CAPÍTULO UM

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|| Valentina ||

Depois de ter ficado uma boa parte do meu tempo ao telemóvel com Christina, peguei na minha mala mais pequena, onde coloquei alguns dos meus pertences.

Observei a minha face perante o espelho e sorri... gostava do que via!

Olhei para as folhas riscadas que permaneciam amarrotadas no chão do meu quarto e chutei-as para debaixo da minha secretária, para uma arrumação posterior.

Casei todos os botões do meu casaco e dei uns passos em direção à porta da entrada do meu apartamento.

- Bom dia! - desejei ao vizinho da frente de minha casa.

- Bom dia, Valentina. - deseja de volta e bate a porta, depois de apanhar o jornal.

Fecho a porta de minha casa logo atrás de mim e ajeito a mala no meu ombro antes de entrar para o elevador.

Observo a base que insisto em espalhar abaixo dos meus olhos onde permanecem as negras olheiras desta noite. Suspiro ao espalhar melhor o corretor de olheiras e saio logo após do elevador parar, em direção ao carro, preparando-me para um novo dia de trabalho.

Entro no meu smart branco e pouso a mala no acento a meu lado. Dou à chave na ignição e coloco-me a caminho. Durante a viagem pensava na papelada que teria de organizar, nos documentos que tinha de rever e nos eventos que tinha a avisar.

Chego à empresa editorial Letters on paper, estaciono o carro no devido local e agarro a mala, entrando para o meu atual local de trabalho.

Estou cansada de tudo isto e acho que, na verdade, pouca coisa irá melhorar se continuar assim, com o patrão que frequentemente pressiona o meu trabalho. Com o orçamento com tendência a reduzir a cada dia que passa. E sem falar nas horas que suplementares que me obrigam a ficar até mais tarde, sem serem pagas.

No início achava que este era o trabalho que qualquer leitor ou escritor gostaria de ter. Algo inalcançável para muitos e quando a oportunidade surgiu, achei ser o melhor que vida me tinha a oferecer.

Nessa mesma manhã forcei os meus olhos a ler um documento de 200 páginas com uma paragem de 10 minutos para comer duas bolachas e um café morno.

Quando dou por mim na página 195, ouço os paços pesados do Sr. Martin, o meu patrão.

- Preciso desse documento agora! - exige.

- Faltam-me apenas cinco páginas, aguarde dez minutos que já lhe entrego. - afirmo sem retirar o meu olhar da tela do computador.

- Mas tu queres despachar-te Valentina? Devia despedir-te! - ele atira.

- Desculpe? - questionei - Eu espero que saiba que estou a dar o meu melhor naquilo que faço, não estou propositadamente a atrasar-me só porque me dá gozo, porque não dá. - defendo-me.

- Devias de ser mais rápida naquilo que fazes, amanhã mudo-te de lugar. - ele orienta e olha-me feroz.

- Podia mudar agora, se está tão determinado. - encaro-o desta vez.

- Então mude-se, mas rápido para que isso esteja pronto em menos de dez minutos. - resmunga.

Agarro numa pequena caixa cheia de papéis que seriam deitados ao lixo, despejo-os sobre o teclado do computador e começo a arrumar as minhas coisas.

- Mas o que é que pensas que estas a fazer? – questiona.

- A despedir-me. - olho-o de relance enquanto este me encara.

- Não pode despedir-se, a menina é uma das melhores que encontro por aqui. - ele diz, mais calmo.

Surpreendo-me com o ser antipático que este tipo é.

- Desculpe Sr. Martin, sou demasiado incompetente para estar neste ramo, apercebi-me que tenho demasiadas chamadas de atenção durante os dias. – concluo enquanto o olho de relance.

- Não acho correto que se despeça. - suspira - A menina vai para onde?

- Procurar um local que me deixe trabalhar e que me dê a felicidade que procuro ao exercer o meu cargo. - respondo por fim – E que dê valor!

Fecho a caixa e seguro-a nos meus braços pendurando depois, a mala ao meu ombro.

Despeço-me dos meus colegas de trabalho e mesmo do Sr. Martin que ficou mais abalado do que eu pela minha saída repentina daquele local. Engraçado... acha que pode falar como quer e que todos aqui não são mais que meros escravos dele, pois aí é que ele se engana!

Caminho pelo corredor em direção à secretária próxima à saída, sem deixar que os sentimentos se apoderem de mim.

- Enviarei a minha carta de despedimento ainda hoje, por email. – menciono na secretaria enquanto encaro Christina, a mesma rapariga com quem cumprimentei esta manhã.

- O que se passou Tina? - ela questiona-me.

Larguei um longo suspiro com os meus olhos presos à sua secretária. Sustenho as lágrimas nos meus olhos enquanto pensava na resposta que lhe daria. Não sabia. Aliás, o que eu tinha acabado de fazer, era algo que eu já pensara fazer muitas vezes, mas a coragem só surgiu hoje.

- Este não é o local que eu procurava, desculpa. - digo-lhe não conseguindo articular mais palavras.

Ela pousou a sua mão sobre a minha.

- Sei o que sentes, desejo-te boa sorte meu doce. - ela diz-me e dá-me a confiança que eu precisava neste momento.

- Obrigada. - agradeço e abandono o estabelecimento.

Vou de encontro ao meu carro, entro e pouso a caixa junto da mala a meu lado, fecho a porta e deixo as lágrimas atravessarem o meu rosto.

A minha cabeça é pousada no cimo do volante e aperto os meus braços com as mãos. Não quero continuar com esta infelicidade.

Pouso as mãos sobre o volante e tento preparar-me para uma mudança de vida. Qual seria o meu destino, estando eu perdida?

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