Espera... que?

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Fui para casa, já era tarde, não consegui dormir nada a noite, eu estava realmente preocupada com Lili.
Por volta das seis horas da manhã eu já estava pronta para ir para escola, mas como era cedo resolvi ligar novamente para ela.
Ela atendeu rápido dessa vez, mas logo disse precisar me contar algumas coisas e que talvez nós nunca mais nos veríamos.
Eu já entrei em estado de nervoso avançado, gaguejei e disse "Okay, até mais".
Como eu estava super adiantada, meu pai resolveu me levar para o colégio, ele tentou puxar assunto comigo, pois percebera que eu estava meio para baixo, mas tudo que eu respondia a ele era "não é nada, pai, está tudo okay", até ele desistir.
Cheguei na escola e fui correndo procurar a Lili, ela estava sentada na escada ao lado dos banheiros, eu sentei ao seu lado. Ela estava com o rosto pálido, olheiras, e uma cara de quem chorou um ano continuamente.
— O que foi, Lili?
— Mag a coisa é mais séria do que você pode imaginar...
— Aí meu Deus! O que está acontecendo?
— Quero que você mantenha se calma, e eu te conto tudo.
— Tudo bem, eu estou calma...
— Okay... É o seguinte, eu vou embora daqui, vamos morar em Brisbane, na Austrália.
— O QUÊ? AUSTRÁLIA? PELO AMOR DE DEUS! COMO ASSIM?
Nesse momento nós duas começamos a chorar e quase sem forças ela olhou para mim, e disse:
— Minha mãe foi diagnosticada com uma doença rara, o tratamento só tem na Austrália, e é por tempo indeterminado.
— Isso não pode ser verdade, é tudo um pesadelo!
Cruzei os dedos e comecei implorar para acordar daquele pesadelo, mas não eu não podia sair dele, porque eu não estava dormindo, era tudo verdade.
Fiquei sem chão. E agora?

Eu estava arrasada — como assim a minha melhor amiga vai embora para o outro lado do mundo? Que doença a Tia Kelly tem? Austrália? O que eu faço? — e essas perguntas ficaram vagando em minha mente por horas e horas.
No intervalo, ficamos juntas, cabisbaixas, chorando e se abraçando. Aproveitei a oportunidade e pedi desculpas para Lili, pela ligação de desabafo que fiz para ela, sem ao menos perguntar o que aconteceu.
Fomos para a sala, e nada do que os professores falavam eu conseguia prestar atenção, minha mente estava desfocada, acho que se me perguntassem quanto era 2 + 2 naquela hora, eu ia responder "não sei, acho que é Austrália".
Sinceramente, eu tava mais fora da escola do que dentro, e a Lili, não preciso nem comentar.
Deu a hora de ir embora e saímos rápido para pegar o ônibus, estávamos tão desoladas que nem boa tarde para o MMF, a gente lembrou de dar. No caminho inteiro até em casa, não falamos nada, apenas conversamos por olhares.
E eu sei que você sabe que melhores amigos conversam por olhar, isso é uma das preciosidades das melhores amizades, saber entender o olhar de seu amigo.
Descemos do ônibus, e como se uma lâmpada acendesse na minha mente me fornecendo uma grande ideia, eu gritei "Lili já sei o que podemos fazer!", ela apenas sorriu, e disse bem baixinho "o quê?", e com a maior naturalidade do mundo eu disse "Eu vou com vocês para a Austrália".

Não, não era uma ideia brilhante, e, no fundo, eu sabia, que meus pais olhariam para mim com cara de pena e diriam juntos...
— Mas é claro!, que você não vai Mag, você está louca?
— Mas mãe, eu não posso deixar a Lili passar por toda essa situação sozinha!
— Querida, a gente entende que você ama sua amiga, mas vocês não poderão resolver os problemas juntas pelo resto da vida, cada uma tem um destino diferente. E quanto a mãe dela, ficará tudo bem.
— ISSO NÃO É JUSTO! ELA PRECISA DE MIM TÁ? POR FAVOR!
E depois desse pequeno diálogo, eu subi para o meu quarto e desabei, chorei muito, liguei para a Lili, e ficamos chorando juntas.
Não tínhamos o que dizer ou fazer, estávamos completamente sem saída.

Sem essa de era uma vezOnde as histórias ganham vida. Descobre agora