Capítulo 26 - Luz e Água

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— Você é doente!

— Todos somos, minha querida. Cada um de nós tem um louco dentro de si, forte o bastante para dominar qualquer mente. Eu apenas permito que esse louco seja liberado.

Ian levantou com dificuldade. As costas estavam doendo com o impacto da batida no piso de pedra.

— Uma única técnica – ele disse, admirando as próprias palavras e repetindo-as. – uma única técnica é o que preciso para enganar a velhice... e a morte. Me alimentando de pessoas, sugo toda a vitalidade de seus corpos e elas se transformam no maior símbolo da pureza infantil.

— Ursos de pelúcia – completou Norah. Gabriel assentiu com prazer. Ele continuou:

— Todos eles estão condenados. A maioria aqui já está morta. Depois que eles servem de alimento não duram muito. São apenas zumbis.

Ian e Norah ficaram horrorizados. A sala era um depósito de cadáveres. Não de forma convencional, mas eram cadáveres. Ou pessoas que estavam agonizando, prestes a se tornarem um.

— O cheiro de podre... que nojo – Norah disse baixinho, ao constatar enfim o porquê das pelúcias terem o odor fétido.

— Maluco desgraçado. Você assassinou todas essas pessoas! – gritou Ian ao ver que alguns poucos ursos se mexiam e momentos antes, clamavam por ajuda.

— Calem a boca! – ele vociferou, cuspindo um pouco. – vocês também assassinaram meu irmão! Isso não é diferente!

Ian e Norah ficaram quietos por um tempo. Se entreolharam, sem saber o que fazer.

— Seu irmão caiu pela própria maldade – disse a garota. – a semente o julgou e deu o seu vered...

— Cale a boca, sua vadia! Marcus está morto – ele avançou, dando um tapa no rosto de Norah, que caiu. A força dele também não era de uma criança. Ian correu até eles, mas foi derrubado outra vez por Gabriel. Era incrível o vigor de um corpo que era bem menor que o dele.

— E Benício está preso – ela rebateu, esperando levar outro golpe.

Mas Gabriel riu. Uma risada estranha, louca, desmedida.

— Não me preocupo com ele, Norah. Ele está seguro aqui no Castelo de Sorin.

— Como assim?

Ele se aproximou do rosto dela, e o segurou pelo queixo, levantando-o. Norah sentiu o hálito estragado despertar ânsia de vômito.

— Estamos debaixo dos narizes de vocês há muito tempo – e a soltou, se afastando.

Ian e Norah levantaram, ficando próximos um do outro. O ar na sala estava difícil de respirar e a visão dos ursos espalhados pelo ambiente estava desconcertando a dupla.

— Seu monstro! – berrou Ian.

— Monstro? – ele fez uma cara de descrença. – MONSTRO? Acho que não, garoto. Aqui nesta sala tem sim um monstro, mas não sou eu. Tem algo que você queira dizer, Norah?

A garota entrou em pânico. Ela sabia exatamente onde ele queria chegar. Ian olhou para ela, esperando algum tipo de resposta. Mas Norah não emitiu som algum. A única coisa que veio em sua mente foi cantar.

Ela abriu suavemente os lábios, trêmulos, e começou um canto baixo e nervoso. Foi interrompida ao tentar esquivar de um peso de papel em formato de globo, arremessado por Gabriel e que estava perto de uma mesa.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora