Hoje foi o dia de sair com Sofia. Nós duas nos encontramos em frente à Biblioteca Pública de Hilionópoles e, de lá, seguimos para a cafeteria.
— Então... — falei, quando ocupamos uma mesa perto da vitrine. — Por qual motivo você se mudou para cá?
Sofia desviou os olhos para o seu café, parecendo pensativa e respondeu:
— É uma longa história...
Eu sorri.
— Eu tenho tempo.
— É que tivemos alguns problemas na minha antiga cidade, então como temos parentes aqui, minha mãe e eu decidimos vir para cá. — Sofia deu uma pequena mordida no seu cupcake. — Estamos tentando nos estabilizar.
— E estão conseguindo?
— Ah, sim. — Um sorriso tomou conta do seu rosto. — Aqui tem mais oportunidades. — Ela me encarou. — Além disso, as pessoas são mais gentis.
— Que bom que está gostando.
Ficamos conversando na cafeteria por mais alguns minutos e depois saímos. Sofia queria conhecer um pouco mais a cidade e eu decidi levá-la nos lugares próximos à minha casa, como lojas de departamentos e uma livraria. A hora passou tão rápido que quando o nosso passeio chegou ao fim faltavam poucos minutos para às cinco da tarde.
— Você vai para aula hoje? — perguntei enquanto passávamos por uma praça.
— Claro. E você?
Eu estava prestes a respondê-la quando percebi um indivíduo encostado em um poste a alguns metros à frente.
— O que foi? — Sofia perguntou quando não respondi.
— É que... — Foquei minha atenção no indivíduo. Em seu cabelo preto e em seu corpo magro. — É o irmão da Lia — sussurrei.
— Quem?
— Não olha agora. — Parei de andar, sem tirar os olhos dele.
Eu vi o tal de Leandro apenas uma vez no hospital ano passado, mas ainda assim, me lembrava de sua fisionomia. De repente, ele começou a olhar na nossa direção, os olhos parando em mim. Talvez tinha me reconhecido.
— Quem é o irmão da Lia? — Sofia perguntou em voz baixa.
— O cara parado lá na frente.
Sofia olhou disfarçadamente na direção de Leandro e depois se voltou para mim.
— E quem é Lia?
— É uma garota obcecada pelo Mateus. Ela tentou se suicidar por causa dele há alguns meses atrás e agora está internada numa clínica.
— Nossa... — Sofia estava surpresa com o meu breve relato. — Que pesado.
— Muito — concordei.
— E esse irmão dela? Também tem esse tipo de problema?
— Não sei. Eu não o conheço — respondi, sincera. — Só acho meio estranho encontrar ele por aqui, bem perto do meu bairro.
— Deve ser só coincidência.
Sofia não sabia, mas desde que comecei a namorar com Mateus, aprendi que, na maioria das vezes, nada era mera coincidência.
No instante seguinte, Leandro saiu de perto do poste e começou a caminhar na nossa direção em passos curtos. Meu coração começou a disparar quando ele cortou a distância entre nós duas e desviou alguns centímetros, mantendo os olhos escuros sobre mim.
Eu engoli em seco, incapaz de desviar o olhar.
Leandro esboçou um meio sorriso quase imperceptível e finalmente passou por nós, nos deixando para trás.
Eu soltei o ar e Sofia disse, após alguns segundos:
— Ok... isso foi estranho.
— É melhor a gente sair daqui.
— Boa ideia.
Sofia e eu começamos a andar em passos rápidos pela praça, e sem conseguir conter a minha curiosidade, eu olhei para trás. Para a minha surpresa, Leandro estava parado feito uma estátua no meio do caminho, os olhos misteriosos voltados para as minhas costas.
Eu olhei para frente novamente e torci para que tudo aquilo que acabou de acontecer fosse mesmo mera coincidência.
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Sombrio e Intenso - Livro 2 (DEGUSTAÇÃO)
Romance*ANTIGO RV-PARTE II A continuação da Trilogia Sombrio e Inevitável Após passar por um período turbulento, Thaissa inicia mais um ano letivo na Universidade de São Hobbes, com Mateus, seu namorado. Preocupada em não conseguir se enturmar, uma possíve...