Prólogo - Uma Terra de Gigantes

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Cidades Cúpulas Móveis, doze delas, verdadeiras utopias ambulantes, estão espalhadas pelos céus de um pequeno planeta chamado Miranda, cuja geografia se apresenta espantosamente semelhante à nossa. Tratam-se de megacomplexos flutuantes, circulares, metálicos e envidraçados, com dimensões transversais de aproximadamente sete quilômetros, e expressivas populações de até 350 mil habitantes.

Há seis décadas, a construção dessas monumentais cidades itinerantes, com tecnologia gravitacional, fora o apogeu científico dos Homens de Miranda. No entanto, elas só puderam abrigar uma seleta e privilegiada porção da sua gente: as mais brilhantes mentes, os mais extraordinários corpos e, é claro, os mais estufados bolsos.

O restante da população, sem opção, tivera de persistir na difícil vida ao nível do solo, à mercê da mais violenta força da natureza: os seres, no Idioma Comum, intitulados Gigantes Elementais; portadores de tamanhos colossais, grande poder destrutivo e corpos essencialmente elementais, sustentados pela mais pura Energia Vital ― a mesma energia etérea (espiritual) que é responsável por todas as formas de vida existentes neste estranho mundo distante.

Diferentes de nós, os Homens de Miranda são como parasitas em uma terra que nunca realmente lhes pertenceu. O homem como espécie dominante? Bobagem. Neste pequeno planeta, a mesma força que sustenta a vida, também a oprime, e os Gigantes Elementais destroem as cidades desta gente com a mesma facilidade que destruímos formigueiros, quando neles pisamos sem querer. São como tornados, terremotos, maremotos e incêndios que conhecemos, fossem vivos, ferozes, errantes e abundantes. Parecem perseguir as cidades como predadores perseguem presas, e parecem se alimentar dessa gente, não tanto do sangue deles, mas preferencialmente da aflição, desespero e desalento que os fazem sentir, quando forçados a abandonar as suas casas, esquecendo tudo aquilo que um dia chamaram de lar.

Os Gigantes são criaturas sádicas, assim diziam os antepassados, e por muito tempo pensou-se que apreciavam matar as suas vítimas lentamente: pela fome, pelo frio, pelo sofrimento... Por essas e outras razões, é que eles foram também a razão desses homens pararem no tempo, por tantos milênios, estagnados em uma interminável e seminômade idade do ferro.

Todavia, apesar do que dizem as lúgubres lendas por lá ainda historiadas, hoje é certo que essas criaturas não são deuses malignos, espíritos vingativos, ou invocações destrutivas de antigos magos ocultistas (como alguns ainda insistem em crer); não são lançadas em direção às cidades por forças místicas, divinas, ou espirituais, e muito menos por motivos tão humanos quanto afirmam as suas ocasionais vítimas. A verdade é que os Gigantes Elementais sequer veem como objetivo a destruição do homem, ou de qualquer outra espécie viva. Não são seres inteligentes, mas apenas instrumentos da vontade do planeta: a força viva da natureza, programados para controlar e proteger o equilíbrio dos elementos na superfície terrestre, assim como são os predadores, na cadeia alimentar, responsáveis pela manutenção do equilíbrio biológico da fauna terrena. Ou seja, os Gigantes também são necessários para que a vida possa existir neste estranho lugar.

Quando despertam de suas hibernações seculares, em termos práticos, os Gigantes são meramente impulsionados a transitar de um lado para o outro, a fim de transportar as suas essências elementais para onde acredita-se serem mais necessárias à manutenção do chamado "Equilíbrio Elemental", e então, novamente, tornam a hibernar. Simples assim. Não tão simples, talvez... Neste entretempo, porquanto despertos, representam uma força inigualável que inevitavelmente destrói tudo e todos no rastro de sua passagem. Toda vida no caminho lhes é uma ameaça, tudo o que não é natural lhes é um alvo, e toda resistência lhes é uma anomalia ― sendo que o homem racional e evoluído é a maior das anomalias. Houve um tempo em que nada era capaz de pará-los, exceto a morte, e ninguém era capaz de prevê-los, exceto os deuses...

Então sobreveio a "Era dos Cristais", o período na história desta gente no qual eles compreenderam que, por detrás das leis da natureza, haviam esses pequenos sólidos coloridos de padrões tridimensionais, portadores de grandes poderes e capacidades, que logo seriam responsáveis por feitos outrora improváveis, como a primeira vitória sobre um Gigante Elemental e, bem posteriormente, a construção das monumentais Cidades Cúpulas Móveis. Os cristais, em variadas cores, formas e tamanhos, já foram considerados receptáculos de poderes divinos, no tempo em que o homem ainda acreditava que o estrondo de um trovão era o brado de um deus, e a chuva as suas lágrimas.

O mais importante é que a nova era proporcionou períodos de incalculável progresso e prosperidade aos protagonistas deste mundo distante, tantas foram as casas que eles puderam construir, por vezes tão distantes, e tantas foram as possibilidades que eles passaram a vislumbrar.

Apesar das adversidades, no ano-calendário de 783 d.C (depois dos cristais), o homem por lá ainda permanece o único ser inteligente e racional, o único capaz de controlar o seu instinto e mudar o próprio destino.

Os ventos parecem anunciar uma nova era de grandes feitos, eventos e transições, e as duas luas de Miranda, Oberon e Titânia, ainda esperam presenciar a ascensão e a queda de muitas culturas e civilizações.

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⏰ Last updated: Nov 11, 2016 ⏰

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As Crônicas das Cidades FlutuantesWhere stories live. Discover now