No meio das pedras, coberto quase por inteiro pela maré que estava tranquila, como se também ainda estivesse dormindo àquela hora da madrugada. A caverna aguardava por eles e eles sentiam o chamado.

O chamado decisivo.

Um a um, desceram os degraus curtos que ligavam o chão firme com a areia e caminharam, sentindo os grãos incomodarem os pés calçados. Pararam quando a areia ficou mais escura e molhada, no ponto onde as ondas morriam. A água estava fresca, mas nenhum deles pôde sentir em um primeiro momento.

Depois de um breve momento de hesitação e uma troca de olhares que pareceu uma eternidade, Higino foi o primeiro a entrar na água. Ian e os outros acharam que ele se movia bem rápido para alguém que andava contra a corrente. Mas é claro, Higino era um descendente da rainha Sorenta, tinha em seu sangue a classe Cascádian. Era óbvio que o mar seria sua segunda casa.

Enquanto avançava e o corpo era coberto pela água, Higino sentiu alívio e uma sensação de conforto que só a água conseguia proporcionar para ele. Apenas com a cabeça de fora ele virou para os quatro, fez um aceno e submergiu.

A distância entre o ponto onde Ian, Mabel, Norah e Rafaelo estavam e a caverna era pequena. O problema de fato era o acesso, que só era permitido através do mar, quando a maré estava alta. Eles teriam preferido caminhar pelas pedras escorregadias, ainda que isso também fosse perigoso. Só a maré baixa poderia proporcionar essa opção, mas ela não estava disponível naquele momento.

Higino ficou quase dez minutos desaparecido sob o mar e todos estavam tensos. Mesmo sabendo que ele podia respirar embaixo d'água, mesmo que soubessem que esse era o plano: o garoto iria primeiro para investigar uma forma de entrarem e depois todos se jogariam no mar como náufragos e nadariam até a caverna para atravessá-la.

Mas o tempo passava e Higino não dava sinais. E se algo tivesse acontecido embaixo da água? E se ele tivesse sido atacado? Sugado pela caverna? Eles não conheciam nada sobre aquele lugar e todo tipo de pensamento rondou a mente deles. Só quando Ian começou a entrar no mar e a água começava a cobrir seus tornozelos ele viu Higino surgir perto da caverna, segurando os óculos com uma das mãos.

— É horrível mergulhar com óculos! Quase perdi eles aqui embaixo! – ele gritou com animação, apesar do contratempo.

Todos sorriram ao ver o cabelo encaracolado encharcado do menino de volta à superfície.

— Venham! – ele fez um aceno para convocá-los. – a caverna não é grande! Parece uma sala pequena, não tem nenhum caminho dentro dela!

— Então como vamos atravessar, se ela não tem caminho nenhum? – perguntou Mabel, com um grito, da areia.

— Isso eu não sei! Vamos ter que descobrir lá!

Ian continuou seu curso e foi seguido por Rafaelo, depois por Mabel e Norah, visivelmente apreensiva ao segurar o bracelete dourado. Ela poderia ter ajudado o irmão embaixo d'água, mas teria que revelar sua aparência real e a menina tremeu só de pensar na possibilidade.

Os quatro nadaram até alcançarem Higino. Ian foi o último a chegar. Estava ofegante, mesmo tendo nadado pouco. O peso o atrapalhara e ele sentiu um leve constrangimento por ser o mais atrasado enquanto os outros estavam com ótima disposição.

— Nadar de calça é uma droga – comentou Rafaelo e todos concordaram mentalmente.

Os cinco ficaram de frente para a caverna, quase na entrada, sendo balançados levemente pelas ondas da Baía de Guanabara. Em breve o sol começaria a sair e eles esperavam que quando saísse, já estivessem em outro lugar. Higino estava à frente, com Norah ao seu lado. Ian estava atrás, com Mabel de um lado e Rafaelo do outro.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें