Dinozavry v Moskve

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O meteoro demorou um tempão pra cair. Aquela sensação de que o tempo passa mais devagar, saca? Todo mundo viu a pedra gigante pegando fogo, o que durou mais tempo do que a gente pensava. Os jornais já haviam falado sobre ela em outro momento e todo mundo estava esperando o espetáculo de destruição em massa, uns com os olhos na TV, outros no YouTube, outros olhando pra própria esfera brilhante no céu.

O mais engraçado —se é que posso chamar de engraçada essa tragédia— é o local onde o meteoro resolveu cair. De todos os lugares do planeta, foi logo na Rússia. Um monte de russos ligaram aquelas câmeras que abastecem os sites de humor e começaram a fazer... bem, começaram a fazer o que eles fazem de melhor.

O que tinha de vídeo louco de gente ainda mais louca não era brincadeira. Era mulher que queria ficar no caminho do meteoro pra pegar seguro contra colisão, era um cara com duas AK-47 nos braços, pronto pra fuzilar o que viesse pela frente, era tudo gente doida.

A pedra era grande o bastante para ferrar com a capital do país, mas não tão grande para acabar com a humanidade. Isso foi o que os cientistas disseram. Lá em Moscou a regra era clara: apareceu pedra, todo mundo corre pro metrô e fica lá até os alarmes pararem. Coisa normal pros russos. O que ninguém esperava era a merda que o meteoro ia trazer (Como se um meteoro caindo sobre uma cidade e a transformando  em pó não fosse o bastante).

Tudo tremeu na hora da colisão. O Japão se lascou com aquelas ondas gigantes, a China teve uns terremotos cabulosos, mas ninguém viu o que os russos viram. Foi só o meteoro encostar na Terra que uma mistura mística e científica rolou. A poeira baixou —o que levou algumas horas— e as câmeras que sobreviveram começaram a transmitir. Os prédios da capital russa deram lugar a uns pescoços gigantes, umas cabeças ossudas e uns chifres estranhos.

Rolou até a música do plantão da Globo quando o Neil deGrasse Tyson apareceu na TV dizendo que o meteoro tinha desencadeado umas impossibilidades físicas e aberto um portal. Um portal, isso mesmo. A queda desse meteoro coincidiu com o primeiro, aquele há milhões de anos, que matou os dinossauros. Nessa infelicidade acabamos por descobrir que uma penca de dinossauros não morreu quando a primeira pedra caiu. Eles foram, veja que coisa, transportados para o futuro.

Os humanos saíram do metrô direto pra boca dos tiranossauros. Foi uma correria que só. Juro, uma merda. Quem imaginaria que um monte de pterodátilos (todos eles com penas, envergonhando alguns cientistas) voando sobre os restos do Kremlin? Aqueles ornitomimos, pequenos e rápidos, logo entraram no metrô e... foi um massacre. O cara das AK-47 não sobreviveu dois minutos, foi logo pisoteado por um braquiossauro pescoçudo.

Ainda bem que os EUA jogaram uma ogiva nuclear e limparam boa parte do país. Que conveniente, né? Eles enfim conseguiram bombardear o que foi a União Soviética. Ainda hoje tem gente que fala que foi tudo armação dos EUA, que os dinossauros eram computação gráfica mas, veja bem, faz todo sentido isso tudo acontecer na Rússia. Que lugar é mais bizarro que lá? Pior que a Rússia só Curitiba mesmo.

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A ilustração (lixo) e o texto acima foI enviados para o coletivo A Zica porém não foram selecionados. Resolvi publicá-los aqui para deleite geral dos leitores. Peço desculpas aos curitibanos.

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