Um nome

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"Sim... Não... Não... Mhm... O quê? Nada, nada. Acho que só estou cansada..."

As conversas com minha mãe eram quase que como roteiros escritos. Ela me perguntaria como estava a faculdade, se meu dormitório era barulhento demais, sobre festas de universitários... Questionamentos que cabiam apenas à minha vida antiga, de forma que eu tentaria ser o menos detalhada possível. Não inventava histórias, pois sabia que ela voltaria àquela ficção improvisada na ligação da semana seguinte. 

Eu ainda não havia contado sobre meu pai, a fim de não preocupá-la; aliás, eu tampouco sabia se sequer atenderia ao funeral. O relacionamento de meus pais poderia ser uma perfeita história de amor encontrada em livrarias... Ao menos até certo ponto. Ou melhor, até eu nascer. Haviam se conhecido nos Estados Unidos, terra natal de minha mãe, e ela decidiu segui-lo até a França, o país de origem dele. Meses depois, eu fui levada aos braços de minha mãe em um hospital e, embora meu pai sorrisse de orelha a orelha, havia uma terrível preocupação e medo consumindo-o por dentro. A responsabilidade é uma bagagem pesada demais para algumas pessoas; às vezes é mais fácil deixar essa bagagem para trás. 

Com a omissão de uma notícia que com certeza arruinaria o dia de minha mãe, nosso diálogo continuou o mesmo de todas as semanas; perguntas metralhadas de um lado da linha para o outro; este apenas assentiria ou negaria, até o telefone ser posto no gancho e o celular, jogado na cama. 

Gostaria de parar de mentir, mas sabia que isso a arrasaria. Uma filha sozinha em Paris, de uma conceituada universidade de arquitetura a uma lanchonete que pertencia a uma idosa bretanha chamada Ivette. Encantador. 

Joguei-me na cama, suspirando ruidosamente. As molas velhas rangiram com meu pouco peso, um som que nunca falhava em me receber. 

"Eu me diverti muito, Elise."

Eu gostava da maneira que meu nome soava em sua voz; a omissão do e final, o l menos sutil. Uma fuga da sutileza do francês e uma saudação à agressividade do inglês. Meu nome parecia tão diferente saído de sua boca. 

"Eu também." engoli em seco e mordi meus lábios, torcendo para que minha voz não falhasse miseravelmente, como era comum acontecer "Alexander." 

Seu nome me era muito apetecedor de ser dito. A maneira que as vogais corridas brincavam em minha língua, e como as consoantes saudavam meu palato. Homônimo de Alexandre Dumas, autor de Os Três Mosqueteiros. Sempre que dizia seu nome, lembrava-me da idosa com quem ficava todo dia depois da escola, que tinha em sua prateleira um exemplar da obra em brochura. Era um dos únicos que ela tinha em sua prateleira que não eram de receitas; Os Três Mosqueteiros, Notre-Dame de Paris, O Fantasma da Ópera e Os Miseráveis. Apenas os clássicos, em meio a livros antigos que ensinavam como fazer o mesmo bolo com diferentes incrementos. A maciez do bolo de laranja abraçava minha boca, depositando sua doçura e seu sabor cítrico em meu paladar, enquanto meus olhos corriam ora pela vasta gama de receitas que aquela velhinha tinha, ora pelas palavras de Victor Hugo. Não importava o livro, as páginas sempre contavam com partículas de farinha em sua superfície áspera e velha. 

Ela era dona da brasserie do bairro. A única; não havia competição páreo para aquela idosa tão sabida. Desde pequena, eu passava pelo seu estabelecimento e ficava durante um longo tempo com a testa colada na vitrine, observando aquele ambiente tão descontraído, as personagens daquele pequeno bairro. Rosanne me agraciava com alguma fatia de bolo, perguntava-me de minha mãe, contava-me histórias sobre sua vida e a vida dos outros. Quando completei quinze anos, tornei-me uma espécie de aprendiz sua. Além de mim, seu único funcionário era Gerard, o garçom. O primeiro emprego, o primeiro amor. 

As memórias da brasserie corriam pela minha mente enquanto Alex falava sobre como fora bom ter me conhecido.  E assim, quando vi, eu estava fora do táxi, observando o automóvel dobrar a esquina. 

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⏰ Terakhir diperbarui: Mar 28, 2018 ⏰

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