Capítulo I

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Sydney Colburn abriu a porta para interromper as batidas infernais. A luminosidade brilhante a obrigou a recuar cambaleando, mas ela conseguiu agarrar a maçaneta e recuperar o equilíbrio. Incapaz de dizer um palavrão à altura de sua ira, optou por grunhir.

A pessoa que a levara àquele estado de indignidade teve a audácia de soar debochada.

- E sempre tão bem-humorada ao meio-dia ou está apenas feliz por me ver?

Sydney tentou abrir os olhos contra a luz ofuscante, uma luminosidade explicada pelo horário, e descobriu quem tinha a impressionante coragem de aparecer em sua porta com todo aquele incrível entusiasmo enquanto ela enfrentava uma horrível ressaca. A raiva perdeu força quando ela encontrou os olhos de Cassie Michaels, olhos azuis como safiras e cheios da inocência típica dos dezenove anos.

Sydney sabia que a inocência não era apenas uma encenação. Como um corpo delicado e cabelos naturalmente escuros presos em trancas juvenis que lembravam Mary Ann de Gilligan, Cassie apostava todas as fichas na carta da inocência. Mas Sydney a conhecia há tempo suficiente para não se deixar convencer totalmente pela representação da menina doei;. Mesmo assim, ela a deixou entrar em seu apartamento. Afinal, Cassie era sobrinha de sua melhor amiga. A melhor amiga que era indiretamente responsável pela bebedeira da noite anterior. E Sydney sabia que Cassie se responsabilizara por deixá-la em casa em segurança.

- Feche a porta antes que eu lhe mostre quanto estou realmente feliz - ela ameaçou com tom fraco, cambaleando para longe da soleira e lamentando a infeliz idéia de misturar vodea e rum. Ou teria sido tequila e gim? Não conseguia lembrar. Não precisava lembrar. O que quer que houvesse bebido na noite anterior, havia sido misturado a alguma substância cor-de-rosa. Groselha? Suco de morango? Quando abriu o refrige-rador procurando alguma coisa que pudesse aplacar sua sede e viu uma jarra de Espuma do Oceano, ela foi tomada de assalto por um violentoespasmo e agradeceu à sorte por não ter tomado café da manhã, ou já o teria posto para fora.
Por que ainda não havia comido, se já era meio-dia? Oh, sim. Porque acabara de acordar. E por que saíra da cama? Sim, por causa das batidas na porta. Cassie.

A morena pequenina entrou em sua cozinha como se houvesse estado ali milhares de vezes antes. O que era bem provável.

- Divertiu-se muito ontem à noite?
Sydney teria grunhido novamente, mas odiava ser redundante.

- O que veio fazer aqui? - perguntou.

- Tia Devon me pediu para vir e verificar se está tudo bem.

- Mentira. Devon está em lua-de-mel.
Cassie puxou uma cadeira de perto da mesa da cozinha, enchendo a cabeça de Sydney com um horrível guincho que encobriu as primeiras duas ou três palavras de sua resposta.
- ...bebeu mais do que todos os padrinhos do noivo juntos. Fiquei preocupada por essa bebedeira ser um sinal de depressão por ser a última mulher solteira em seu círculo de amizades.

- Deixe-me adivinhar - Sydney começou em voz baixa, puxando outra cadeira, porém sem fazer barulho. - A primeira aula que teve em Tulane foi de Psicologia Popular.

- Não tinha nenhuma intenção de responder à pergunta invasiva de Cassie. Além do mais, não tinha uma resposta. Não queria admitir que havia bebido tanto por conta de um clichê. "Pobre de mim, mulher solteira. Não tenho mais nenhuma amiga disponível com quem possa estar. Não há nenhum homem em minha vida para tornar meu mundo completo." Ah!

- Não, mas eu li o mais recente livro do Dr. Phill enquanto voava para cá, para o casamento - respondeu Cassie. - Além do mais, tenho dezenove anos, o que faz de mim uma especialista diplomada em todos os assuntos. Lembra-se?

Lembrar o quê? Os dezenove anos? Sydney resmungou alguma coisa. Não conseguia recordar a noite anterior! Como poderia lembrar algo que havia acontecido há mais de onze anos? E fizera um grande esforço para suprimir a maior parte das lembranças compreendidas entre os dez e os vinte anos de idade. Esses haviam sido anos de formação preenchidos por mais enganos, tropeços e infelicidade do que gostaria de recordar.

Atrevida e Ardente (Completo)Where stories live. Discover now