- Que bom que resolveu sair do quarto.

- Vou visitar Thurayya na cozinha, você pode dizer-me onde fica?

Ele está vestido tão informalmente, com um jeans desbotado e camiseta preta, que se o vissem na rua, jamais seria confundido com um rei. Nahan aproxima-se um pouco mais do que deveria, invadindo o meu espaço pessoal, conduz-me através do corredor, com a mão pousada em minha cintura. Mesmo por cima da roupa, sinto a minha pele se arrepiar com o seu toque.

- Eu te levo até Thura. Se você quiser circular pelo palácio e redondezas, é só falar com ela, amanhã eu te levo para conhecer a beleza de nossas terras.

Chegamos à cozinha, Thura me faz sentar a mesa e Nahan pega uma maçã na fruteira, saindo em seguida. Da porta da cozinha, observo-o enquanto ele dá a primeira mordida, cheio de apetite e me encarando.

Ah! Essa boca carnuda...

O bate papo que duraria cinco minutos, termina em mais de meia hora. Thurayya deixa a conversa fluir solta, ela conta-me que é tia de Nahan e sua ama de leite. Também me fala rapidamente do quanto a morte da família abalou Nahan e da insônia crônica que ele adquiriu, logo depois do atentado que matou-as.

As horas passam rapidamente, eu janto em meu quarto e a noite cai, de madrugada posso ouvir passos pelo corredor, abro a porta e vejo Nahan saindo do seu quarto, com uma calça de pijama, os cabelos desarrumados e carregando um travesseiro. Espero ele adiantar-se e sigo-o pra ver onde ele vai, Nahan senta-se no sofá do salão principal e eu volto para o meu quarto, também não sei se vou conseguir dormir.

Três dias correram como o vento e desde a manhã em que nos beijamos, ele evita me encontrar, só chega tarde em casa após compromissos infindáveis que parecem drenar ainda mais as suas forças. Um desses dias o encontrei saindo de um cômodo, que depois Thura contou-me que é o escritório, com um travesseiro debaixo do braço e um ar de derrota assustador, ele não está nada bem.

Hoje é sábado e ele convidou-me para fazer-lhe companhia no café da manhã, a barba por fazer está ainda maior e as olheiras profundas denunciam que ele não dorme há dias. Rugas de expressão circundam os seus olhos e lábios, ele rasga um pedaço de pão sírio calado, toma uma xícara de café e depois outra, acho que pra se manter acordado, eu desisto de fingir que não estou vendo o seu estado deplorável e indago.

- Você tem dormido Nahan?

Ele nega sem me encarar e continua a beber o café, o pires levemente treme na palma de sua mão.

Decido continuar, preciso descobrir o que tá acontecendo com ele.

- Algum problema?

Nahan dá um sorriso morto e conclui.

- Todos.

- Posso ajudar em alguma coisa?

Ele aperta os lábios em uma linha rígida e nega com a cabeça.

- Com licença, Bianca.

Deixa-me na mesa e sai gritando pelo corredor o nome de Thura, mal humorado como um felino machucado. Vejo a sua imagem distanciar-se através do corredor, tentando manter a sua imponência de rei, de macho, porém os seus ombros caídos, denunciam a sua miséria pessoal.Uma música de Gonzaguinha de repente  me vem a cabeça, enquanto ele some pelo corredor de seu palácio, sua frágil fortaleza.


UM HOMEM TAMBÉM CHORA (GUERREIRO MENINO)


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ADORÁVEL CONCUBINA  - capítulos de degustaçãoWhere stories live. Discover now