Capítulo 2

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Hoje foi o dia de sair com Sofia. Nós duas nos encontramos em frente à Biblioteca Pública de Hilionópoles e, de lá, seguimos para a cafeteria.

— Então... — falei, quando ocupamos uma mesa perto da vitrine. — Por qual motivo você se mudou para cá?

Sofia desviou os olhos para o seu café, parecendo pensativa e respondeu:

— É uma longa história...

Eu sorri.

— Eu tenho tempo.

— É que tivemos alguns problemas na minha antiga cidade, então como temos parentes aqui, minha mãe e eu decidimos vir para cá. — Sofia deu uma pequena mordida no seu cupcake. — Estamos tentando nos estabilizar.

— E estão conseguindo?

— Ah, sim. — Um sorriso tomou conta do seu rosto. — Aqui tem mais oportunidades. — Ela me encarou. — Além disso, as pessoas são mais gentis.

— Que bom que está gostando.

Ficamos conversando na cafeteria por mais alguns minutos e depois saímos. Sofia queria conhecer um pouco mais a cidade e eu decidi levá-la nos lugares próximos à minha casa, como lojas de departamentos e uma livraria. A hora passou tão rápido que quando o nosso passeio chegou ao fim faltavam poucos minutos para às cinco da tarde.

 — Você vai para aula hoje? — perguntei enquanto passávamos por uma praça.

 — Claro. E você?

Eu estava prestes a respondê-la quando percebi um indivíduo encostado em um poste a alguns metros à frente.

— O que foi? — Sofia perguntou quando não respondi.

— É que... — Foquei minha atenção no indivíduo. Em seu cabelo preto e em seu corpo magro. — É o irmão da Lia — sussurrei.

— Quem? 

— Não olha agora. — Parei de andar, sem tirar os olhos dele.

Eu vi o tal de Leandro apenas uma vez no hospital ano passado, mas ainda assim, me lembrava de sua fisionomia. De repente, ele começou a olhar na nossa direção, os olhos parando em mim. Talvez tinha me reconhecido.

— Quem é o irmão da Lia? — Sofia perguntou em voz baixa.

— O cara parado lá na frente.

Sofia olhou disfarçadamente na direção de Leandro e depois se voltou para mim.

 — E quem é Lia?

 — É uma garota obcecada pelo Mateus. Ela tentou se suicidar por causa dele há alguns meses atrás e agora está internada numa clínica.

 — Nossa... — Sofia estava surpresa com o meu breve relato. — Que pesado.

 — Muito — concordei.

 — E esse irmão dela? Também tem esse tipo de problema?

 — Não sei. Eu não o conheço — respondi, sincera. — Só acho meio estranho encontrar ele por aqui, bem perto do meu bairro.

 — Deve ser só coincidência.

 Sofia não sabia, mas desde que comecei a namorar com Mateus, aprendi que, na maioria das vezes, nada era mera coincidência.

 No instante seguinte, Leandro saiu de perto do poste e começou a caminhar na nossa direção em passos curtos. Meu coração começou a disparar quando ele cortou a distância entre nós duas e desviou alguns centímetros, mantendo os olhos escuros sobre mim.

 Eu engoli em seco, incapaz de desviar o olhar.

 Leandro esboçou um meio sorriso quase imperceptível e finalmente passou por nós, nos deixando para trás.

  Eu soltei o ar e Sofia disse, após alguns segundos:

  — Ok... isso foi estranho.

  — É melhor a gente sair daqui.

  — Boa ideia.

 Sofia e eu começamos a andar em passos rápidos pela praça, e sem conseguir conter a minha curiosidade, eu olhei para trás. Para a minha surpresa, Leandro estava parado feito uma estátua no meio do caminho, os olhos misteriosos voltados para as minhas costas.

 Eu olhei para frente novamente e torci para que tudo aquilo que acabou de acontecer fosse mesmo mera coincidência.


   

 

 

 

 

 

Sombrio e Intenso - Livro 2 (DEGUSTAÇÃO) Where stories live. Discover now