Capítulo 1 - O início

179 9 0
                                    


O primeiro cenário encarado pelos irmãos Andrew e Ero ao chegar em Bargot foi a vila das bruxas, bem ao lado da praça de Notternham. Cansados após uma viagem de 5 dias, os irmãos não foram bem encarados pelos camponeses que os rodeavam.

- É este o famoso reino mágico? - questionou Andrew, sarcasticamente.

- É o que as placas dizem, Andrew, pelo menos chegamos em algum lugar. - Respondeu Ero.

- Devo admitir que beleza não falta.

- Tente se enturmar.

- Você disse que precisávamos arranjar um emprego, conseguir uma chance de recomeçar.

- É exatamente o que estamos fazendo. - Concluiu, afastando-se de Andrew lentamente, partindo em busca de uma hospedaria.

Andrew, com seu cabelo de fios pretos e encaracolados, porte médio e ombros largos, sempre viveu na sombra de seu irmão mais velho, Ero, que exibiu durante toda a sua vida as habilidades mágicas de controlar o vento e o ar, herdados de seu pai, antigo e falecido rei de Wensar.

Embora não tenha adquirido habilidades mágicas, Andrew possuía perícia e experiência com lâminas e adagas, com as quais praticava desde criança.

- Quanto custa o vinho mais barato? - indagou Andrew, sentando-se na beira de um banquinho na taverna do olho negro. O taverneiro serviu-lhe uma garrafa empoeirada de um vinho desconhecido batizado de Simon's. Andrew ignorou os copos na mesa para engolir metade do vinho sem nenhuma preocupação.

O taverneiro, que autodenominava-se Bento, puxou a banqueta ao lado do jovem e arrancou a toalha de sua camisa.

- Você é novo aqui, não é? - Perguntou Bento.

- Vai começar a me fazer perguntas do porquê de eu vir pra uma taverna no meu primeiro dia?

- Só queria lhe deixar informado que um vinho custa mais do que 2 libras.

- Então talvez eu deva pagar de outra forma... - Levantou-se Andrew, envergonhado, vasculhando seus bolsos em busca de alguma coisa valiosa.

- Vou deixar essa passar, mas só se você me explicar porque carrega duas adagas no bolso.

Andrew sentou-se, calmamente, deu a última golada no vinho empoeirado, retirou uma de suas adagas e a colocou lentamente sobre o balcão.

- Me dê ao menos dois motivos para eu não carregá-las, e eu as deixo aqui com você.

Bento não teve uma resposta, pegou as duas moedas e as guardou no bolso, fez um sinal de "tchau-tchau" para Andrew e voltou a fazer o que estava fazendo.

Andrew continuou a sua caminhada em busca do nada e a espera de que Ero o procure com boas notícias. Ele não havia se surpreendido com o reino mágico, toda aquela natureza exagerada e a multidão na praça era mais como estar em casa para ele. De qualquer forma, suas preces foram atendidas e Ero encontrou Andrew com a notícia de que havia achado uma hospedaria humilde e barata, para que eles pudessem passar seus primeiros meses de emprego num local fechado e seguro.

Após o "check-in", ao cair do dia, Andrew despediu-se de Ero e levou suas adagas para passear no reino. Não foi difícil identificar as criaturas que andavam calmamente nas ruas de Bargot: magos, feiticeiras, gladiadores. A surpresa veio ao avistar um grupo imenso de pessoas com tochas nos arredores do castelo, gritaria e tumulto dominava aquela parte do reino. Sem hesitar, Andrew partiu até lá para procurar saber o que estava acontecendo. Uma senhora de roupa desgastada e unhas apodrecidas foi a primeira que o respondeu:

- O rei mandou para a forca dois homens inocentes. - Disse ela, com uma voz rouca e estridente.

A multidão que gritava "morte ao rei" sem parar, acabou tirando a chance de resposta de Andrew, que encontrou-se decepcionado ao chegar num reino onde os cidadãos querem matar o rei. Ao retirar-se do tumulto, Andrew avistou um ser encapuzado e com roupas negras andando sorrateiramente para longe das pessoas, seu caminhar era suspeito. A forma com que seu toque no solo era sutilmente planejado para ofuscar-se dos outros, acabou despertando a curiosidade do jovem, que o seguiu até poço que levava ao esgoto de Bargot. Andrew tinha conhecimento de que ali era o habitat dos reptilianos, mas não regrediu. Observou de longe a fogueira que iluminava todo aquele local fétido e os três encapuzados que conversavam em sussurros.

- Nós sabemos que você está aí! - Exclamou um deles, que ergueu sua cabeça com um sorriso, mostrando sem vergonha a sua pele morena e suas sobrancelhas grossas enquanto encarava Andrew de longe. - Chegue mais perto!

Andrew caminhou em passos longos na direção dos três, com as mãos em local estratégico para sacar suas adagas caso houvesse um ataque surpresa.

- Não vim aqui espionar vocês.

- Nós sabemos, assim como não queremos machucar você. - Respondeu o homem, que abaixou seu capuz. Seu ato foi copiado pelos outros dois encapuzados. - Você teve a dúvida de seguir John até aqui, e agora eu tenho a dúvida que você precisa tirar: O que despertou a sua dúvida?

- Esse teatro ainda não revelou quem vocês são. - Respondeu Andrew, pausadamente.

- Quem nós somos? Haha! Bom... Eu sou o Scott, o de cor vinho-escuro e branco é o Arno, já o pretão que você seguiu é o John.

- E o que seria isto aqui exatamente?

- Não vamos contar o que fazemos, já não basta saber quem somos? - Disse Scott, rindo.

- Eu não sei quem vocês são.

Scott largou o pedaço de madeira que estava segurando e aproximou-se de Andrew. Sem apresentar um tom de ameaça, ele disse:

- Digamos que o rei não seja exatamente como a população gosta, mas não com coisas absurdas, nos mínimos detalhes, afinal são os detalhes que fazem de você uma pessoa completa. Nesse caso nós devíamos tomar uma atitude, o povo devia tomar uma atitude diante de toda essa autoridade suprema que só funciona na teoria. É como um grande rio, e nós somos a nascente.

- Então vocês são rebeldes. Estão insatisfeitos com o que o rei fez com aqueles dois homens?

- Não temos raiva das execuções exercidas pela corte, é algo mais profundo. Se você está insatisfeito com a realeza você tem que fazer com que os outros também fiquem insatisfeitos, como inventar um boato de que o rei executou dois homens inocentes, toda essa história...

Andrew encarou Scott com um irônico sorriso, entendo finalmente o quanto aquele grupo era perigoso, então ele se afastou, mas sem desviar a atenção dos três mercenários.

- Por que você está contando tudo isto para mim? Um camponês? - Perguntou Andrew.

- Bom, por três motivos: Primeiro porque nós também somos camponeses, segundo que eu vi as suas adagas, e terceiro... você foi o único que conseguiu nos encontrar aqui.

...




Historias MedievaisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora