Capítulo 5 - Desafios

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O som das águas abrindo caminho por entre as rochas era reconfortante. Mais uma vez Camille foi levada até o grande salão no qual ficava o riacho, na tentativa de organizar ideias e pensamentos. As atuais circunstâncias se mostravam perigosas, mas ela reconhecia a necessidade de Adam ao impor aquela condição para dar início às buscas por sua liberdade. E ele tinha razão. Se fossem mesmo fazer isso, a confiança era indispensável entre seus membros. Precisariam confiar uns nos outros cegamente, inclusive com a própria vida. É assim que as equipes de combate funcionam, elas são um organismo vivo, uma unidade.

Como capitã de várias missões já realizadas pelos fantasmas, ela tinha sido testemunha de muitas vitórias, bem como de alguns fracassos. A maioria deles relacionado à indisciplina ou desobediência. Alguém que resolvera agir por conta própria, ignorando o resto do grupo. Quando se trata de trabalho em equipe, cada indivíduo tem uma função a cumprir e quando isso não é respeitado, todos são colocados em risco.

A captura de seus companheiros na última missão, os quais salvara junto com Adam, se deu justamente por razões como essa. O objetivo da invasão à unidade sentinela era procurar por mantimentos, pois a dispensa do esconderijo estava esvaziando–se perigosamente. Um dos integrantes da equipe, responsável por dar cobertura aos outros na busca pela comida, resolveu procurar por ela também. Isso o distraiu de seu objetivo principal, abrindo uma brecha para os sentinelas se aproximarem sorrateiramente. O grupo foi obrigado a fazer uma retirada de emergência, não conseguindo escapar do combate com alguns soldados. Como saldo da missão, o homem que saiu de seu posto foi assassinado e três outros membros foram levados e feitos prisioneiros. Esse era o preço a pagar por um pequeno desvio como aquele.

A capitã respirou profundamente, buscando encontrar a calma necessária para fazer a escolha certa. Precisava de Adam na missão, isso lhe era óbvio. Sem ele, seria como tatear no escuro por um lugar desconhecido. A grande questão em seus pensamentos era se de fato poderiam confiar nele. Aquela era uma situação extremamente complicada.

Haviam se passado apenas três dias desde o resgate. Ela não o conhecia e estava longe disso, afinal nem ele mesmo sabia ao certo quem era. Poderia ser um espião, encarregado de dar um fim em todo o grupo de refugiados. Mas também podia ser uma vítima, assim como todos ali. Sentia–se num beco sem saída, colocada entre a cruz e a espada. Por um lado, Adam era uma peça fundamental no desenrolar de seus planos. Por outro, com um simples estalar de dedos, ele poderia traí–los. Não havia garantias sobre seu caráter.

Ela movimentou os pés dentro da água, criando pequenas ondas circulares na superfície do lago subterrâneo.

Adam sabia que a encontraria ali. Depois de seu pedido, todos deixaram a sala do escritório e era óbvio que ela havia ficado cheia de dúvidas em relação a isso. Ele se aproximou da saída do túnel, anunciando sua presença com o ruído oco de seus passos no chão.

– Imaginei que estaria aqui – falou ele, calmamente.

O silêncio de Camille o deixou receoso. Ele caminhou até a outra margem do lago e parou, observando a água corrente.

Um longo tempo depois, a capitã cortou o silêncio.

– Precisa de alguma coisa? – perguntou ela. Sua expressão estava distante.

– Fico imaginando o que teriam feito comigo se você não tivesse me tirado daquele lugar. – o olhar de Adam tinha algo sombrio. – Acreditei que iriam me matar, mas agora percebo o quanto fui tolo.

– Não devia ficar remoendo essas lembranças. Não vai trazer nenhum benefício. – a voz de Camille soava baixa e serena aos ouvidos dele, assim como as águas do rio.

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