Capitulo 5 - REBECA

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Quando a noite toma forma/ Quando as lágrimas opostas se compõem/ Sem te deixar a chance de olhar e compreender/ Mas tudo é tão vago, vago no mundo/ Nada além/ Daquelas mágoas que vivemos (Lugar Qualquer - Pública)

Assim que chegamos à casa do Antônio (já que ele me obrigou a dispensar o "seu" e "senhor") a chuva volta a cair, ainda mais forte. Respiro fundo pensando se vou realmente conseguir sair daqui hoje. Olho para o Brian e percebo que ele está me analisando. Torço para que minhas bochechas não revelem o incômodo.

Não sei o que aconteceu comigo nessa manhã, mas eu simplesmente cansei de toda minha postura. Às vezes machuca mais se proteger do que realmente ficar de cara com o perigo. Por isso resolvi baixar a guarda e revelar. As minhas feridas nunca vão cicatrizar se eu não parar de abafa-las e esconde-las.

Enquanto o Antônio entra em casa para contar a sua mulher sobre nossa visita, eu e Brian ficamos na varanda da casa. É uma casinha simples de interior, as paredes são pintadas de um verde água que traz uma certa paz. O barulho da chuva no telhado consegue acalmar os milhares de pensamentos que percorrem minha mente.

- Eu gosto desse som. - O Brian diz parando exatamente ao meu lado, nossos braços não encostam, mas eu posso sentir ele próximo o bastante.

Não posso deixar de me sentir suja e traidora por sentir um turbilhão de sentimentos só por causa de uma proximidade. Não é possível que eu ainda me deixe abalar com isso. Não é justo. Não é justo comigo, nem com o Dean. Afasto-me lentamente para que ele não perceba minha real intenção e, pior ainda, meus sentimentos.

- Venha, entrem! - Uma mulher aparece na porta com um sorriso fraco nos lábios. Ela é muito bonita, mas sua pele castigada revela uma vida sofrida. - Meu nome é Estela.

Assim que entramos, ela nos oferece uma xicara de café que aceito sem nem pensar duas vezes. Eu sou absolutamente viciada em café, mas nos últimos anos tirei essa bebida do meu cardápio. Não faz bem para o organismo e sono, ou seja, é inimigo de uma modelo.

- Achei que você não bebesse café. - O Brian diz enquanto leva sua xicara a boca e me olha por cima. Ele realmente não deveria deixar seu olhar assim, é tão tentador e sexy.

Engulo um gole de café quente rápido demais e o sinto queimar por dentro. Eu não sei o que está acontecendo comigo, nem sei se vou conseguir aguentar uma tarde toda ao lado desse homem. Imagine só se eu tiver que dormir aqui. Balanço a cabeça antes que eu me perca totalmente nos meus devaneios.

- Não bebo. Mas hoje o meu dia precisa de algo quente. - Sorrio sem graça e ele também. Estamos bem. E isso parece até mesmo ser um milagre. Nesse momento eu tenho tantas perguntas para fazer, tanta coisa que eu gostaria de saber. Eu sei que não devo ter essa curiosidade, que o passado deveria ficar exatamente lá. Mas eu não consigo.

- Então, o que vocês estavam fazendo por aqui? Essa estrada quase não é usada. - A mulher que nos ofereceu o café, Estela, se senta na poltrona ao lado do pequeno sofá em que estamos.

Lanço um olhar de repreensão para o Brian que apenas dá de ombros.

- Eu não sabia que a estrada era assim, apenas me informaram que esse era um caminho alternativo. - Ele diz se digerindo a mim e então volta sua atenção à Estela. - Nós estamos indo para a próxima cidade, eu sou fotografo e ela é modelo.

- Que chibata! - Ela abre um sorriso. E eu fico sem entender nada. Deve ser alguma gíria ou algo do tipo para "bom" ou "legal", julgo isso por sua expressão de alegria. - Vocês formam um belo casal até na profissão.

Just a Life // COMPLETO // Livro IIWhere stories live. Discover now