros. Saul estava ferido, porém se mantinha de pé, os outros pareciam bem ou melhor do que se poderia estar naquela situação.

Para surpresa de todos, uma risada ecoou fúnebre e nefasta. Num piscar de olhos, Vorlak estava de pé em frente aos guerreiros; seu peito estava aberto e a ferida tinha aspecto de podre, e que aos poucos ia se regenerando deixando apenas uma grande cicatriz. Os olhos do mago profano não tinham mais o brilho da vida e sim meramente o poder, e de sua boca descarnada saía um hálito frio e cortante que fedia a decomposição.

– Eu não posso morrer! Arluz, filho de Angelus – a voz fantasmagórica entrou nas mentes dos guerreiros ferindo como se fosse agulhas quentes. – Pelo menos, não mais, não agora... não agora... – O ser cadavérico parou e olhou para o rei. Sua voz subiu e trovejou: – Eu sou o próprio rei-necromante. Eu sou o Lich, eu sou o poder! E a minha fúria varrerá o mundo e a minha sede de poder será eterna como meus anos neste mundo, tudo e todos se curvarão diante de Vorlak, o Lich... Vorlak, o Profano.

A criatura bateu o cajado no chão e uma onda de energia vil tomou o lugar, e as paredes da sala começaram a ruir. O rei Arluz tentou seguir com o ataque, mas seus golpes foram repelidos. O salão começava a desmoronar, então Arluz olhou para o grupo e ordenou a sua retirada.

O rei ajudou o amigo Saul a se levantar e tentaram escapar daquela armadilha mortal, porém o rei-necromante, observando-os sadicamente, os ataca com ferocidade; Saul, ao perceber o ataque, em um ato de bravura, se jogou na frente da bola de fogo das sombras que se dirigia ao rei. O guerreiro caiu quase sem vida enquanto as colunas do salão se ruíam na frente deles. Num último esforço, ele pediu ao rei e grande amigo Arluz que fugisse, porém o rei correu pelos corredores, contrariando o pedido, até alcançar o passadiço que unia a ilha ao continente. Já do lado de fora dos círculos em ruínas, o rei viu seus companheiros mortos e seus escudos partidos. Diante deles, seus algozes estavam à espera do rei, os três generais do mago profano: o demônio das trevas, uma criatura feita da mais profunda escuridão e coberta por um véu de névoa que a acompanhava por todos os lugares. Pouco se sabia sobre ele, e o pouco que se sabia era sobre sua força monstruosa e seu caráter dúbio. A acólita Lhiz era a líder da seita que venerava o mago profano como um deus; outrora já fora uma grande rainha feiticeira acumulando poder por eras devido ao seu sangue élfico, porém a rainha se curvou diante de Vorlak, sendo hoje a mais devota serva do Lich. A única lembrança que ela carrega dos tempos de rainha é seu nome Lhiz, estrela de luz. Implacável, ela comandava a elite do Exército Negro de Vorlak, os monges caçadores de magia. Já o Rei-Dragão Olecran andava pelo salão do castelo do necromante, com sua forma avatar de meio orc, com quase dois metros de altura e com grandes caninos amarelos à mostra.

Das ruínas, Vorlak emergiu. A seu lado, um cavaleiro negro caminhava, sua pele se desfazia a cada passo consumida pelo fogo. Arluz reconheceu imediatamente a armadura retorcida, era Saul. Seu amigo agora era um servo do necromante, de suas órbitas oculares o fogo ardia sem parar, parecia que o combustível era a própria essência da ira. Os dois caminharam até onde o rei estava encurralado. O demônio das trevas examinou o novo guerreiro. Por gostar do que viu, jogou para ele uma espada, o cavaleiro desembainhou a arma, e, quando o ar tocou a lâmina, o fogo negro tomou conta da espada envolvendo toda a arma.

– Você sabe por que eu avanço sobre tudo? Por que minha sede de conquista é insaciável? – trovejou o Lich. – Porque eu quero o poder pelo poder. Eu quero ser um deus entre os vivos e os mortos. – Ele parou por um minuto completando sua força. – Eu dominarei todo o mundo e todos se ajoelharão perante Vorlak, assim como a própria morte o fez. – O mago profano estendeu a mão descarnada para Arluz.

– Ajoelhe diante de mim e tome parte do meu poder, nada nos quatro cantos de Enora será capaz de te ferir além de mim, filho de Angelus, tome seu lugar a meu lado e ajude-me a conquistar este mundo.

– Nunca! – repudiou Arluz, sem hesitar. – Você será derrotado, ser maligno.

Vorlak caçoou do rei com uma gargalhada.

– Você teve sua chance, Rei de Etinas. Logo o mundo se curvará diante do meu poder e meu nome será temido em todo o canto; eu serei o rei, o senhor de toda Enora. – O Lich deu as costas para Arluz.– Saul, mate seu antigo rei. – Ordenou sem olhar para trás. – Filho de Angelus, seu reino irá queimar e todos que ama perecerão sobre o cajado.

O cavaleiro obedeceu sem questionar e atacou com toda a fúria. Seus golpes pareciam um martelo de ferreiro contra o aço sendo moldado na bigorna. A Arluz restou se defender dos golpes incessantes daquele que agora era seu inimigo.

A cada golpe, o rei era impelido para trás, ficando entre o inimigo e o penhasco.

– Pare, Saul, meu amigo! – tentou argumentar o rei em vão.

Porém, a única resposta do cavaleiro negro era seus golpes cada vez mais fortes. O rei se defendeu como podia, mas os golpes eram incessantes e ferozes. O Cavaleiro Negro levantou sua espada, parecia colocar todo o mal e o poder contra o seu antigo rei, e, com um último golpe, a espada do rei se quebrou e dela uma onda de luz se dissipou sobre eles. Arluz caiu do desfiladeiro para o mar que ainda estava calmo e silencioso como um cemitério abrigando mais um convidado da morte. Saul ficou parado com os olhos fixos no rei, contemplando sua queda e sua morte.

O monarca caiu no mar. Com o impacto, quebrou várias costelas, um braço e as duas pernas, uma dor lancinante o acometeu e o ar lhe escapou dos pulmões. Seu último pensamento o levou para casa, para o filho e sua esposa, as imagens escapavam de sua mente como a vida de seu corpo. A morte o envolvia em seus braços, mas o rei estava sorrindo. Porém, antes de perder os sentidos, ele pode escutar algo em sua mente.

– Hoje não, meu amigo... 

 

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Lágrimas de Rhanor: Herança de SangueWhere stories live. Discover now