Capítulo 33 - Ele

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— O que é mais irônico nessa história é que a vista daqui é incrível – disse Mabel, observando as cadeias montanhosas vibrantes sumirem no horizonte.

A descida foi cansativa, apesar do ângulo não ser muito inclinado. A questão era que o quinteto estava desgastado desde o momento em que chegaram na caverna. Higino e Norah, especialmente, pela energia que dispensaram para baixar a maré. Somando os ataques dos irmãos de Marcus e Julliette, todos eles tinham motivos para desabarem, exaustos.

À medida que se aproximavam do lugar indicado, as poças de sangue tornavam-se maiores, chegando a se transformarem em riachos em alguns pontos. O sangue que escorria das paredes fluía mais rapidamente e era possível ouvir o som do líquido amaldiçoado correndo e gotejando.

Neste ponto as pedras ficavam com formas mais suaves e com a superfície contornada por linhas finas, uma abaixo da outra, como se desenhadas por algum homem primitivo. Os traços das linhas faziam ondulações de acordo com o formato das pedras, que pareciam cada vez mais com dunas rochosas.

Norah precisou parar um pouco porque sentiu náusea. O cheiro de sangue era enjoativo. E isso fazia o enjoo triplicar de força.

— Estamos perto – disse Ian, sem perceber.

Do ponto onde estavam eles conseguiam ver claramente a grande entrada da caverna, que ficava cada vez maior à medida que eles chegavam perto.

— Se eu morrer... – disse Higino.

— Você não vai morrer! – cortou Norah, sentindo a voz tremer.

— Nenhum de nós vai morrer, Higino. E ao menor sinal de perigo, nós recuamos. Se isso for preciso para a gente se manter vivo, é isso que vamos fazer. Certo? – decretou Ian.

Todos fizeram que sim com a cabeça, mas eles sabiam que aquilo era apenas uma conversa jogada fora. Eles já tinham atingido o limite e dali só sairiam colocando um ponto final na história. Se colocariam um ponto final vivos ou mortos, isso era outro assunto.

Os cinco desceram os último metros que faltavam e depois de pular com dificuldade um caminho largo de sangue que corria como um rio preguiçoso, estavam diante de uma colossal entrada em formato quase triangular. Eles ficaram um momento em silêncio, que foi quebrado pela voz de Ian, mais firme do que o próprio menino esperava.

— É aqui. Dá para sentir o peso desse lugar – todos concordaram com a cabeça.

— Foi um prazer conhecer vocês – disse Mabel e mesmo debochando, a tensão era mais notada que o tom de brincadeira.

— Vamos pegar o desgraçado – disse Higino.

— Não esqueçam de ficar longe do sangue – lembrou Norah.

— Será que o gosto é tão ruim assim? – riu Rafaelo e as garotas olharam com reprovação. Só Ian e Higino bufaram, rindo.

— Fiquem atrás de mim – disse Ian, e começou a atravessar a gigantesca abertura na rocha.

— Sinto muito, garotão. Seu tamanho pode te ajudar a ser uma boa barreira, mas prefiro estar do seu lado – desdenhou Rafaelo.

— Concordo – sorriu Higino.

Os três meninos foram na frente, com Mabel e Norah os seguindo. Adentrando o lugar, o cheiro do sangue ruim era mais forte embora ali não houvesse nada escorrendo das paredes e nem pelo chão.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora