Dias do futuro presente

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O Homem-Café bem parecia uma múmia. E sua pele, onde era possível ver, não apresentava mais o negrume escuro como piche. Estava separado do composto alienígena que havia lhe conferido poderes. Em outras palavras, agora era apenas uma pessoa comum, sem poderes.

A o silêncio da sala de recuperação foi rompido pelo ruído do conjunto de pequenos motores hidráulicos que davam movimento ao exoesqueleto de Timelapse. Café reconheceu seu rosto, apesar de estar muito envelhecido com os cabelos grisalhos e muitas rugas na testa e em torno dos olhos.

Coffeeman! Are you ok? — indagou o herói do alto de sua armadura. Queria saber se o brasileiro estava bem.

— Já tive melhor — ele respondeu num inglês com forte sotaque, mas compreensível. Algo do tipo: Veri gude, dê buqui is on dê taibul, e assim por diante.

— É uma loucura! Não achei que fosse dar certo, mas aqui está você.

— Como assim, Vagalume? O que se sucedeu comigo? — Café estava confuso, mas lembrou-se do velho apelido que ele deu a Timelapse quando eles faziam parte da liga. Café tinha um apelido para cada um dos membros e muitos deles pegavam.

Ele sorriu, mas seu sorriso era apenas um meio sorriso. Timelapse não tinha a mesma força e controle sobre os músculos da face.

— Tem gente que ainda me chama disso, Coffeeman... Como lhe explicar? É muito complicado. Então vou ser direto. Treze anos atrás você morreu combatendo um vilão na capital do Brasil. Eu e os colegas do Projeto Lázaro conseguimos trazê-lo de volta.Tecnicamente, nós evitamos sua morte. Retiramos seu corpo antes que estivesse morto e colocamos um outro no lugar. Enfim, o salvamos de uma morte horrível.

Café ficou em silêncio por alguns momentos. A explicação foi simples o suficiente. Ele compreendeu, mas então, foi tomado por uma profunda angustia.

— Treze anos?

— Sim, meu amigo. Trabalhamos por mais de dois anos, somente para a sua recuperação. Estamos aperfeiçoando os procedimentos. Contando com você, já são quatro os que conseguimos trazer de volta.

— Mas.. Por que eu? Olhe para mim? Eu só apenas um cara comum agora. Não tenho mais poderes. Pra que gastá tanto tempo e dinheiro nisso?

Timelapse deu outro meio sorriso.

— Descanse amigo. Assim que estiver melhor, você vai ficar sabendo. Acho que seus dias de herói ainda não acabaram.

Cerca de uma semana depois, Café já estava melhor e caminhava ao lado de Timelapse e outros cientistas pelos longos e, aparentemente infinitos, corredores do complexo subterrâneo da SPIA. Timelapse veio logo cedo dizendo.

— Ótimas notícias para você, Coffeebud. Hoje será um dia especial.

Café estava deprimido. Na sua semana de recuperação tornou-se obcecado pelo noticiário brasileiro. Não demorou para assimilar novos recursos disponíveis na internet. Não só viu muitas notícias de atualidades do Brasil, como fez uma pesquisa em jornais dos últimos treze anos. Nada havia melhorado. Não tinha certeza, mas suspeitava que as coisas estivessem ainda piores. Corrupção e impunidade continuavam em alta. Escândalos de roubo bilhonário levando à prisão de copeiros, porteiros, pilotos, laranjas diversos, nas nunca dos verdadeiros responsáveis.

Timelapse tentava animá-lo — Eu nem leio mais as notícias, Coffeepal. Terrorismo, países envolvidos em genocícios e guerras selvagens, tudo amaciado pela mídia e no dia-a-dia, todos continuam indo trabalhar em seus escritório, assistindo TV, vendo seus filmes, viajando para o Havaí, como se o sofrimento ao redor do mundo fosse só mais uma ficção que vemos na TV.

O Retorno do Homem-CaféHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin