Antes do Início

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Roterdã, alguns meses antes...

―Não acredito que você vai mesmo nos deixar – Laura me disse enquanto dobrava uma camisa de algodão branca.

Ela tentava parecer tranquila, mas eu podia ver pequenos traços de nervosismo em seu rosto delicado. Não era apenas ela que estava triste. Eu também estava. Eu havia passado tanto tempo com eles que tinha medo de não lembrar mais de como a vida era sem ninguém.

Peguei a camisa das mãos dela e coloquei sobre o colchão, segurando suas mãos entre as minhas, em silencio por um tempo.

- Isso é uma coisa boa, Laura – comecei – eu sei que parece uma coisa ruim, mas acredite, é uma coisa boa.

Laura fungou e ajeitou uma mecha de cabelo solta atrás da orelha – ela era durona.

- Não é justo que você afaste Louise de nós! – reclamou e eu acabei sorrindo.

- Laura, Bruxelas fica logo ali – eu disse acariciando as palmas das suas mãos com meus dedos – além disso, nós estaremos sempre por aqui. Não é como se estivesse me mudando para Xangai.

Ela fungou novamente, evitando que uma lagrima rolasse e eu agradeci porque se ela chorasse, eu acabaria fazendo o mesmo. Eu não era durão como Adrian Van Galagher.

Respirei fundo, deixando meus olhos se perderem na janela, admirando as folhas das árvores, balançadas pelo vento quente da primavera. Eu sentia meu coração mais e mais apertado, conforme a mudança se aproximava. Eu tinha medo por mim, por papai, por Louise. Eu tinha medo por Adrian também. Por mais que ele fosse o cara durão, eu sabia que ele precisava de mim. Nós dois funcionávamos como partes de uma mesma engrenagem.

- Alex! – ouvi o grito de Laura perto da minha orelha e supus que não era a primeira vez que ela me chamava. Sorri.

- Tudo vai ficar bem – eu disse mais para mim mesmo do que para ela.

- Alex – ela continuou com a voz suave, mãos sobre as minhas, acariciando minha pele com sua delicadeza e carinho – sabe que não precisa ir. Sabe que pode ficar e assumir seu antigo cargo na empresa. Sabe que nem mesmo Stein se importaria.

Ela havia aumentado sua voz em meio tom, denunciando seu nervosismo.

- Quer dizer – tentou consertar quando percebeu que eu havia notado – eu acho que – estava se enrolando cada vez mais – acho que – comecei a sorrir – bem, é uma grande empresa. Sei que tem lugar para vocês dois e – comecei rir sem querer, diante da explosão do seu nervosismo – Ah pare de me deixar nervosa! – ela disse meio irritada, meio risonha – você está fazendo de proposito! – e completou, levantando-se e colocando as mãos na cintura – Não ouse usar seus truques de advogado comigo, Dr. Persen!

Levantei-me também e estendi os braços, puxando-a para o meu abraço, aconchegando sua cabeça em meu peito. Depois sorri.

- Mas você precisa admitir que eu sou muito bom no que faço – brinquei.

- O melhor! – ela disse beijando minha bochecha – eu nunca fiz segredo do quanto admiro meu irmãozinho – brincou fazendo-me fungar um pouco.

Eu não estava acostumado á despertar o orgulho das pessoas. Eu era Alexander Persen, o coadjuvante. Não era uma reclamação, era uma constatação. Eu não era o personagem principal nem em minha própria vida e era por isso que eu precisava ir.

- Eu daria um milhão pelos seus pensamentos, Sr. Persen – Laura disse trazendo-me de volta á realidade.

- Ah eles não são tão caros assim, minha querida – brinquei – não gaste seu dinheiro comigo.

Tão MinhaWhere stories live. Discover now