5 - Parte 1: A Consequência

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— Põe a dar os noticiários veramerianos nas televisões de casa. Não dês quaisquer sinais de que os noticiários estão a ser vistos da Terra. Fá-lo da maneira mais discreta possível. Entendido? — ordeno à nave.

— Sim, senhora — responde em verameriano.

De seguida, volto para dentro. E na pequena, mas tecnológica televisão de Veramer o noticiário começa a dar.

Aquela Que Discordou. A mulher mais odiada do nosso planeta deu sinais da sua existência. O Trio Tenebroso foi encontrado hoje morto no planeta Terra, apenas há 2 horas atrás. A autópsia dos corpos do grupo indica um sufocamento no líder, não obstante, não foi encontrado qualquer tipo de vestígio de sufocamento do pescoço do seu disfarce terrestre. Fãs do grupo já estão por todo o nosso planeta a criar pequenos rituais em homenagem aos elementos deste tão famoso grupo, morto hoje por Aquela Que Discordou. Tenho a certeza que toda a família desta traidora já esqueceu que esta existe, porque senão será presa e maltratada assim como a filha será, quando voltar para a salvar a sua família. — diz a mulher com um sorriso forçado e desprezo — Boa noite a todos.

Não posso acreditar. Tenho que salvar a minha família. Vou contactá-los e é já.
Não o fiz antes porque tinha receio que não aceitassem ver-me.

— Olá? — pergunto em verameriano, uma vez que consegui estabelecer um fraco contacto com a televisão da minha casa verameriana.

— Olá? — responde a minha irmã em inglês, por reparar na minha aparência.

Ela não devia estar em missão?

— Mana, sou eu — digo eu verameriano, mesmo antes de passar a minha mão pela frente da minha cara para revelar o meu rosto verdadeiro.

— ~ * , és tu? — responde em veramerer.

— Sou eu mana.

— Oh, temos tantas saudades tuas! A mãe chora todos os dias por sentir a tua falta, já o pai nem isso, visto que ele está do lado do governo e não do nosso.

— Isso é muito esperado, vindo do pai — respondo — Onde está a mãe?

— Mãe! — chama a minha irmã. Pouco depois a minha mãe aparece, um pouco mais velha mas mesmo assim a minha querida monstrinha velhinha.

— ~ ! Oh, que saudades que tenho tuas! — a minha mãe desmancha-se em lágrimas, fazendo com que seja eu a seguir.

— Mãe, para...— limpo as gotas de sangue que saem dos meus olhos.

Os documentos veramerianos mais antigos dizem que o ato de chorar no meu planeta é raríssimo, e como prova da sua importância, saem-nos lágrimas de sangue dos olhos. Apenas podemos chorar de saudade; por isso é tão importante.

— Bem, vocês têm que estar preparados, os noticiários dizem que vos vão torturar, mas eu vou evitar isso, eu vou para Veramer agora mesmo.

— Filha, por favor não faças isso; não vais conseguir sobreviver! Ninguém passa mais de um dia nos Campos de Tortura.

— Mãe, atualmente eu consigo fazer coisas que mais ninguém consegue. Tens de confiar em mim. Antes de veres, provavelmente eu já vou salvar o nosso planeta inteiro. Até já.

Desligo bruscamente a chamada, sem dar oportunidade do meu irmão mais novo chegar ou mesmo do meu pai. No entanto, não me preocupo. Passo a mão de novo de novo na minha face, para me devolver o rosto terrestre; uma vez que prefiro.

Saio da porta da cozinha, e sem trazer nada comigo, entro na nave e começo a viagem.

— Nave, és capaz de viajar à velocidade da luz? — pergunto, colocando óculos escuros veramerianos.

— Não, senhora.

— Agora és. — Encolho os ombros antes de colocar os cintos de segurança.

De repente, a nave fecha a minha porta e aponta o seu nariz para o céu, pelo que depois vejo que deixa uma cratera enorme no jardim do meu Philip. A nave dirige-se ao espaço num abrir e fechar de olhos, e quando dei por fim já estava fora do sistema solar. De repente, um frio tremendo fez-se sentir dentro do ambiente da nave, por isso ordeno que a nave esteja igual à temperatura que estava na Terra.
Vejo que me estou a aproximar de Veramer, de acordo com o painel da nave. Nunca nenhum intruso teve a coragem de ir com o seu disfarce terrestre ao meu planeta. Por isso, sou eu que quebro mais uma lei. Tenho a certeza que os computadores avançados do meu planeta já estão a ver que estou a chegar, por isso a qualquer momento começaram o bombardeamento de bolas venenosas para mim. Este método de proteção é um dos mais irritantes: aproxima-se de tudo aquilo que for uma fonte de calor, depois penetra na pele e causa uma comichão extrema, podendo depois levar à morte. Para isso, desejo que todos os métodos de proteção do planeta implodam, não me impedindo de entrar na atmosfera de Veramer.

Peço à nave que abrande, para que a entrada na atmosfera não seja tão brusca que faça a nave explodir de calor.

Aterro na pista onde normalmente os Intrusos partem com as suas naves. Ainda na pista, consigo ver a sala onde estava a decorrer a cerimónia de despedida da minha irmã; a cerimónia onde eu fui mandada para a Terra, há 23 anos atrás. Deparo-me com o céu que eu mais odiei ver em toda a minha vida: o Céu Cor-de-Laranja.

Sim, aqui o céu é cor-de-laranja.

Ordeno que a minha nave se torne um carro. Mas claro que não pode ser um carro qualquer; terá de ser um carro que não capte algumas atenções de veramerianos. Quero que atraia todas as atenções por onde eu passar. Por isso, peço que a nave se torne no veículo de transporte do Gronos, mas pintado de cor-de-rosa e com música folclórica aos altos berros. Antes de partir, coloquei umas luvas de cabedal, para que seja mais fácil conduzir a grande carrinha. Antes de sair desejei que o GPS do carro me mostrasse como chegar à minha antiga casa, que seja à prova de qualquer arma verameriana, e que a carcaça deste carro consiga suportar tudo e todos pelo que eu passar.

Ao sair da pista, tive que me deparar com a casinha do "porteiro", que via a minha identificação e isso assim. Obviamente que rebentei com a cancela que me impedia de passar, fazendo com que ele chama-se toda a polícia que conseguisse.

Com o passar dos anos, vejo que a Terra está a ficar cada vez mais parecida com Veramer; tem estradas, tecnologia nas ruas, e as sirenes mais irritantes do mundo para os carros da polícia.

Para dar ênfase à minha fuga, coloquei uma música de heavy metal, para assustar todos.

Não quero usar muitos poderes aqui; eles podem descobrir que não sou como eles e podem tentar estudar-me. Por isso, vou despistar a polícia com métodos fáceis. Reparei numa pasta — com documentos importantes, calculo — que estava no banco do acompanhante do condutor. Abri o meu vidro e coloquei a mala na rua, fazendo os três carros que viajavam em fila indiana colidirem com a fila de carros do trânsito.
Devo admitir que gostei desta pequena perseguição, mas não quero que percebam o que sou eu. Por isso, transformo o carro do governador num carro exatamente igual a um carro que eu vi a uns quarterões atrás; bege e com um aspeto normalíssimo. Enquanto estou a viajar pelas ruas da minha cidade, vejo grafites. Grafites com a minha cara neles desenhada, com um símbolo que me é desconhecido.

Finalmente chego à minha casa da infância. Está exatamente igual a como eu me lembro. Não trouxe os controlos dos portões para os abrir.

Aliás, nem os levei para a Terra.

Por isso, faço um gesto rápido na qual agito a minha mão como se estivesse a enxotar uma mosca. Logo de seguida, o portão abre suavemente, dando-me lugar para estacionar a minha nave-carro.

Abro bruscamente a porta que vai dar à cozinha, que por sua vez está ligada com a sala. Toda a minha família vem a correr para mim, por isso vejo-me obrigada a retomar ao meu verdadeiro visual de verameriana

~* — Como o nome da Elizabeth não tem traduções em qualquer língua, utilizei um til para quando os veramerianos falarem dela.

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