6 - A Revolução

Start from the beginning
                                    

As mulheres eram agora livres para andar sozinhas nas ruas, porém os homens ainda acham essa ideia absurda.

Azar a deles.

As mulheres começaram a frequentar cabarés, bem como fumar em sítios públicos. Com a saída dos homens para a Primeira Guerra Mundial, os trabalhos deles começaram a ser desocupados, deixando às mulheres uma oportunidade de serem independentes.

As mais importantes e marcantes mudanças foram sobretudo o direito ao voto, direito ao divórcio, e poder ter a mesma educação que os homens têm.

Na onda da emancipação feminina, toda a década porque estamos a viver está a ser denominada de "Os loucos anos vinte". Começaram a ser praticados novos desportos, novos estilos de música, novos paços de dança, e uma novidade: o rádio. Através dele apareciam dezenas de anúncios de eletrodomésticos por dia que muitas moças nem sabiam que existiam.

As alterações causadas pela guerra também geraram novos tipos de arte, entre eles alguns que eu não acho a mínima piada.

— Um brinde, a nós! — brindo eu, com as minhas duas novas melhores amigas num cabaré muito frequentado pelo Philip, quando ele cá estava.

— Um brinde! — dizem Susan e Colleen ao mesmo tempo, enquanto as nossas três canecas de vidro embatem umas nas outras.

— Elizabeth, já viste que foste tu que causaste tudo isto? — pergunta-me Susan a sorrir.

— Já. É uma sensação engraçada saber que fui eu que mudei o mundo feminino para sempre.

— Ei, tu e nós, não é? — pergunta Colleen, com um sorriso forçado.

— Claro, todas nós! — grito eu, por saber que as outras mulheres existentes no cabaré também participaram na revolução — Bom, meninas. Tenho que ir para casa. A minha novela na rádio está quase a começar.

— Oh, fica só mais um bocadinho! — insiste Susan.

— Não posso querida, tenho que me lavar e depois vou dormir. Por alguma razão o dia de hoje foi estafante.

— Oh, está bem. Vemo-nos amanhã então.

— Até amanhã meninas.

— Dorme bem — despede-se Colleen.

Saio do cabaré, e reparo que já está noite escura. A minha casa não fica muito perto daqui, porém não fica tão longe que justifique a utilização da minha nave.

Hoje está uma noite quente mas húmida.

Vou pelo passeio calma e serena, a pensar na minha vida.

Estou na Terra há 31 anos. A minha aparência está exatamente igual àquela que eu tinha quando aqui cheguei.

Será que fiz mal em pedir aquele desejo? Será que fiz mal em desejar nunca morrer?

Talvez tenha.

Como a espécie mais inteligente do universo, um verameriano tem a capacidade de entender quando fez algo desnecessariamente mau. Hoje, essa capacidade está a dar comigo em doida.

Enquanto vou a chutar uma pedrinha com as botas, uma mão puxa-me o braço para um beco. Uma mão forte, e grande, segundo percebo. Só pode ser um homem.

— Larga-me ou rebento-te a cabeça! —Infelizmente, a luz existente no beco não é suficiente para ver a cara deste bandido.

— ~ , sou eu! — percebo o sotaque veramerer. É a minha irmã. O que estará ela a fazer aqui?

— ^ ? O que estás a fazer aqui?! — sussurro como se estivesse a gritar.

— Procurei-te por todo o lado. Não estavas em casa. Por isso segui a tua nave.

— Ok, mas do que precisas? — pergunto impaciente.

— Veramer está uma confusão. Todo o planeta está de pernas para o ar.

— O quê? Porquê?

— Todo o planeta te odiava. Todo o planeta sabia quem tu eras por causa das coisas aparentemente "más" que disseste na minha cerimónia.

— Sim, e então?

— Depois desta revolução, o nosso planeta inteiro viu como fizeste este planeta ficar feliz. Ficaram confusos, visto que os mitos antigos dizem que quando alguém faz algo de mau, só consegue fazer algo mau para sempre. O planeta está a fazer manifestações em como a palavra que o governo sempre deu está errada, e sempre esteve.

— Uau. Talvez para além de um consiga melhorar 2 planetas — rio.

— Isto não tem piada, ~ . O Céu está a ficar... verde.

— O quê?! — grito — Isso é impossível!

O céu é a cor do planeta. É a cor da alma daqueles que lá habitam.

Vamos imaginar um planeta onde não haja nem roubos, nem maldades, ou aldrabices.

O Céu desse planeta é branco.

O céu de um planeta em que só um país seja mau e ruidoso, é azul muito claro.

O céu de um planeta em que haja mais pessoas boas do que más, é um azul confortável e relaxante.

O céu de um planeta onde 70% da população é má, é amarelo.

O céu de um planeta onde existe um grande número de gente má, mas existe gente boa, é verde (mistura de amarelo com azul)

Por fim, um mundo onde menos de um porcento da população seja boa, é laranja escuro — como era Veramer.

— É bem possível. O governo já está a tentar fazer poções que apague a memória às pessoas para esquecerem quem tu és.

— Oh, eles não vão conseguir. Existe sempre qualquer coisa que lembre as pessoas da gente boa.

— Não te esqueças que as pessoas más são mais lembradas do que as boas.

— É verdade. De qualquer maneira, porque é que estás aqui? Não é que eu não goste de te ter cá, mas acho que podíamos ter falado disto por vídeo-chamada.

— Nem pensar, o governo podia hackear a transmissão.

— Oh, pois.

— Bem, vais-me mostrar a cidade ou não?

— Com muito gosto! Mas espera para ser de manhã, vêem-se mais coisas.

Eu e a minha irmã seguimos a caminho de minha casa. Acho piada ao seu disfarce de Intrusa, por ser um homem. Gosto do bigode. Amanhã faremos uma viagem semelhante àquela que eu fiz quando cheguei cá.

A Empregada Extraterrestre Where stories live. Discover now