Muralhas da Consciência

O Microcosmo dos Hebreus e a Realidade Atual

É comum ver pessoas se apresentarem por ai a oferecer seu deus às outras com a justificativa: "Foi deus [o dela] que criou o céu e a terra." Até passam em rosto: "Se não fosse ele você não existia".

Pessoalmente, não discordo que por trás de tudo exista um algo maior. Porém, não concordo que este seja propriedade de alguém, de algum povo, de igreja ou religião como cada uma apresenta o seu. Certo é que, sem um deus nas rédeas para impor aos ignorantes, às massas impedidas de raciocinar, as religiões não sobrevivem. Para isso, precisaram inventar e cultivar seus mitos particulares, sobretudo baseados no criacionismo, para assim facilitar a manipulação.

Todas as antigas civilizações da Terra, sem exceção, constituíram ou reconstruíram seus deuses atribuindo-lhes os mesmos feitos. Seria bem interessante o amigo leitor pesquisar e estudar sobre os povos antigos, sobretudo os sumérios que habitaram a Mesopotâmia [atual Iraque] a mais de seis mil anos atrás. Entre os registros arqueológicos mais importantes deste povo está a Epopeia de Gilgamesh, na qual se fala de um suposto paraíso terrestre, do homem feito de lama, de um sobrevivente de dilúvio etc. Na cultura suméria estão as bases dos diversos mitos [deuses] criados posteriormente, incluindo os dos hebreus, reinventados por volta de três mil anos depois daqueles.

Não diferente de outras culturas, para os hebreus a Terra foi o palco de onde o seu deus começa a criar as coisas. No primeiro momento, intitulado "o dia primeiro", ele cria o céu e a terra, sendo esta sem forma e vazia. Completamente no escuro, ele ordena que haja luz e houve. Neste momento esse deus vê que a luz era boa, isto é, ele não a conhecia. E faz ele a separação entre trevas e luz, nomeando a luz "dia" e as trevas "noite". Assim houve tarde e manhã do dia primeiro [Gn 1:1-5].

Durante o momento em que ele chamou "o dia segundo" separa as águas, uma parte juntou em cima e chamou de céu, outra em baixo e chamou de mares, assim aparecendo o seco que chamou de Terra. Também se admirou do que tinha feito [Gn 1:6-10]. E, no "dia terceiro" manda a própria terra produzir as plantas [Gn 1:11]. Concluindo em seis dias toda a sua dita invenção e então foi descansar.

Vale lembrar também que o deus ali delineado, ao criar o seu mundo, não deu sabedoria ao homem, mas sim, a uma árvore. E foi graças a uma cobra falante [ao enganar a mulher] que ele alcançou o saber, depois de comer de seu fruto. Segundo aquela lenda, o deus não deu sabedoria a ele por ciúme, por temer que o mesmo se transformasse em deus e aquele perdesse o seu status de deus maior e o controle de sua criatura.

Ai vem a pergunta comum dos que não querem aceitar isso como mito ou ignorância nossa: "O que tem ai de errado?" Ora, particularmente, tudo.

Se não existia até então nada, certamente esse deus vivia eternamente no escuro e não tinha onde habitar, já que ele só desperta para fazer todas as suas coisas em um determinado momento, que, segundo a bíblia, não faz muito tempo. Como poderia também haver tarde e manhã nos três dias primeiros se esse deus ainda não tinha feito o Sol? Será que ele não sabe que sãos nos sóis [estrelas] que se produzem a luz em questão? Veja que somente no "dia quarto" o Sol, a Lua e as estrelas entram nessa história. Sendo que a Lua é apontada como tendo luz própria, algo bem maior que as estrelas, sendo estas insignificantes.

E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas. E Deus os pôs na expansão dos céus para alumiar a terra, e para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. [Gn 1:16-18].

Ou não é a luz do Sol a causa de dias e noites? Mas a luz não foi à primeira coisa que deus criou? Justificam os que se satisfazem nessa ignorância. Segundo esse mito contraditório, sem o mínimo de lógica, sim. Todavia na realidade as coisas não são e nem funcionam assim. Vamos pensar um pouco.