187 dias antes...

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Internato Chumed Labist School

Sobre colégios internos

O que todo mundo pensa:
fudeu
O que eu deveria estar pensando: fudeu
O que na verdade estou pensando:
Porque diabos o colégio se chama Chumed Labist

Eu estava animado até, eu iria me despedir de todas aquelas coisas inúteis do meu quarto e daquela casa, mas com certeza não vou sentir falta daquilo.

Fiquei arrumando a últimas coisas da viagem que duraria umas 2 horas até chegar em BH.

Minha mala já estava feita à uma semana praticamente, mamãe fez questão de dobrar cada tecido colocado dentro daquela bolsa, mesmo sabendo que na viagem tudo iria ficar bagunçado.

O som do meu quarto estava ligado, por isso acabei nem ouvindo minha mãe chamando para tomarmos o último café da manhã juntos. Ela era tão dramática

Ela acha que me mandando para um colégio interno eu vou acabar usando drogas, fumando, bebendo ou engravidando alguém... besteira mãe!

{Eu vou usar camisinha prometo!}

Desci as escadas com esperanças de que minha mãe tenha ido costurar algo e que tenha me esquecido, assim eu poderia ir em paz pro carro e pra minha nova vida sem pais.

Acabou que minha esperança morreu quando senti um flash de uma camera vindo em minha direção. Ela pegou uma câmera velha que tinha no porão só pra tirar fotos minhas... socorrooo

Entramos todos no carro... seguimos viagem...

BELO HORIZONTE É MUITO QUENTE

Tão quente que as roupas grudavam como fita adesiva, e o suor escorria como uma lágrima, descendo pela testa e entrando nos olhos. Mas só era quente ao ar livre e, em geral, eu só saia de um lugar com ar-condicionado para outro

O Siena Prata do meu pai estava estacionado no gramado a poucos metros do meu quarto, O Quarto 43. Mas cada vez que eu percorria a pequena distância entre o carro e o edifício pata descarregar, o sol me queimava, atravessando as minhas roupas e entrando na minha pele. 

Mamãe, papai e eu demoramos apenas alguns minutos para  descarregar o carro, mas o meu quarto não tem ar-condicionado. Não creio!

Tinha paredes de concreto pintadas com grossas camadas de tinta branca e um piso xadrez azul e branco, o local mais parecia um hospital do que o quarto dos meus sonhos!

Havia um beliche na qual minha mãe fez questão de arrumar todo, havia uma janela ao fundo do quarto e alguns armários e prateleiras espalhados... e nada de ar-condicionado!

"Eu sei fazer isso sozinho mãe!" Eu a disse esperando que ela fosse logo embora

"Mamãe te ama meu amor"

"Eu sei..."

Eu a beijei na testa... Depois de muito insistir, ela finalmente cedeu e foi embora.

Havia um banheiro acoplado ao quarto, tão pequeno que parecia ter sido feito para anões

Talvez eu tenha exagerado um pouco... dava pra ficar de joelhos em baixo do chuveiro :v

Depois da ducha, abri a porta do banheiro com uma toalha enrolada em minha cintura. Me deparei com um homem baixinho e musculoso com um topete castanho e uns assustadores olhos azuis ( sim, assustadores ) Estava arrastando pelo quarto um gigantesco saco de lona azul. Tinha um metro e sessenta e nada, mas era bem feito de corpo! E com ele chegou o fedor de sarro de cigarro... Bonito, pensei, vou conhecer meu companheiro de quarto, pelado. Ele atirou o saco para dentro do quarto, fechou a porta e caminhou em minha direção.

-Meu nome é Rafael Lange

Antes que eu pudesse responder, ele acrescentou

-Eu o comprimentaria, mas acho melhor continuar segurando essa toalha até terminar de se vestir...

Eu ri

-Prazer! Mikhael Linnyker, mas pode me chamar de Mike...

-Mike... tipo em Magic Mike?

-Como?!

-É um filme... Não conhece?

Fiz que não com a cabeça

-Considere-se feliz - Ele disse enquanto sorria

Rafa pegou um lençol e o estendeu sobre o beliche de cima

-Sou homem de dormir em cima. Espero que não se sinta incomodado.

-Talvez eu me sinta dependendo de que cima você está falando...

-No-no-no beliche... de cima...

Eu ri novamente

Começamos a conversar. Ele me disse que aquele era o seu terceiro ano na Chumes ( como gostava de chamar o colégio ) tinha entrado no nono ano. O primeiro ano foi oferecido pela escola e agora está no penúltimo como eu. Um bolsista ele disse, do começo ao fim.

Ele me pediu para ajuda-lo com as suas coisas. Fomos para a sala de TV que, segundo Rafa, era o único lugar no campus com teve a cabo.

Enquanto ele caminhava pelo labirinto de sofás, eu permaneci de pé junto à porta, esperando.

Rafa levou uns 10 minutos até achar sua coisas, e levamos mais uma hora indo e vindo, passando pelo gramado entre a sala de teve e o Quarto 43.

Quando acabou eu só queria entrar na mini geladeira de Rafa e dormi ali por 2 mil anos de tão quente que estava! Eu me sentei em seu sofá ao seu lado.

-Temos basicamente dois grupo aqui na escola - Ele explicou - O chumadores, pensionistas normais como eu, e os da Aliança dos Riquinho ou simplesmente da ADR, eles moram aqui também mas passam o fim de semana com os pais no ar-condicionado. São os garotos descolados. Não gosto deles, e eles não gostam de mim. Então se você veio pra cá achando que, porque era grande merda na escola pública, ia continuar sendo um grande merda aqui, é melhor não ser visto comigo. Você estudou em escola pública não estudou?

-Hmmm - Eu respondi distraído

-Deve ter estudado - Deduziu ele - se não esse short que está usando não ficaria tão largo em você. - Ele riu

Eu usava calção abaixo da linha da cintura porque achava legal. Por fim eu disse

-Eu vim de escola pública sim Rafa. Mas não era grande merda, era só um merda

-Ótimo! E não me chame de Rafa. É Cellbit

Eu segurei uma risada

-Cellbit?!

-Sim, Cellbit! Problema?

-Não senhor!

Ele saiu do quarto, talvez supondo que eu o seguiria, e dessa vez eu segui.

Finalmente, o sol estava baixando no horizonte. Passamos por cinco portas até chegarmos ao Quarto 48. Na porta tinha um quadro branco grudado com fita adesiva escrito: Tarik tem um quarto pra ele!!

Cellbit me explicou que (1) aquele era o quarto de Tarik que (2) o garoto que dividia o quarto com ele foi expulso no semestre anterior que (3) Tarik tinha cigarros, embora Cellbit não tenha se dado o trabalho de perguntar se (4) eu fumava que, (5) não era o caso!

Quem É Você Pactw? || MitwOnde as histórias ganham vida. Descobre agora