Capítulo Único

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Coruscant, dia sete do mês doze de 4 ABY (Após a Batalha de Yavin).

Senhor Imperador,

"Per ardua ad astra" (Através das adversidades, até as estrelas)

O senhor me conhece. Sabe de minha trajetória. De meu passado como escravo em Tatooine à humilhação sob o jugo dos Jedi. De como nos aliamos para trazer ordem a esta galáxia após derrotar seus inimigos...

Por isso lhe escrevo. Muito a propósito das intensas notícias da HoloNet nestes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas na Estrela da Morte.

Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.

Desde logo lhe digo que não é preciso alardear por todas as orlas da galáxia sobre minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes vinte e três anos.

Lealdade selada pelo elo entre um Lorde Sith e seu outrora aprendiz. Sei quais são minhas funções como seu braço direito. À minha natural discrição conectei aquela trazida por meu sabre de luz – arma de tempos em que negociações eram mais rápidas.

Entretanto, sempre tive conhecimento da absoluta desconfiança do senhor e até mesmo de sua guarda pessoal em relação a mim e meus serviços. Desconfiança incompatível com tudo que fiz para eliminar os inimigos de seu poder e seu governo, desde as Guerras Clônicas.

Basta ressaltar que na última consulta aos comandantes do Império apenas 59,9% votaram pela continuidade de meus serviços. E só o fizeram, ouso registrar, por saberem eu achar perturbadora a falta de fé que possuem.

Tenho mantido a unidade da galáxia apoiando seu governo, usando o domínio da Força que tenho advindo do treinamento que empreendi durante décadas. Aniquilei Dookan, varri o Templo Jedi, eliminei a Federação de Comércio e toda a oposição reminiscente ao seu poder. Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera desconfiança e menosprezo do Império.

Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.

1. Passei os dezenove primeiros anos de seu governo como Sith decorativo. O senhor sabe disso. Até mesmo ao incompetente Moff Tarkin me subordinou, quando da construção da primeira Estrela da Morte. Perdi todo protagonismo que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo Império. Só era chamado para torturar rebeldes e procurar os malditos planos roubados por eles.

2. Jamais fui chamado para discutir formulações econômicas ou políticas da galáxia, mesmo o senhor sabendo que me interesso por esses temas desde que fazia piqueniques com Padmé (que a Força a tenha) em Naboo. Era eu um mero acessório, secundário, subsidiário.

3. O senhor, já na construção da segunda Estrela da Morte, à última hora, não renovou o Ministério da Infraestrutura Bélica onde o Zim Cavi fez um belíssimo e elogiado trabalho no projeto da primeira Estrela – só falhando em deixar aquela mísera saída de exaustor que foi aproveitada pelos rebeldes. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, via holograma.

4. No episódio Lando Calrissian, mais recente, ele resolveu deixar de contribuir com o Império em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que o Império fez a ele, aliado, retirando sem nenhum aviso prévio a proteção à sua operação de extração de gás Tibanna em Bespin. Alardeou-se: a) que fora retaliação a mim por perder o jovem Luke na ocasião; b) que ele saiu por ter se aliado de livre vontade aos rebeldes.

5. Quando o senhor fez um apelo para que eu assumisse a caçada aos rebeldes após a destruição da Estrela da Morte, no momento em que o Império estava muito desprestigiado, atendi e conseguimos, eu e o caçador de recompensas Boba Fett, capturar o mercenário Han Solo. Tema difícil porque dizia respeito aos Hutts e à máfia em Tatooine. Não titubeamos. Estava em jogo a galáxia. Quando se concluiu o acordo com Jabba, nada mais do que fazíamos tinha sequência no Império. As instruções impostas à frota não foram cumpridas. Asfixiei mais de 60 comandantes imprestáveis ao longo do tempo solicitando apoio melhor à caçada a Luke. Fomos obrigados a deixar o rastro dele esfriar.

6. De qualquer forma, sou um Lorde Negro dos Sith e o senhor resolveu ignorar-me chamando o bandido Xizor* para fazer um acordo que eliminasse Luke sem sequer comunicar seu braço direito. O referido criminoso, saiba agora o senhor, foi eliminado por mim. E o senhor também não teve a menor preocupação em perseguir, tentar cooptar e aniquilar o jovem Starkiller**, aprendiz do Lado Negro e a mim ligado.

7. Sith que sou, sou implacável, sim, senhor Imperador, com a oposição. Sempre fui, pelos vinte e três anos que passei ao seu serviço. Aliás, as ameaças mais imediatas ao senhor sempre foram eliminadas por mim prontamente, como Mace Windu (23 anos atrás), Obi-Wan Kenobi (4 anos atrás) e a escória rebelde em Hoth (2 anos atrás), recordando que os rebeldes escapuliram do planeta por pouco. Sou criticado por isso, numa visão equivocada de nosso sistema. E não foi sem razão que em mais de uma oportunidade ressaltei que deveríamos trazer Luke para o Lado Negro. O senhor resolveu espalhar minha fala e criticá-la.

8. Recordo, ainda, que o senhor, no passado, mantinha reuniões de extensas horas com seus aprendizes Darth Maul e Conde Dookan – sendo que com este criei saudável rivalidade – sem convidar-me, quando já tinha na verdade a intenção de me recrutar para o Lado Negro. Isso ainda gera nos comandantes a seguinte pergunta: quando o Imperador conseguirá um novo pupilo e apunhalará seu braço direito pelas costas? Antes, no episódio da "espionagem" dos rebeldes, quando conseguiram roubar os planos da Estrela da Morte, o senhor mandava Moff Tarkin, não eu, dar as ordens – inclusive explodir Alderaan. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança.

9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do Império) foi divulgada de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa – e o senhor alegou interferência por conta de um campo de asteroides.

10. Até o programa "Uma Ponte para o Lado Negro", aplaudido pela sociedade imperial, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recrutar novos membros ao Lado Negro (desta vez sem perda de mãos) e resgatar a confiança, foi tido como manobra desleal.

11. Tenho ciência de que o Império procura promover a minha demissão, o que já tentou no passado, sem sucesso. O senhor sabe que, como Lorde Sith, devo manter apenas o som de minha respiração sendo ouvido com o objetivo de procurar o que sempre fiz: manter a ordem na galáxia.

Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que a galáxia terá tranquilidade para se fortalecer e consolidar a destruição da escória rebelde e Jedi.

Finalmente, sei que o senhor não tem confiança em mim, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.

Respeitosamente,

\D Vader


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(*) Referência a "Star Wars: Sombras do Império" (Legends)

(**) Referência a "Star Wars: Force Unleashed" (Legends)


Carta de Darth Vader ao ImperadorDonde viven las historias. Descúbrelo ahora