Capítulo 6

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Como na tarde do dia anterior, meus olhos se prenderam em Renan. Diferentemente de quando ocorria toda aquela discussão e eu só conseguia olhar para os indivíduos participantes, agora eu só tinha olhos para ele. Não sabia o que sentia, verdadeiramente. Saber que ele omitiu seu parentesco por todo esse tempo me deixava com um pé atrás, não foi só para mim! Foi também para todos nossos amigos, porém, o que eu sentia desde que o conheci melhor tentava a todo custo ser superior. Ao mesmo tempo que tentava dissipar meus pensamentos desviei de seus olhos verdes que me olhavam intensamente.

- O que vocês estão fazendo aqui? - perguntei de novo cruzando os braços sobre o peito.

- Por que não quis deixar a gente entrar todo esse tempo? - Ká retrucou ignorando minha pergunta novamente.

- Eu não queria ver ninguém, nesse estado. - respondi sem encará-los, olhando para a janela lá fora.

- Queríamos mais um tempo com você, Marizinha - o modo carinhoso de Ester entrou em ação, e sem ligar se eu fosse rude ou não com ela, se aproximou. - Você merecia uma nova festa, já que a de ontem não acabou como devia.

- Aqui não é um bom lugar para se fazer uma festa. - resmunguei com certa irritação. Depois encarei um por um, parando novamente em Renan, antes de continuar: - Eu não quero olhar de pena de ninguém, aliás eu não estou morta, só tentaram me matar! Então, se forem ficar assim peço que saiam. - engoli todo o choro e voltei a encarar a janela.

- Marina, - pela primeira vez desde que viramos amigos o Jonh me chamou pelo nome. - Não estamos com pena.

- Só queremos comemorar o resto de seu aniversário com você! - Pedro completou, em seguida Matheus:

- Mesmo que num quarto de hospital!

- Somos seus amigos, queríamos te ver desde ontem, mas acatamos seu pedido de afastamento. - Renan concluiu surpreendendo um pouco todo mundo, principalmente eu.

Respirei várias vezes e pensei melhor, eles eram meus amigos de verdade, não era culpa minha toda essa situação, tão pouco deles. Só estavam tentando me animar e tudo mais. Eu só precisava resolver algo antes.

- Tudo bem, gente. Me desculpa pelo drama aqui! - eles sorriram aliviados quando tentei fazer piada, suspirei e pedi hesitante: - Só podemos adiantar essa festinha um pouco, eu queria falar com o Renan.

Eles até concordaram, mas antes de sair Jonathan ameaçou-o:

- Caso ela esteja chateada quando voltarmos, ou com uma gotícula de lágrima que não seja se felicidade no rosto, você já está no estabelecimento em que precisará. - e sorriu docemente para mim, fechando a porta atrás de si.

Encarei Renan por um longo tempo antes de pedir que ele se aproximasse.

- Olha, Marina, eu... - ele começou, mas eu o interrompi com os olhos fechados.

- Eu não quero desculpas suas, você somente ocultou que ela era sua irmã, - ele claramente entendeu, minha ênfase. - Mas eu não tenho nada a ver com isso, você não me deve satisfações. Só quero saber se o que ela disse era verdade, então.. Hum você... quando se mudou para a 421? - falei baixinho o número da nossa turma do ano passado, ainda com os olhos fechados. Abri apenas o direito para vê-lo assentindo timidamente.

- Pode voltar ao normal? - perguntei depois de um tempo com os olhos abertos encarando-o, ele me olhou confuso. - Lembro de estar apaixonada por um Renan calado, mas comigo ele conversava muito quando ficávamos segurando candelabros com várias velas durante os intervalos.

Ele sorriu e foi o sorriso mais lindo que eu já vi brotar de sua boca. Imaginei Ester olhando de alguma janela e gritando contra o vidro: "Se peguem logo!" e retribui o sorriso querendo gargalhar.

Me aconcheguei mais, me sentando direito na cama e assim me aproximando dele, a perna incomodou, porém não reclamei.

- Paloma já me fez muito mal - falei desconfortável. - Mas com meus amigos eu percebi que ela não devia me afetar e isso parou. Não ligo para ela, o que fez foi errado, mas ela estava transtornada; não que isso justifique seu ato. Bom, vou parar de enrolar um dia. - rimos. Rermunguei com uma nova coceira perto do joelho. - Essa coceira no gesso não para!

- Quer que eu ajude? - ele se prontificou indo para a parte inferior da cama, fiquei um pouco envergonhada, porém apontei o local. - Aqui?

Concordei. Sua mão na minha pele me causou sensações únicas, relaxei no mesmo instante e sua ajuda se tornou carinho. Voltei a fechar os olhos aproveitando seu carinho, ele subiu com as mãos, passando pela minha bermuda, depois saltou para minha barriga, e depois de outro salto foi parar no meu pescoço. Comecei a sentir cócegas e rir com os olhos pregados. Suas duas mãos envolveram meu rosto e ele passou por toda a extensão dele como se analisasse cada traço do meu rosto. Abri meus olhos e vi o quão estávamos próximos.

- Estou muito apaixonado por você, Mari, mais que ontem, menos que amanhã. - ele disse antes de me beijar. Dissipando totalmente tudo que aconteceu nas últimas 12 horas, me fazendo querer ser dona do tempo e pará-lo naquele momento, para nunca sair daquele beijo e do seu contato.

- Não é só água que me deixa sem ar! - Afirmei recuperando o fôlego, ele riu e beijou minha testa.

- Espero que tudo fique bem entre a gente. - disse me olhando com carinho. Eu assenti, querendo o mesmo. - Acho que está na hora de deixar aquela turma entrar, não quero que a Ester seja jogada para fora do hospital por gritar "Eles se pegaram" de novo.

Minhas sobrancelhas se levantaram junto com meus olhos, isso não era minha imaginação? Ele riu da minha expressão e me deu um selinho antes de ir chamar todos.

Então a festinha no hospital começou, algumas enfermeiras vieram também. O barulho deve ter chamado a atenção de algumas crianças que estavam fazendo exames ou algo do tipo, pois eles pediram aos seus acompanhantes para virem até meu quarto. Aí fomos para o pátio do hospital e rolou até música! Fiquei com a muleta recém adquirida numa cadeira olhando eles brincarem. A coisa ficou realmente boa quando Renan apareceu na minha frente com uma cadeira de rodas e me fez sentar nela, de repente começou a tocar "Me Encontra", do Charlie Brow Jr., Renan sorriu para mim e começou a rodar comigo na cadeira como se dançassemos.

Hoje eu vou sair pra encontrar o amor
Espero a tanto tempo e ainda não rolou
O vento diz que é hoje em meio à multidão
Que eu vou encontrar a dona do meu coração.

Nós rimos e nos beijamos, curtindo aquela festinha particular num hospital no centro da cidade, estranho né?! Eu nunca disse que meus aniversários eram normais...

Enfim, o final do sábado não deu muito certo, mas com certeza o domingo foi sensacional. E sem nenhum estraga prazeres.

Sábado de VerãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora