O Reencontro

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A cada vez que tenho essa dor, eles aparacem e é assustador. Odeio vê-los, eles me dão medo. É como um pesadelo. Mas já acordei.

Eu estava em um campo gramado, um lugar desconhecido para mim. Mas, como era lindo. Flores diversas coloriam aqueles campos, que pareciam não acabar mais. Algumas árvores das mais saborosas frutas. E o céu, tão limpo, sem um rastro de nuvem sequer. O sol brilhava, era tudo perfeito. E a peça mais encantadora deste cenário era ele, que ali estava novamente. E novamente, vestido de preto, o que é um tanto quanto inadequado num lugar como esse.  Mas aquilo só me fez gostar ainda mais do meu... protetor

-Que bom que já acordou, meu doce - disse ele com aquele mesmo sorriso debochado

-NÃO - calma, Alice, respire, não perca a cabeça - olha, se tenho REALMENTE que aturar você, seja lá qual for o motivo, não me chame de "meu doce".

-Como quiser... meu doce. Ops, desculpe, força do hábito.

Tudo bem, talvez eu não goste muito dele.

-Posso ao menos saber onde estamos?

-Não - agora é oficial, eu realmente não gosto desse garoto.

-Como você me trouxe pra cá?

-Saiba que você é bem levinha, podia inclusive se alimentar mais. Por que não sobe em alguma dessas árvores e come alguma fruta?

-Saiba então que eu não estou com fome. E... bom, não saberia subir nessas árvores.

-O que? Você nunca subiu em uma árvore? Ah, claro. Por um segundo havia me esquecido que você é Alice Dolabella, a garota sem vida.

-Tudo bem, Sr. Engraçadinho. Eu posso fazer isso. Não será um desafio!

-Hahaha você tem certeza?

-Claro que sim.

-Tudo bem, então primeiro...

-NÃO. Eu NÃO preciso da sua ajuda. Posso fazer isso muito bem sozinha.

-Ah, então já que é assim. Fique a vontade, mon doux.

-Eu sei francês!

-Haha, me desculpe, mi dulce.

-E espanhol.

-Sabe alemão?

-Não.

-Uma pena, pois eu também não.

-Você pode, por favor, me deixar subir nessa árvore em paz?

-Ah, me perdoe. Boa sorte, querida.

Bom, isso não pode ser difícil. Eu só tenho que segurar esses galhos, talvez pegar um impulso e subir. 

-É, meu bem. Nada mal. Agora desça antes que se machuque.

-O que? Eu não vou me machucar, eu posso ir muito mais alto, se quer saber.

-Pare de besteira, desça, você pode se machucar, já disse.

-Você não é meu pai! E não é um machucadinho bobo que vai me desconsertar. Não sou uma boneca de pano.

-E você tem um? Vamos, desça daí, você pode cair. Uma boneca de pano suportaria a queda, você não.

-Eu não vou descer.

-Pare de subir, você já está bem no alto!

Então, eu o encarei, mas não parei de subir. Esse foi meu erro. Acabo de dar um passo em falso. Ele estava certo, fui longe demais. Agora estou no chão e meu braço doí. A dor de sempre, talvez essa queda à tenha despertado. Mas à mim, ela adormeceu, e minha ultima visão foi ele, vindo correndo em minha direção. 

  




O Cara de PretoWhere stories live. Discover now