Tensão

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Quarta, 01 de Junho

Ok, agora é oficial. Inicia-se hoje a contagem regressiva final; serão meus vinte últimos dias de vida caso eu não consiga descobrir quem é o assassino, se é ele quem está me mandando estas ameaças e como posso fazer para impedi-lo de me machucar e às pessoas importantes para mim.

Coloquei uma bota de cano alto por cima da calça jeans, uma jaqueta de couro por cima da minha blusa de frio e me dirigi para a lanchonete. Logo depois do horário do almoço, quando o movimento já havia esfriado, Lorenzo apareceu e, novamente, sentou-se na mesa mais próxima da saída.

— Acho que alguém está apaixonadinho, amiga.

— Ha, só se for por você! - falei para ela, torcendo que esquecesse isso. Pois no fundo, eu ficava feliz em vê-lo ali também.

— Quem me dera. – Ouvi-a murmurar enquanto eu me dirigia até a mesa do Lorenzo, como de costume segurando bloquinho e caneta e disfarçadamente conversando com ele.

— Como você está?

—Um pouco melhor, principalmente depois daquela pomada milagrosa. – soltei uma risadinha, e, por algum motivo que até agora não faço a mínima ideia de qual seja, falei:

— A minha mãe vai se atrasar hoje, a loja onde ela trabalha está em reforma e ela não faz ideia de que hora vai chegar em casa, o que significa bem tarde. Se você quiser eu posso ir de novo à tua casa te ajudar. – ok, não foi bem essa a reação que eu esperava. Ao invés de aceitar e agradecer, ele ficou olhando para mim como se estivesse vendo um fantasma, seus olhos vidrados, a boca entreaberta, uma feição total de incrédulo. – Oi, Lorenzo, viu um fantasma? – passei a mão na frente do seu rosto, finalmente capturando a sua atenção.

— Ah oi, desculpa Olívia. Sim, se você quiser... Não irei sair.

— Fechado, então. Já te trago teu cappuccino com panquecas. – saí de sua mesa e fui em direção ao balcão, onde Alana estava me observando com olhos semicerrados.

— Ele não parou de olhar pra tua bunda desde que você saiu da mesa dele.

— Será que tem alguma coisa nela? – falei, sentindo meu rosto ficar vermelho igual um pimentão.

— Não sei, deixa-me ver – ela fingiu que estava pegando alguma coisa atrás de mim e da cafeteira e, por fim, falou – além da beleza, não tem nada demais aqui não. – Dei um tapinha em seu braço fino, rindo, porém meio envergonhada.

Logo após ter servido Lorenzo, a porta abriu e Jake adentrou a lanchonete, retirando seus óculos de sol e arrancando suspiros de algumas meninas sentadas em uma das mesas. Porém ele não se sentou, veio direto ao balcão em minha direção.

— E aí bonitão, o que manda? – ele me olhou com uma cara engraçada e eu respondi com a melhor imitação de garçonete de filmes, mastigando chiclete de boca aberta e enrolando uma mecha de cabelo nos dedos, o que arrancou uma linda risada sua.

— Vim te ver, linda – ele esticou a mão e cheguei mais perto dele; ao invés de só me abraçar, como achei que ele faria, seu rosto veio ao encontro do meu e nossos lábios se tocaram, rapidamente e de um jeito casto, o mais perto possível de um beijo "apropriado" para meu local de trabalho. – Tudo certo para sábado?

— Sim... Verdade, isso me lembra duma coisa muito importante. – Viro-me para minha colega de trabalho, conquistando sua atenção - Alana, posso dormir na sua casa sábado?

— Claro, mi casa és su casa, amiga.

— Porque você vai dormir na casa da Alana? – Jake olha desconfiado entre nós duas.

— A minha mãe não vai estar em casa sábado, ela precisa cuidar da minha avó.

— Entendi. – falou ele com um sorriso maroto – você poderia até passar a noite na minha casa, se fosse o caso.

— Han... Eu bem que gostaria, mas não quero perder a confiança da minha mãe. Você sabe que todo mundo fica sabendo de tudo que acontece nesta cidade.

— Quase tudo, lindinha...

Ultimamente sim, quase tudo. E você, Jacob Cristoph, tem algum segredo tenebroso escondido por detrás desses olhos castanhos esverdeados?

— Acho que você vai ter que descobrir sozinha – ele segura o meu queixo e planta mais um beijo casto nos meus lábios. – Tenho que ir para a faculdade, até outra hora, lindinha.

Acompanhei-o com meus olhos enquanto saía da lanchonete, assim como fez Lorenzo. Quando Jake passou pela porta, os olhos de Lorenzo cravaram em mim, com um misto de decepção e raiva. Quando ele veio pagar a conta, resolvi pedir o que havia de errado com ele.

— Eu não gosto desse cara. Você merece coisa melhor.

— Mas ele parece bom pra mim. Posso saber por que essa desconfiança toda com o Jake? Afinal ele é o filho do Xerife, duvido que ele faria alguma coisa má contra você ou outra pessoa.

— Quer mesmo saber? O cara que me atacou segunda-feira me acertou um gancho de direita que me deixou isso aqui – apontou para seu hematoma na bochecha e o olho inchado. - E adivinha: seu namorado tinha machucados nos dedos do punho direito. É muita coincidência, não acha? Ou você não o conhece direito e ele está espancando pessoas pela faculdade afora.

— Não percebi nada, Lorenzo. Mas faremos assim: da próxima vez que eu o ver, o questionarei sobre os machucados. Pode ser? Mas enquanto isso, por favor, pare de desconfiar dele.

— Muito pelo contrário. Irei desconfiar dele até que ele se prove inocente.

— Como quiser. – falo, contrariada.

— Até mais, Olívia. – ele fala e sai sem esperar minha resposta, não que eu fosse dar uma de qualquer jeito.

o

Sete Aromas do PecadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora