- Navegue com o coração e nunca deixe de acreditar - Eir respirou antes de falar - Sabe velho amigo, o velho mar não era assim tão amigável, nós aceitamos qualquer tipo de água até chegarmos aos locais, o vento sempre esteve ao nosso lado; chegamos, dessa vez, naquela cidade chamada Coma e simplesmente conseguimos uma boa recompensa por lá. Mas ainda me preocupa o que estava em nossa terra. Na verdade, ter deixado tudo aqui foi como um colapso de um corte na garganta, saímos como se estivéssemos no escuro e ainda acho que nem cheguei perto da sabedoria.

O capitão balançava a cabeça, bebia o vinho, levantava de sua cadeira e ia até uma escotilha. - Não sei o que você vê em mim, mas posso dizer o que vejo em você. Um bardo que poderia deixar qualquer guerreiro nesse navio abaixo de mim dormindo com os tubarões. Desbravamos grande parte dos mares desse planeta, mas alguém nunca estivera satisfeito, ao contrário de mim. O mar sempre foi minha paixão, até porque ele não reclama de dor de cabeça - Riu e depois de um pigarro retomou a fala - Sendo assim, sabe que nunca fui um homem de terra, entretanto você tem os pés lá. Eu não sei o que você quer encontrar exatamente. Eu normalmente diria para confiar no mar, mas você ainda tem suas razões para se achegar, tem sua fé, tem sua visão de mundo. Ache a sabedoria nesse meio que você está -

Após um tempo de silêncio, o bardo continuava sua canção, mas a tocava olhando um singelo quadro do capitão, onde havia uma jovem de longos cabelos negros e olhar cativante.

- Bom, acho que o que me resta é olhar e ver se acho o que procuro... -

- Você parece tão decidido quanto um marinheiro de primeira viagem ao enfrentar o grande mar. Diria que homens assim não conseguem o que querem... - O capitão voltava até sua mesa, ainda permanecendo em pé. Após um tempo de pouca melodia de Eir, o capitão batia com tudo em sua mesa, a música cessava e o bardo olhava ao rosto amedrontador de Freyr, que retomou a fala irritado:

- Seu marinheiro de água doce, você tem mais do que a maioria dessas pobres almas que o profano me devolveria se eu tentasse negociar! Aprenda com o Eterno o que você precisa, ajuda aquela que aquece suas noites e seu coração e depois mova essa carcaça para cá novamente - depois de um longo suspiro o experiente capitão voltava à escotilha. - Sabe Eir, às vezes nossas vidas têm que aprender com o mar, os ventos vêm para cá e para pra lá, às vezes nos dão tempo de calmaria e também tormenta. Em alguns momentos, somos tomados de fúria e acabamos por destruir algumas coisas de nossas superfícies; entretanto ainda temos coisas vivendo dentro de nós, prezamos por elas. Não deixe que ninguém destrua esses tesouros internos, e também descubra o que pode ter sido esquecido há muito tempo - Sinos de igreja começam a ser escutados. - Mas, enfim, seu rato de Gávea, os sinos anunciam nossa chegada e nossos estoques de vinho clamam por mais. Levante esse seu traseiro, totalmente cheio de recifes, daqui e vá encontrar o que procura. E o mesmo que falei para a tripulação vale para você. Agora saia daqui, seu amante de terra -

- O seu jeito de demonstrar admiração e afeto é tão cativante, você não faz ideia. Enfim, obrigado pelo vinho, Capitão, e pelo todo resto. Aliás, naquela última batalha você estava cansado? Porque... -

- SAIA DAQUI, SEU PEIXE FRANZINO DE ÁGUA DOCE - interrompeu-o Freyr, que sacava a espada e logo via Eir fechando a porta.

Saía para a popa do barco e via seus companheiros já em estado de regozijo por poderem ficar tranquilos, sem batalhas, sem preocupações (ao menos por enquanto). Enquanto alguns já arrumavam seus sacos com parte de sua recompensa, outros apenas vomitavam por terem abusado um pouco. A madeira da proa nunca tivera parecido tão viva, agora faltava pouco para rever seu motivo de velejar, abria um sorriso, olhava o horizonte e já contemplava o esplendor do porto de Morgana com a esperança de vê-la estremecendo seus olhos.

O Vento Não Está Do Nosso LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora