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Suas mãos eram ágeis e o barulho do giz era irritante. Eu gostava do jeito que suas mãos se mexiam para escrever letras gordas e curvilíneas no material verde grudado na parede. Gostava mesmo, era algo que eu poderia ficar horas e horas observando, sem desviar um milímetro do meu olhar.

"Vocês tem setenta e duas horas para fazer e entregar o trabalho que está no quadro"- Professor Harry falou olhando para cada aluno

"Pode dupla?"- Annie, uma garota da sala, perguntou

"Pode"- falou e suspiros de alívios foram ouvidos -"Você e seu caderno"- falou e encarou a garota. Ele parecia irritado.

Harry sentou na sua cadeira e abriu o notebook e começou a digitar ferozmente. Percebendo meu olhar em suas ações, Harry acalmou e fixou seus olhos nos meus

"Alguma dúvida, Alexa?"- perguntou baixo

"S-sim"- falei envergonhada, por sorte, ninguém estava prestando atenção em nós.

"Quer ajuda?"- se eu queria? Óbvio que queria. Mas queria na minha casa, não aqui, onde todos podem me julgar, me chamando de burra

"Q-quero, m-mas n-não agora-a"- falei um pouco atrapalhada, o que fez Harry soltar um riso baixo e desviar o olhar para o teclado do computador.

"Você quer almoçar comigo?"- perguntou mais baixo ainda

"O que?"- perguntei baixo e incrédula

"Almoçar comigo. Você sabe, pelo almoço de ontem"- falou

"Uh, p-pode ser"- olhei para o lado de fora, onde encontrei a visão do pátio da escola

"Vocês estão liberados"- Harry falou alto, por estarem todos conversando. Comecei a guardar meu material, e quando estava saindo da sala sua voz rouca chamou meu nome, fazendo eu parar - e quase ser atropelada por pés ansiosos para o almoço - e virar para encontrar o homem alto em pé arrumando, também, seu material

"Oi"- falei quando cheguei perto da sua mesa

"Gostaria de almoçar em qual restaurante?"- perguntou ele sério e concentrado no que estava fazendo

"Uh, n-não precisa ser em um restaurante, Professor"- falei e senti seu olhar no meu rosto -"Digo, Daddy"- me corrijo, mas contínuo sentindo seu olhar na minha pele facial, agora, vermelha.

"Pode ser em minha casa?"- ele perguntou um tanto... Surpreendido?

"S-sim"- falei

"Ótimo, melhor ainda"- falou e passou por mim indo em direção a porta -"Você não vem?"- ele peruntou

"Uh, os alunos não podem nos ver"- falei

"Quem é que liga pra isso em pleno século vinte e um, Little Girl? Sou só um professor que está dando carona para sua aluna"- falou e me lançou um sorriso malicioso, fazendo eu corar e concordar.

"Certo, Professor"- Sorri-lhe e caminhei ao seu lado até estarmos no parque de estacionamento.

"Está calor, não está?"- Harry perguntou assim que entramos em seu carro e eu juntei minhas sobrancelhas

"Calor?"- como ele pode achar dez graus quente?

"Sim, Little Girl. Quando estou perto de você eu sinto calor"- senti minha pele queimar e meu coração amolecer

"Oh"- falei com as mãos pousadas em minhas bochechas. Ele apenas limitou-se a rir e curvar-se sobre o banco, me dando um beijo demorado na bochecha

"Espero que você não se incomode com o tanto de papéis na minha mesa, Lex"- ele falou divertido e eu soltei uma risada baixa

"Claro que não, professor"- falei olhando para minhas mãos pousadas em minha coxa

"Vai querer ajuda depois, certo?"- ele perguntou e eu apenas murmurei um 'uhum' -"Certo"- falou ele enquanto dirigia para um local mais afastado do centro da cidade -"Você avisou sua mãe?"- perguntou

"Uh, ela foi passar uns dias com minha tia... E de todo, ela não controla meus horários, com quem ou quando saio. Ela não se importa"- falei a verdade o que fez ele lançar seus olhos para mim

"Pensei que seus pais fossem rígidos por conta de suas notas, Lex"- falou

"Meu pai é alcoólatra, e minha mãe viciada em trabalho. De certa forma, estudar era o único escape da vida ruim que tenho"- fallei dando de ombros -"Não adiantaria nada eu querer virar rebelde. Não vai mudar nada"- falei minha sincera opinião.

"Nossa"- ele falou -"A maioria dos adolescentes que tem uma vida assim acabam se perdendo nos mesmos vícios que costumam rodear a família... Eu sou um deles"- levantei meu olhar para encontrar seu maxilar tenso

"Viciado em quê, professor?"- perguntei. Ele não parecia o tipo de homem que bebe até cair, ou que fuma quinhentas carteiras de cigarro por dia, muito menos alguém viciado em drogas pesadas.

"Chegamos"- e ele mudou de assunto

Teacher, Daddy, Harry.Where stories live. Discover now