Minha vida é uma mentira

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Novamente o monstro gargalhou. Eu repeti mentalmente minhas últimas palavras, mas tinha certeza que não havia feito nenhum tipo de piada — às vezes elas saem sem que eu perceba.

— Você é ousado, Oliver Turner. Admiro isso em um guerreiro.

Eu apertava o punho da minha espada como se estivesse tentando espremê-lo.

— Não preciso de sua admiração! — bradei.

Rendar sorriu com escárnio.

— É claro que não. Você é forte. Foi capaz de conquistar a Chama Sagrada em sua primeira missão — ele disse. — Porém... ainda tem muito que aprender.

Minhas pernas pareciam concreto seco, não conseguia me mover e muito menos raciocinar com exatidão. As palavras que saíam da boca da criatura eram como lâminas afiadas cortando meus ouvidos.

— Entretanto, ao contrário de Belenus, eu sou um deus misericordioso. Vou lhe dar uma chance para sobreviver — acrescentou o dragão com os olhos faiscando. — Junte-se a mim — disse ele estendendo uma das mãos.

Fiquei tentado a perguntar o que ele queria dizer com: ao contrário de Belenus. Também senti um impulso para avançar e cortar seu braço estendido. Mas, por fim, atentei-me às últimas palavras.

— O quê?! Unir-me a você? — questionei. — Nunca!

Dáblio permanecia parado à direita de seu mestre. Em posição de guarda, esperando uma ordem para atacar.

— Pense melhor, Oliver — declarou Rendar com um sorriso sarcástico estampado no rosto. — Prometo que se lutar ao meu lado, protegerei sua mãe e sua namorada — concluiu ele apontando para Maia.

Foi inevitável, eu corei.

— Err... nós não somos namorados.

Um dragão maligno em minha frente, tentando recrutar-me para o lado sombrio e a única coisa que vem em minha mente é isso. Parabéns, Oliver!

— Ele está tentando confundi-lo — disse Maia à minha direita. — Não escute o que esse monstro diz.

Rendar revirou os olhos, impaciente.

— Pense bem. Estou lhe dando uma oportunidade única.

Minha cabeça doía ao ouvir as palavras do monstro. Não que eu estivesse cogitando aceitar a proposta, de fato não estava. Mas alguma coisa me incomodava nisso tudo.

— Eu disse que não! — exclamei com raiva, algumas partes do meu corpo começavam a faiscar. — Não permitirei que você destrua o mundo.

— Ora, garoto. Esse mundo está condenado há muito tempo. Inveja, raiva, orgulho, ganância. Tudo isso existe desde o princípio, as guerras surgiram por causa das atitudes do ser humano — explicou Rendar. — Eu criarei um novo mundo, um mundo perfeito.

— Deixe-me adivinhar, governado por você? — perguntou Maia.

O dragão direcionou o olhar para ela, seus olhos eram como braseiros acesos.

— É claro que sim. Os seres humanos precisam de um líder com pulso firme. Eles precisam ser punidos por seus erros.

A raiva estava crescendo dentro de mim. Já era difícil conter os meus poderes, se eu me soltasse, logo estaria em chamas saltando para cima do monstro.

— Isso é errado — murmurei. — Eu aprendi com alguns amigos, que nem todo mundo é igual. Você não pode punir a humanidade, pelos erros de poucos.

— Sim, eu posso. Eu sou um deus. Todos devem se curvar diante de mim e aceitar a punição divina — afirmou ele com os braços abertos.

Meus dentes estavam trincados, não conseguia apertar mais forte o punho da espada.

Oliver Turner e os caçadores de dragões - A chama sagradaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora