Capítulo 5 - Desafios

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Os quatro levariam alguns objetos de valor, como velas e pedaços de carvão, para o caso de precisarem mesmo vender alguma coisa. Além disso, aqueles bens completariam o disfarce. A caminhada do esconderijo até a capital durava cerca de três dias, caso eles conseguissem atravessar os túneis sem interrupções. Mas Will não ousava contar com tamanha sorte, pois era improvável não se depararem com algum obstáculos, como soldados, saqueadores, mercenários e unidades de comando do governo.

Uma semana já havia se passado desde a confirmação de Camille em colocar os novos planos em prática. Os primeiros dias foram de pura especulação. Ela e sua equipe passavam horas tentando imaginar todo tipo de problema que poderiam enfrentar no caminho, inclusive a perda de vidas.

– Por favor, Camille. Como pode pensar numa coisa dessas? – grasnou Will.

– Precisamos estar prontos para tudo. Vocês precisam ir até o fim, mesmo que algo aconteça comigo.

Adam engoliu em seco. A forma como a capitã encarava tais situações o espantava em muitos sentidos. Jamais imaginou uma mulher sendo tão racional, principalmente quanto a assuntos ligados à sua própria morte. O rapaz constatou, naquele momento, os motivos pelos quais Camille liderava o grupo de rebeldes. Não era por mero acaso, muito menos pelo status herdado de seu pai. Ela tinha pulso forte, era firme em suas palavras e letal com suas armas. Mas apesar de tudo, tinha compaixão por seus semelhantes. Isso ele sabia por experiência própria.

Os ferimentos do rapaz já estavam todos cicatrizados. Seu olho tinha voltado ao tamanho e cor normais, revelando suas irises negras como a escuridão daqueles túneis. As costelas também já não doíam mais e ele finalmente podia treinar alguns golpes.

O que ninguém tinha conhecimento até então, nem mesmo ele próprio, era o quanto Adam conhecia sobre o uso de armas. Recuperou algumas lembranças desse aprendizado no dia em que Will lhe dera uma espada prateada, de cabo amadeirado, embainhada por um veludo carmim. Ao tocar o cabo brilhante, seu cérebro foi bombardeado com inúmeros flashes de imagens outra vez.

Os escolhidos recebiam treinamento em combate quando se juntavam ao governo, para o caso de precisarem se defender contra algum ataque inesperado. Por isso, ele sabia manejar uma espada muito bem, embora tivesse mais dificuldade com as facas. Não estava acostumado a fazer uso de armas curtas. Além disso, recebera lições de artes marciais há muito esquecidas e consideradas proibidas pelas leis da Fortaleza.

Como já estava recuperado, ele e Will treinavam durante várias horas por dia. Volta e meia, William se surpreendia com as habilidades de seu oponente. Apesar de nunca ter enfrentado uma luta verdadeira, Adam tinha um preparo físico e conhecimento técnico que muitos não atingiam, mesmo tendo lutado a vida inteira nos exércitos do governo.

Enquanto isso, Camille e Sarah trabalhavam nos disfarces que seriam usados. Precisavam de roupas mais novas e algumas mochilas para carregar os suprimentos. Usariam casacos para levar suas armas escondidas no próprio corpo. Não era comum ver um civil andar pelos túneis com facas expostas em sua cintura.

– Olá, meninas! O que estão fazendo por aqui com esses panos velhos? – perguntou uma mulher de meia-idade, com longos cabelos dourados presos em um coque.

Sarah abriu um sorriso de orelha a orelha quando a viu.

– Tia Mercedes! A senhora chegou na hora certa! – falou ela.

– Precisamos de ajuda com algumas roupas – confessou Camille. – Temos que parecer com os civis.

– Oh, então é disso que se trata. – constatou a mulher.

– Pode nos ajudar a costurar? – pediu Sarah.

– Claro que sim, minha menina! Me dê isso aqui, vamos ver o que posso fazer.

A Fortaleza: Mundo Sombrio - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now