Capítulo 8: Respeito.

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Quando acordei estava na enfermaria, ao meu lado estava um policial, eu algemado à cama, e os outros três caras estavam na mesma sala, porém cada um em uma cama algemado, cada um deles estava totalmente irreconhecíveis, não acreditava no que estava vendo, pior era saber que eu é que tinha feito isso. O policial quando me viu acordar, logo me perguntou o que aconteceu no pátio, pois nunca tinha visto alguém enfrentar três, ainda mais aqueles três que eram encrenca na certa. Percebi que o policial não estava falando com tom de ameaça e sim tom de respeito, parecia ter gostado do que estava vendo lá, e eu somente estava com dor na nuca, quando levei a mão que estava livre para tocar onde doía, o policial me disse que teve que me mobilizar, senão eu teria matado os três, o que poderia dar problemas desnecessários para mim.

Quando a enfermeira apareceu, veio ver se meu ferimento era grave, olhei para o crachá dela, seu nome era Stefany, aparentava ter uns 25 anos de idade, nova para estar trabalhando numa cadeia tão perigosa, me perguntou onde mais estava dolorido, eu disse que nenhum lugar mais. Perguntei sobre os três caras, quanto tempo levaria para eles terem alta, ela me falou que sem previsão ainda, pois o fato deles estarem desacordados a impedia de saber o grau exato dos ferimentos, mas adiantou que não seria menos que uma semana para começarem a melhorar. Após os exames fui liberado, e o guarda me levou de volta para a cela, percebi que ao passar pelos corredores os olhos dos outros detentos me seguiam, agora não mais com ar de ameaça, mas parecia que estavam curiosos para saber como consegui derrubar três e praticamente só parar depois que fui golpeado.

Quando o guarda me deixou na cela, perguntei para ele por que a Stefany estava trabalhando lá naquele meio, tão perigoso sendo que ela era tão nova, pelo que aparentava. Ele me disse que simplesmente ela estava  para cumprir o tempo de estágio da faculdade, e que ela era uma boa moça, dificilmente um dos caras tentaria algo contra ela, pois ela seria protegida por policiais e por alguns detentos que a admiravam, pelo fato da garra que ela tinha. Após isso o policial se foi, e eu fiquei na minha cela, ainda sem ninguém de companhia. Soube pelo detento do lado que o enterro do Joaquim tinha sido hoje, não havia me lembrado deste detalhe, pois tinha mais esta preocupação, falar com Valéria sobre minha transferência, a qual eu tentaria fugir durante o trajeto.

Por volta das 18 horas os policiais começaram a nos levar para tomar banho, percebi os olhares ao meu redor, o silêncio me assustava mais do que o falatório que era normal. Renato, o que me chamou para ir a reunião da igreja deles, veio falar comigo, disse ele que os detentos estavam receosos comigo, por isso o silêncio, que mesmo tendo sido uma situação chata poderia ter seu lado bom, pois agora o respeito que não tinham por mim passariam a ter, isso era ótimo, só precisaria ver a reação do Manda Chuva, se eu conseguisse ter distância dele seria ótimo. Pensei em fazer o teste no almoço do dia seguinte, era um risco que eu deveria correr, afinal se eu vencesse ele na intimidação venceria toda a prisão.

Voltando para a cela já fui pensando numa forma de executar um plano para o almoço, devido a briga que tive, a janta foi servida na minha cela, me admiro não terem me mandado para a solitária, talvez os policiais tenham gostado da surra que dei nos três caras. Na verificação noturna das celas, veio o Fábio falar comigo o que eu queria saber, os policiais gostaram pois os três caras sempre começavam arruaças, o que colocava sempre em risco o trabalho deles, pois os direitos humanos defendia demais os bandidos, fora os advogados que bagunçam ainda mais o processo penitenciário do país. Aproveitei para falar sobre Joaquim, se ele tinha alguma novidade sobre a esposa, afinal eu tinha coisas para resolver com ela, o policial disse que ela parecia abatida, porém continuava a advogar, pois queria defender pessoas na mesma situação que o marido dela passou, e estava correndo atrás para que os menores tivessem mesmo tratamento que adultos em casos de crimes, afinal já tinham ideia do que era certo e errado. Pedi que pudesse falar com ela, pois Joaquim deixou um recado, e eu não podia deixar passar, Fábio disse que entraria em contato com ela, ou que eu poderia usar o telefone no dia seguinte, já que não tinha usado meu telefonema de direito, era o que ele podia fazer até o momento, e que se eu precisasse de algo que eu o avisasse, na medida do possível poderia me ajudar, pois se Joaquim confiou em mim ele também poderia confiar.

Agora seria pensar no plano do dia seguinte, e nada mais a se preocupar, gostaria de esperar até a lua cheia, porém o Manda Chuva me cobraria antes o dinheiro que ele acreditava ter direito, evitei pensar muito e fui me deitar, parece que a noite voou, pois quando me dei conta já era de manhã, e lá estavam os guardas nos levando para tomar o café da manhã, como de costume, se formava uma fila e ia seguindo para o refeitório. Após pegar meu lanche e café fui para a mesa, fiquei de costas para a mesa do Manda Chuva de propósito, para ver se conseguia ouvir ou se ele teria alguma reação, saber se ele estava com medo ou não do que houve comigo, eu tinha que intimidá-lo de qualquer jeito.

Pude ouvir eles falarem baixo, o Manda Chuva mandar um de seus capangas vir falar comigo, perguntar como estava sendo para conseguir o dinheiro dele, afinal já estava chegando a hora do pagamento, e que se eu tivesse a metade já poderia pagar. Percebi que isso era para me testar, queria saber qual seria minha reação, e não queria se arriscar, ele mesmo vir até mim,  e sim mandar alguém, para avaliar minha atitude. Foi o que aconteceu, mandou o capanga que logo veio para minha mesa, os outros detentos que estavam sentados junto comigo saíram em seguida, e o cara ficou de frente para mim, levei a colher com a comida até a boca e olhei para ele, que parecia menos corajoso que da outra vez que falaram comigo, pude sentir o medo no olhar dele, era tudo que eu precisava, não falei nada e olhei fundo nos olhos dele esperando que ele falasse, foi o que fez:

- Mau chapa, o chefe quer o dinheiro adiantado, metade agora e o restante depois.

Neste momento parecia que o silêncio era a única coisa que existia lá, os presos começaram a se entreolharem e disfarçadamente olharam para a mesa que estávamos, esperavam ansiosos a minha resposta. Eu então olhei para ele novamente e após ter calculado os riscos respondi:

- Se o seu chefe quer o dinheiro, porque ele mesmo não vem pegar, ao invés de mandar seu macho vir aqui me cobrar?!

O silêncio foi tanto que se caísse uma agulha no chão o barulho ecoaria naquele lugar, agora era para valer, ou o plano daria certo ou eu morreria lá mesmo, não tinha mais volta, continuei sentado, e só esperei o cara se levantar e dar o recado para o Manda Chuva, porém todos que estavam próximos já tinham ouvido as palavras desafiadoras que saíram da minha boca. Com certeza esperariam para ver o resultado daquela atitude, pois toda ação gera uma reação.













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