1. A Noite Está Só Começando.

42 3 0
                                    


  Acordo mais uma vez em uma manhã fria e úmida. Está chovendo, consigo claramente ouvir os pingos finos batendo na janela do meu quarto.

  Abro meus olhos e a claridade me cega, apesar do tempo estar nebuloso o sol ainda está em seu lugar.
Ponho minhas pernas fora da cama, coloco meus óculos e vou para o banheiro. Sinto como se estivesse bêbada.

No pequeno espelho, encaro meu reflexo pálido sob a luz amarelada e me assusto. Eu sabia que olheiras estavam surgindo abaixo dos meus olhos, mas não que estavam tão profundas. Talvez eu devesse ter noites de sono melhores.

Depois do banho escolho na pouca variedade que tenho uma jaqueta branca e uma calça jeans de cor escura. Como está frio, cubro minha cabeça com uma touca, o que me deixa mais confortável.

Vou para a cozinha descendo a escada, olho ao meu redor e não vejo ninguém. Meu pai já deve ter ido para o trabalho. Papai trabalha em um cartório, quase nunca o vejo de dia, além dos domingos.

  Antes de sair de casa, eu preparo um sanduíche de manteiga de amendoim na esperança de enganar meu estômago. O que vai segurar minha fome por uns vinte minutos, mas da pro gasto.

  Depois que saio de casa, após alguns minutos, no horizonte, consigo ver a enorme escola. Apesar de eu estudar aqui apenas a quatro meses, me sinto como se já estivesse em casa.

~🍷~

  As primeiras aulas foram entediantes como sempre, mas, no intervalo, uma coisa que Steven me disse chamou minha atenção.

— Você vai para a festa do Bryan amanhã, não é? Claro que você vai! Você não vai me abandonar. — Afirma ele.

— Não. — Me encolho. — Ele nem sequer me chamou.

— E nem precisa, todos sabem que ele tem uma queda por você.

— N-Não fala besteira. E mesmo se eu quisesse, não ia dar, tenho muita coisas para fazer amanhã. — Minto.

— O que você vai fazer amanhã? Eu tenho certeza que nada. — Eu realmente não tenho nada para fazer, mas não sei se quero ficar junto a milhares de bebidas alcoólicas.

— Eu vou... — Procuro no fundo da minha mente uma ideia para despista-lo. — Escrever mais um capítulo de Super Cherry. — Dou para ele um sorriso amarelo.

  Super Cherry é uma história que eu venho desenvolvendo a alguns meses. É sobre uma super heroína que é capaz de soltar uma energia rosa pelas pontas de seus dedos.

— Achei que você já tinha terminado ela. E aí, ela fica com aquele cara feito de gosma?

— Ainda não sei, o Sr. Duper é um ser mágico que vem de um reino distante, então... — Eu paro de falar quando escuto Steven roncando, fingindo estar dormindo. Reviro os olhos e o empurro, de brincadeira. Ele solta uma gargalhada.

— Vai por favor, se você não gostar nós voltamos — E faz a maldita cara de cachorro sem dono, odeio quando ele faz essa cara. Mas pensando bem, eu posso até ir, faz um certo tempo que não vou à uma festa de verdade.
A ultima festa que eu fui, foi a do aniversário da filha da vizinha. Engordei três quilos só comendo brigadeiro.

— Tudo bem! — Consigo finalmente dizer. — Eu vou! Mas nem pensar em ficar muito, Okay?

— Claro Victoria. — Steven levanta uma de suas sobrancelhas.

~🍷~

  Meu celular vibra no meu colo com a mensagem de Steve:

[18:34. 04/07/2015] Little Babe: Tori se troca, porque Tyler e eu passaremos de carro em frente à sua casa as 20:00. E é para estar pronta!

  Calma, é só uma festa boba. Bufo sozinha. Que tipo de roupa usar? Não posso simplesmente por um moletom. Apesar desta ser uma ótima ideia. Resolvo usar um sapato ankle boot fechado em couro e salto alto. Eu espero conseguir aguentar um tempo no salto. Visto uma calça jeans e um uma blusa de frio, vermelha e listrada.

Acho que estou pronta. Meu reflexo parece estar muito bem. Mas ainda consigo ver as olheiras, então passo uma camada extra de maquiagem. Eu pareço bonita. Meu cabelo ainda está com cheiro de shampoo de melancia.

  Estou feliz que meu pai tenha me autorizado a ir. Mas ouvi meia hora de: "Não vá falar com estranhos", "Não volte tarde", "Não fique bêbada". Preocupação básica de pai. Eu sinceramente não gosto de bebidas Alcoólicas, afinal, só tenho dezessete anos.

  Olho para o relógio e ainda são 19:37. Então desço e fico sentada perto da porta, me distraindo jogando Candy Crush. Uma estranha ansiedade se instala em meu estômago. Sinto vontade louca de chorar e rir ao mesmo tempo.

— Você já vai? — Me assusto com aquela voz familiar, quando me viro me deparo com uma figura alta me olhando. Meu pai.

— Hmmm... Daqui a pouquinho. Só estou esperando o Steven... — Eu falo enquanto brinco com uma pequena pele no canto da minha unha.

— Bom, eu só queria saber se você está bem. — Meu pai diz e reparo em pequenas bolsas abaixo de seus olhos castanhos. Céus, ele está exausto.

  Quando abro minha boca para falar escuto uma buzina. Steven.
Como eu sei? Bom, esse som ALTÍSSIMO berrando Baby One More Time é inconfundível.

Me levanto e caminho até o meu pai.
— O senhor está muito cansado. Sabe o que você vai fazer? Deitar e dormir por longas e deliciosas doze horas. Combinado?

— Combinado. — Ele abre um sorriso reconfortante e me beija na testa. — Promete não voltar tarde?

— Eu prometo.

Quando saio de casa vejo Steven e Tyler gritando e dançando. Corro até o carro e me sento no banco de trás, ele cheira a menta e tabaco.
— Tem como vocês dois serem menos barulhentos, por favor?

— Ânimo Victoria! A noite só está começando!

ImmortalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora