I - Triangulum

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"Eu fiz a minha fantasia de vida mais poderosa do que minha vida real."

- Jeffrey Dahmer


Abril, 2016

Aerglow

O que é pecado? Derivado do latim peccatum, o pecado é entendido como sendo uma violação de um preceito religioso, uma desobediência a qualquer norma ou padrão. Pecar é, em outras palavras, ir contra aquilo que é considerado como sendo correto pela moral vigente. Segundo a bíblia, os pecadores seriam todos enviados para o inferno, enquanto que os cidadãos de bem, que respeitassem os mandamentos de Deus, teriam seus lugares reservados no paraíso. Naquela noite, trinta e sete assentos vips haviam sido vendidos para uma viagem sem volta ao inferno. Dez mulheres estavam encarregadas de tornar a viagem única e inesquecível. Ali, não havia certo ou errado, santo ou pecador. Ali, só havia o pecado original, aquele que só comprovava a imperfeição humana. O caos. Naquela noite, a luxúria e o desejo dos homens queimavam mais fortes que as chamas da casa de Lúcifer, e o diabo era apenas mais um dos convidados.

O que é pecado? Pecado era o que banhava a atmosfera do clube noturno Daelirium 67, que parecia contaminado pela luxúria e desejo que emanavam de seus clientes. Os copos de vidro eram constantemente preenchidos com bebidas afrodisíacas de diferentes cores e sabores que competiam por atenção com as dançarinas, que eram a verdadeira atração da casa. Luzes negras e em cores neon piscavam em flashes pelo clube, iluminando as paredes espelhadas e o pequeno palco que ficava localizado no fundo da boate, onde a maior parte dos clientes acabava se concentrando.

Uma passarela longa e composta por lajotas de vidro fosco que brilhavam em diferentes cores se estendia pelo centro da casa noturna, originando-se do palco e encontrando seu fim próximo do bar pouco iluminado no qual dois bartenders trabalhavam, girando garrafas e coqueteleiras no ar com maestria invejável. A clientela já fiel e conhecida era composta única e exclusivamente por homens. Homens casados e solteiros; loiros, morenos, ruivos, carecas. Homens altos e baixos, fortes e magros, bonitos e nem tão bonitos assim. Havia, no entanto, uma única coisa que os enquadrava em uma mesma categoria, que era especialmente bem vinda na Daelirium 67: Homens ricos. Homens ricos e que não se importavam em prender várias notas novas e recém-tiradas nas roupas íntimas das dançarinas que davam vida ao clube. O inferno nunca parecera tão atrativo.

A canção agitada e alta que reverberava pelas paredes do lugar cessou no instante em que uma das dançarinas terminou sua apresentação, despedindo-se com rebolados lentos e beijos que eram jogados no ar, ao acaso. O elástico de sua calcinha pequena e vermelha segurava uma porção de notas verdes e vistosas, que a ruiva fez questão de esconder no segundo em que desapareceu para atrás do palco. As luzes fortes e vermelhas se tornaram mais amenas, mudando para um tom esverdeado e que deixou o local na penumbra, chamando a atenção dos visitantes. Uma batida lenta e arrastada começou a ecoar pelo clube, e o barulho de saltos altos batendo contra a passarela de vidro pôde ser ouvido por aqueles que estavam mais próximos.

Uma fumaça branca e fina, formada por gelo seco, foi lançada sobre o palco, intensificando o clima de mistério e suspense que crescia conforma as batidas da canção se tornavam mais constantes e seguidas. A nova dançarina da casa caminhava calmamente pela passarela, como se desfilasse em direção ao pole dance. As botas de salto alto eram negras e longas, terminando pouco acima dos joelhos e combinando com a lingerie de mesma cor que a mulher vestia. Duas tiras finas escapavam pelas laterais de seu sutiã e se ligavam a parte de trás de sua calcinha, delineando a cintura bem marcada da dançarina, cujo olhar intenso e penetrante passeava por seus admiradores. As íris eram de um verde intenso e esmeralda, que podia ser visto mesmo de longe. Naquela noite, em especial, eles brilhavam em excitação e ansiedade.

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