Capítulo 15 - A Adaga Infinita

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— Nossa herança mágica - disse Mabel.

— Exato - disse Cosmos. - nos momentos finais, em meio à muita dor e sofrimento, Erin e Sorenta recitaram uma maldição que atingiu Zero no mesmo instante. A magia deu ao irmão cruel a vida eterna. Seria algo vantajoso para ele não fosse por um pequeno detalhe: Zero estava condenado a viver na imortalidade sentindo cada dor que tinha causado até aquele momento, física e emocional. E cada sofrimento que causasse dali em diante.

— Meu Deus, que horror - Rafaelo deixou escapar a surpresa.

— É mesmo horrível. No mesmo instante que recebeu a maldição Zero teve um surto de dor e desabou no chão. Mesmo em uma arena enorme, o som era ampliado por técnicas relativamente simples de ensinarmos nos dias de hoje. Na época o acesso a elas era bem limitado. Dizem que os urros de dor foram tão assombrosos que as pessoas presentes sentiram ecoar dentro de suas almas.

— Então quer dizer que o Zero está... - Ian começou a falar, mas teve a frase completada por Higino.

— ... vivo?

— Depois de todos esses anos? Milênios? - perguntou Norah.

— Isso é apenas uma lenda - disse Fortuna.

— A gente ouve isso desde pequenos - reclamou Êmalin.

— Ouvimos isso há muito mais tempo, menina - interrompeu Ariel. - meus avós e os avós deles já ouviam essa história. É de fato a mais antiga e a que mais se propaga em Terraforte.

— É só algo que contam durante os anos e que todos aqui conhecem. Mas nunca vimos nada à respeito. Se ele é imortal, onde está até hoje? - perguntou Azélio.

Cosmos andou de volta até a mesa do seu gabinete e segurou com as duas mãos um enorme livro com capa dura revestida de folhas secas e escuras. Ele o abriu e parou de folhear logo no início. Virou as páginas na direção de todos, se aproximando deles mais uma vez.

— Está tudo aqui, relatado por uma testemunha ocular. O único general que sobreviveu. Esse mesmo general - ele disse, fazendo uma reverência para Mabel e Estéfano. - se aproximou de Zero logo depois que o rei foi atingido pela maldição. Enquanto aquele ser maligno se contorcia no chão, o general criou uma adaga a partir de um pequeno espinho que tinha guardado consigo e a cravou no coração de Zero com toda a força que ainda restava. No auge do desespero por ver todos morrerem, ele sequer deu conta de que a maldição já tinha sido lançada.

— Então Zero não morreu, certo? - perguntou Ian.

— Certo - respondeu Cosmos. - mas ficou gravemente ferido. Um golpe no coração, não é? Quem ficaria ileso, meu jovem? Tudo que se via na arena era o sangue de Zero, jorrando sem parar. E não estou exagerando. Estando amaldiçoado com a imortalidade e com a gravidade da punhalada, o sangue não estancaria nunca mais.

— O quê? Como assim? - perguntou Higino, assustado. Todos compartilhavam do mesmo sentimento.

— Isso mesmo. Zero foi condenado a viver para sempre com o sofrimento extra de uma punhalada no coração. E ainda sentir seu sangue esvair sem poder fazer nada.

— Mas em algum momento o sangue iria acabar - lembrou Rafaelo.

— Sim, mas vamos lembrar que ele foi amaldiçoado - disse Estéfano.

— Então quer dizer que a maldição também fez ele sangrar eternamente? - perguntou Ricardo.

— Vamos dizer que nosso rei malvado não teve sorte - comentou Cosmos, dando um sorriso. - logo depois de ser golpeado, Zero ainda teve mais um problema. O corpo de Sorenta se desfez ao virar água e deixou apenas os dois bebês que estavam em seu útero, que vieram ao mundo desta forma. Estavam envoltos em uma esfera de luz muito poderosa feita por Erin, que também se estendeu para o general sobrevivente. O Triângulo Real de Zero não conseguiu se aproximar e em instantes, os recém-nascidos e o único general que restou desapareceram em meio a um enorme clarão preenchido com o choro dos rebentos. Não se sabe ao certo qual foi o motivo, talvez tudo junto, fato é que depois disso o povo que assistia na arena se rebelou contra Zero e seus subordinados. E em poucas horas, todos os reinos estavam unidos em uma guerra contra aquele rei desprezível.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Where stories live. Discover now